Aquela que tá olhando pro céu 12/07/2021
Cativadores eternamente responsáveis
Ler este livro pela segunda vez foi uma experiência especial, e diferente da primeira leitura em muitos termos. O principal foi o idioma. Arriscar o meu inglês autodidata num clássico britânico me fez vez por outra ir buscar palavras no dicionário e compreender algumas sentenças mais pelo sentido que palavra por palavra, mas, certamente, estar mais próxima da mensagem original de Antoine foi emocionante.
O livreto narra a sensível e metafórica história do piloto de avião que queria ser um desenhista quando criança - e que infelizmente só sabia, por muito tempo, desenhar jibóias do lado de dentro e do lado de fora - e o caminho cruzado com o pequeno e extraordinário menino nos apresentado como Pequeno Príncipe. Ele nos conta as aventuras deste pequeno em busca de um sentido e significado, de algo que este não encontrava antes em seu planeta - um desejo premente e uma fuga esquisita deste de sua amada e incompreendida Rosa. O caminho percorrido dentre os diferentes planetas-asteróides e as figuras icônicas encontradas pelo Príncipe levam o leitor à mergulhar numa profundidade inesperada em um livro infantil - se é que podemos dizer que Pequeno Príncipe é um livro essencialmente infantil.
A cerne da estória é a compreensão de nós mesmos, a mente humana e suas profundas reverberações no mundo àfora. Como somos regidos por pequenas escolhas que fazemos consciente ou inconscientemente, criando limites só existentes por nossa própria atitude. Pelo menos, é isto o que eu sinto quando leio este livro. Aliás, é apenas uma parcela da poesia que ocorre dentro de mim ao ler as palavras de tom tão terno, puro e inocente: como geralmente são as crianças!
Não é possível para mim escrever aqui um dicionário de termos e explicações acerca da obra. Acredito que não estou nem perto de compreender totalmente a mensagem! Fiquei me perguntando, pela segunda vez, enquanto lia: será que as ovelhas que comem baobás e flores representam algum tipo de pensamento, sentimento, atitude? Ou são exemplos de sujeitos? Afinal, o que é a flor? Os baobás? E a cobra? Por que alguns adultos estão em asteróides e outros na Terra? Quem são os pais do príncipe, e por quê ele é tão triste? Acho que sei a resposta para a última. Ele estava muito só.
Mas como toda boa poesia, não é necessário que eu compreenda tintin por tintin para que eu me sinta tocada e possa entender a mensagem do livro. Acredito que, acima de tudo, a lição que tiro é de que só se vê bem com o coração, porque o essencial é invisível aos olhos. Nunca devo deixar que morra a criança que mora dentro de mim, permitindo que ela guie meus passos sempre que possível, assim como uma visão mais leve do mundo, e mais sensível. Como é importante ter empatia! Também aprendo como palavras são poderosas, devendo ser usadas para construir, não destruir. Aquele desenho não era um chapéu, era uma jibóia que engoliu um elefante, ponto de exclamação !
Outras coisas importantes: é importante ser flexível e adaptável às circunstâncias da vida. Não devo me perder em vícios e em ciclos abusivos e viciosos, preciso quebrar o ciclo e cuidar de mim. Só devo ordenar se for razoável. Os números não são as coisas mais importantes. Coisas efêmeras são tão importantes como as perenes, montanhas e flores devem ser escritas em nossos "livros de geografia".
Aliás, da Flor aprendo que amar é um ato consciente e lindo, mas que necessita de atenção, cuidado, carinho, afeto, paciência, humildade, responsabilidade... E maturidade. É possível amarmos e não sabermos amar ao mesmo tempo. E isso pode doer muito!
É impossível não constar aqui neste texto que, depois de ler este livro, você irá amar mais o pôr do Sol e talvez chore um pouco ao assistí-lo. Sobre chorar, também aprenderá que depois de cativar alguém ou ser cativado, você pode chorar um pouco. Faz parte da beleza. Mas cativar é importantíssimo. Certamente a lição mais preciosa. Quando cativamos uma pessoa, algo único e especial surge. E isso deve ser cuidado com carinho e atenção, é premente! Certamente, somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos! e aceitamos este desafio. Aceitamos a condição. Afinal, é o que nos faz sorrir ao olhar o céu estrelado, ver campos dourados ou o riso solto de alguém amado. Cativar é deixar-se ser tocado pela luz do outro. É ser vulnerável, se entregar. Exige coragem. Muita coragem. Mas é uma das coisas mais lindas, e à muito esquecidas.
Perfeito, sem dúvidas!
Lerei novamente em alguns anos para ver se ganho novas perspectivas :) (e talvez entenda qual é a da ovelha!)