Coisas de Mineira 15/08/2019
Sem querer começar dando spoilers, mas meio que já fazendo isso: esse é um dos melhores livros de ficção científica que eu já li na minha vida toda. Não é muito um spoiler, eu sei. Mas é a mais pura verdade. E eu vou dizer porque. Michael Crichton é um gênio. E não, eu juro que não estou exagerando.
Apesar de O Enigma de Andrômeda ser o seu primeiro livro lançado, Michael é um dos escritos de sci-fi mais populares de todos os tempos. E, claro, não é pra menos: ele é o autor do célebre Jurassic Park! Na conta dele também temos: O Mundo Perdido, ER — Plantão Médico, Runaway: Fora de Controle. Ele também dirigiu Westworld em 1973. Algumas de suas outras adaptações são: Assédio Sexual, Linha do Tempo, Congo, A Esfera, O 13º Guerreiro e, claro, O Enigma de Andrômeda.
Vale ressaltar, também, que Cricthon era um romancista, diretor, roteirista, produtor e diretor. E não para aí: ele era formado em Medicina pela Universidade de Harvard. Por isso, várias de suas obras possuem um grande embasamento científico e biológico. É o caso, afinal, de O Enigma de Andrômeda, escrito em 1969.
E ainda não havia acontecido uma crise biológica. A variedade Andrômeda proporcionava a primeira. Segundo Lewis Bornheim, uma crise é uma situação na qual um conjunto, antes tolerável de circunstâncias, de súbito, pela adição de outro fator, torna-se inteiramente intolerável. Se o fator adicional é político, econômico ou científico pouco importa.
Além disso, a obra foi adaptada para um dos mais reais e assustadores filmes do gênero, em 1971. Posteriormente, em 2008, o livro foi novamente adaptado, dessa vez para uma minissérie de TV estrelada por nomes como Viola Davis. Apesar de menos conhecida ainda do que o filme, a série foi indicada a seis prêmios Emmy!
Chegando com uma nova edição, pela Editora Aleph, em 2018, o livro é irresistível. A capa verde e as páginas com bordas pretas chamam muito a atenção. Não apenas chama a atenção, mas a mantém com grande firmeza. Crichton possui uma grande habilidade narrativa, capaz de manter o leitor com os olhos grudados nas páginas por horas sem fim.
Não são poucas as obras que tratam de invasão, descoberta e contato alienígena, dentro ou fora do nosso planeta. Temos obras incríveis, com abordagens completamente variadas. Temos aliens para todo gosto: pacíficos, agressivos, destruidores e apenas observadores. Temos aliens legais, que interagem com os seres humanos e às vezes só querem voltar pra casa.
Às vezes via o homem, com seu cérebro gigante, como o equivalente aos dinossauros. Todo estudante do primário sabia que os dinossauros haviam crescido para além de si mesmos e se tornado grandes e pesados demais para serem viáveis. Ninguém jamais pensara em considerar se o cérebro humano, a estrutura mais complexa do universo conhecido, fazendo demandas fantásticas ao corpo humano em termos de alimentação e sangue não seria idêntico.
Porém, a história tratada neste livro é única e completamente diferente de tudo o que já foi visto até hoje. É uma das formas de alienígenas mais interessantes (e talvez até mesmo uma das mais possíveis, dentro da realidade) que já nos foram apresentadas. A Variedade Andrômeda é uma entidade que não possui interesse em negociar, conhecer ou desbravar um novo mundo.
Desde o começo, Crichton manipula o ambiente do livro para que seja o mais crível possível. A fim de proporcionar uma imersão sem igual, até os agradecimentos do livro nos levam a crer que a história é, de fato, real. Quando li, cheguei a abrir a boca de susto e pensei: caramba, isso aconteceu de verdade?! Claro que, com cinco minutos no Google eu descobri que não.
Todavia, está ali, escrito. E apenas essa intenção já foi suficiente para que eu compreendesse a profundidade do trabalho de Crichton. A partir daí, a cada vez que abria o livro, eu me transportava para o período e o local da história. Sentia todo o medo e a ansiedade de quem estava ali, vivendo aquela crise.
Porque inegavelmente, essa é a primeira crise biológica da história. Ela é desencadeada quando um satélite feito justamente para captar microorganismos numa órbita próxima à Terra cai em uma cidadezinha minúscula do Arizona. Piedmont possui 48 habitantes e 46 são mortos logo após a queda do satélite Scoop VII.
A partir daí, mais pessoas se envolvem. O que era para ser apenas uma experiência se torna um pesadelo. Claro, os habitantes da cidade ajudaram a detonar a crise: quando a cápsula cai, eles a capturam e a abrem, liberando o microorganismo que posteriormente seria nomeado de variedade Andrômeda.
Eventualmente, o programa Wildfire é acionado. E ele se trata justamente disso: lidar com uma contaminação biológica do planeta. Existem grandes estruturas, gigantescos investimentos da NASA e do governo americano já previamente pensados para lidar com essa crise.
Embora o foco seja a Variedade Andrômeda, é muito interessante ver como os personagens são bem trabalhados ao longo do livro. Dentre todo o suspense, podemos conhecer melhor os quatro homens que são responsáveis pela sobrevivência ou aniquilação da vida como conhecemos. Progressivamente, podemos compreender melhor seus medos, capacidades, qualidades e defeitos.
Decerto, as reflexões propostas pelo livro não são poucas. Sequer pequenas. Frente a um universo tão amplo e desconhecido, qual a relevância real da humanidade? Até que ponto realmente queremos descobrir outras formas de vida? Será que o progresso não apenas da ciência, mas da inteligência humana, estão mesmo nos conduzindo rumo a um futuro melhor?
Todas estas perguntas surgirão na mente do leitor. E, mais ainda, causam um certo temor e um certo desconforto para a vida real também. Afinal, mesmo sendo ficção, a verossimilhança da obra de Crichton com a realidade é enorme. E acredito que essa é uma das qualidades mais intensas do escritor. Ele sabe bem do que fala e nos passa todo esse conhecimento, causando a sensação incrível de realidade.
É claro que, se você não gosta de ficção científica, o livro pode parecer um pouco cansativo. Mas sua leitura é muito fluida e muito fácil, mesmo com todos os termos médicos e as descrições científicas. As páginas são levemente amareladas, no já conhecido papel pólen. O livro não é grande demais nem pequeno. Fácil de segurar e fácil de carregar na mochila ou na bolsa.
Seja você um fã de sci-fi ou não: O Enigma de Andrômeda é um livro que, definitivamente, vale a pena. Não apenas pelo suspense, pela emoção ou pela forma diferente de abordar um tema que já é bastante amplo. Mas também pela forma maestral com que o autor conduz os acontecimentos e como envolve o leitor. A atmosfera de tensão e a vontade de descobrir o que acontece a seguir comandam cada virada de página e, sem dúvidas, é impossível não ler até a última letra com a respiração acelerada.
Por: Victoria Rigotti
Site: www.coisasdemineira.com/resenha-o-enigma-de-andromeda-michael-crichton/