Helder 14/01/2014Não sou perfeito, eu não esqueçoEsta frase faz parte da musica Teatro dos Vampiros do Legião Urbana e é mais uma das pérolas perfeitas criadas por Renato Russo.
Ao terminar o livro 19 Minutos de Jodi Picoult, esta frase me veio a cabeça muito forte. Acredito que se o homem tivesse a capacidade de esquecer, sua vida seria muito mais tranquila.
Este livro me fez pensar bastante sobre a maior fraqueza do ser humano: O Ego. Ouso até dizer que o EGO é o nosso órgão mais fraco. É mais suscetível do que o fígado a um pacotinho de batatas fritas. São poucos aqueles que conseguem ligar a tecla f... e viver deixando qualquer coisa para lá.
O ser humano é um bicho incomodado e cruel por natureza. Ele precisa se auto afirmar. Precisa ser aceito e ser querido. São poucos os que conseguem viver sozinhos e tranquilos sem a necessidade da opinião alheia. E a cada geração esta necessidade de socialização parece ficar maior. Assim como a crueldade do homem.
Quem nunca sofreu bullying?? Mas quantos já mataram por isso? Pelo que me lembro, eu sempre fui extremamente tímido e me senti um peixe fora dagua até mais ou menos a minha 6ª serie, onde digamos , encontrei o meu nicho de mercado. Mas na minha época os ícones e padrões a serem seguidos eram menores. Mas sinto que o tempo deixou as crianças mais cruéis, e isso deve ser uma característica do nosso capitalismo selvagem. Cada vez é mais importante ter e parecer, e existem filmes e programas de TV que criam ídolos e modas a serem consumidas, e assim moldam padrões a serem seguidos. Ai quando alguém sai desta curva, ele corre o sério risco de ser banido. E olha que aqui estou falando de Brasil. Imagina o nível de competição e de padrão a ser buscado e seguido em um país competitivo como os EUA?
Hoje tenho 2 filhos e me preocupo muito com isso. Como pai, acho que posso ajuda-los nesta inclusão social, mas por outro lado, existem sempre características pessoais que devem ser respeitadas. Meu filho mais velho era extremamente tímido, assim como eu era e antes de mim meu pai também. Porém hoje já está mais solto e as vezes me parece que ele é o líder da gang. Mas devo me orgulhar dele ser o líder ou devo manter o sinal aceso, prestando atenção se hoje ele não desrespeita aqueles que agem exatamente como ele fazia??
E é este o tema deste livro de Jodi PIcoult, que sempre escolhe temas polêmicos para escrever. Confesso que esperava mais, pois normalmente a autora costuma nos deixar perdidos sob diversos pontos de vistas, onde ninguém está 100% certo ou errado. Normalmente conseguimos nos colocar em diversos papeis, e quando nos atentamos, percebemos que agiríamos tanto quanto o mocinho como quanto o bandido, digamos assim, por mais que os livros de Jodi não tenham estes estereótipos bem definidos e detalhados.
O livro conta a estória de Peter e Josie. Peter é zoado pelos meninos mais velhos desde o primeiro dia em que vai para a escola. E Josie sempre o defende. Enquanto criança eles são os melhores amigos, até que na adolescência, Josie percebe que também pode ser popular, e acaba deixando Peter de lado. E ele continua sendo perseguido pelo grupo, até que uma hora estoura e comete uma chacina.
Como discussão de uma chacina, o melhor livro já escrito continua sendo Precisamos Falar Sobre Kevin. Mas ali, a chacina vinha da maldade, e essa tinha um fundo genético. Aqui o criminoso não é mal. Foi como se tivesse funcionado como uma panela de pressão.
Com relação a este livro, para mim ficou um pouco a dever. Achei que o livro discutiria mais outros pontos de vistas, tipo a liberação do armamento nos EUA, a posição fraca da escola para evitar o bullying, a presença da família para evitar o bullying, etc. De quem é a culpa deste tipo de reação tão comum nos EUA nos últimos anos??
Mas achei a discussão um pouco superficial. Acho que Jodi poderia ter pegado mais pesado nos diversos dilemas morais, tipo a juíza Alex que fora ajudada pela mãe de Peter quando Josie nasceu e agora tem que julgar o menino. O advogado de defesa que tem um filho pequeno e aceita uma causa mesmo sabendo que existem diversas provas de que o réu matou e feriu diversas pessoas. As próprias vitimas que nunca fazem uma autocritica sobre se suas atitudes não foram as motivadoras de tamanha explosão. Os pais das vitimas que também deveriam fazer uma autocritica sobre suas parcelas de culpas ao enxergarem somente anjos em seus filhos. A escola, podia ter feito algo para evitar isso?
A discussão que mais se aprofunda é sobre o papel dos pais. Os pais são culpados pela ação do filho? Foram omissos ou muito permissivos?
Mas mesmo com estes defeitos para o padrão Jodi Picoult, este é um livro muito interessante e que prende a atenção. E como disse acima, a autora consegue fazer o leitor vestir diversas camisas durante a leitura e conseguimos sentir a dor de Peter, de Josie, dos pais, de Alex.
No fim existe uma pequena surpresa que me mostrou definitivamente o problema causado pelo Ego. O medo de não ser aceito talvez seja um dos maiores perigos que nos cercam. Nós , como pais devemos estar extremamente atentos a isso. Com certeza eu quero que meu filho seja o líder e seja querido, mas preciso ensiná-lo a respeitar os outros sempre.
Fica a dica!