Roberto 06/08/2015
Nada Extraordinário
A despeito do trocadilho com o título exaustivamente reproduzido a respeito desse livro, preciso começar pontuando que Extraordinário não tem nada de extraordinário. Muito pelo contrário, seu enredo absolutamente comum – sobretudo nos dias de hoje – mais parece uma reformulação do clássico conto do Patinho Feio. Mais uma vez somos apresentados a um personagem diferente dos demais (dessa vez ele tem uma deformação craniofacial acentuada), o que o afasta do convívio social. Nesse romance, R. J. Palacio aborda o bullying sofrido pelo protagonista August em sua primeira experiência escolar, aos 10 anos de idade.
As novidades realmente ficam de fora de “Extraordinário”, mas, ao longo de sua leitura leve e agradável, destaquei alguns trechos que me chamaram atenção por ilustrar tão bem a mentalidade da criança, suas opiniões e reações, bem como também as mesmas coisas pela perspectiva de uma criança que sofreu e sofre com o bullying. Essa remontagem é o aspecto no qual levarei esse livro como uma boa referência.
Gostei também do pano de fundo da trama principal. Enquanto acompanhamos o primeiro ano escolar de August, esbarramos nos conflitos adolescentes de sua irmã, Olivia. A autora optou por rotacionar, mesmo que de forma irregular, a narração entre seus personagens, o que possibilitou criar essa outra dimensão narrativa.
Contudo, preciso concordar também com as críticas de que alguns elementos do livro soam artificiais e previsíveis. Isso não chega a incomodar tão profundamente a leitura a ponto de interrompê-la, mas em seu curso você vai percebendo o ordinarismo da história e como alguns elementos se encaixam nela de forma pouco crível. Dificilmente a história de August, na vida real, tomaria o mesmo rumo que no livro.
Para ser sincero, a aclamação generalizada desse romance me incomoda um pouco. Ela me deixa a sensação de que o público tem se acostumado com uma literatura infantilizada e a reverenciado como obras de grande significado. Dito isso, não é minha intenção desmerecer ou desprezar o texto de R. J. Palacio. Na verdade, acho que ele é uma opção interessante para o público infantil. A linguagem simples e o tema atual e próximo da vida escolar ajudam a transformar esse livro num bom incentivo à leitura dos menores. Fora isso, a conclusão (moral) que depreendemos do livro é de fácil absorção e difícil de objetar.
Por fim, depois de terminado, “Extraordinário” me parece um livro bastante ordinário numa perspectiva literária mais ampla. Como uma obra infanto-juvenil, no entanto, fica como uma opção de leitura simples, rápida e dinâmica que vai discutir o bullying, um tema atual de abordagem essencial entre os mais jovens.