O filho eterno

O filho eterno Cristovão Tezza




Resenhas - O Filho Eterno


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regifreitas 30/07/2013

O homem e o pai
Sempre considerei o Cristovão Tezza um bom autor, embora nunca o achasse excepcional. Porém, esse texto foi uma grata surpresa. Talvez por se tratar de uma reflexão/revisão sobre fatos da vida do próprio autor, o livro carrega uma pungência e uma beleza que não consegui enxergar em suas outras obras. Trata-se de um depoimento corajoso de um pai tentando descobrindo formas de interagir e aceitar o filho portador da Síndrome de Down, principalmente o relato de suas frustrações por não ter uma criança “normal” em casa. Muitas vezes a vergonha e a raiva que esse fato representava para sua vaidade de intelectual e escritor está presente, a figura desse filho que nunca poderia alcançar graus de abstração e desenvolvimento cognitivo superiores a de uma criança – logo, seria uma criança eterna. Até a constatação final: “Quem precisa de normalidade é o pai, não os filhos, ele pensará anos depois [...] ali está meu filho estudando o melhor modo de subir no banco do carro, as mãos e os pés tateando o caminho quase que por conta própria, sem o auxílio da cabeça. Pensa na teimosia: o seu filho é teimoso. Faz parte da síndrome, ele sabe, a circularidade dos gestos e das intenções, que se repetem intensivamente como um disco riscado que não sai de sua curva – mas o pai também é teimoso, e mais obtuso ainda, porque sem a desculpa da síndrome” (p.127-128). Trata-se, definitivamente, da jornada de transformação de um homem em um pai. Merecidamente premiado com o Prêmio Jabuti de 2008.
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Aline 19/05/2013

Lindo!
No início da leitura, quando alguém me perguntava sobre o que se tratava esse livro, eu apenas respondia: "Ah, é sobre um pai que tem um filho com síndrome de down...". Mas a cada página, eu descobria que esse resumo era muito simplório para a o texto que tinha em mãos. De forma bem envolvente, posso dizer que ele trata da metamorfose de um homem em pai, de um homem com medos, sonhos, desejos... E, mais do que isso, nele encontrei reflexões interessantes sobre a passagem do tempo, sobre o sentimento de vergonha, questões que eu mesma tenho e, talvez por isso, eu me identifiquei bastante com o texto (apesar de não ter filhos).
Recomendo!
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 17/03/2013

Cristovão Tezza - O Filho Eterno
Editora Record - 224 páginas - lançamento 2007.

A metaficção ou mais diretamente neste caso, autoficção, de Cristovão Tezza, consciente ou não, é um recurso que, sendo bastante utilizado na literatura contemporânea, quase sempre gera bons resultados nas mãos de um autor que saiba dominar a tensão existente entre realidade e ficção. No entanto, Tezza extrapolou todos os limites com esta arriscada e premiada experiência literária chamada "O Filho Eterno" que ganhou todas as disputas nacionais de 2008, como por exemplo: Portugal Telecom, Jabuti e São Paulo de Literatura, além de ter sido traduzido em vários idiomas.

O romance, narrado em terceira pessoa, utiliza como matéria-prima dados biográficos do próprio Tezza: as dificuldades na escrita de seus primeiros livros, as realizações e frustrações da carreira literária, a vida como imigrante ilegal na Europa e, principalmente, sua experiência com o filho, portador de sídrome de Dawn, o que pode parecer chocante em diversas passagens devido ao grau de exposição, praticamente confessional do autor. A expectativa feliz pelo nascimento do primeiro filho em contraste com a sensação de dor e desamparo ao receber o duro choque da constatação de que algo estava errado.

"Súbito, a porta se abre e entram os dois médicos, o pediatra e o obstetra, e um deles tem um pacote na mão. Estão surpreendentemente sérios, absurdamente sérios, pesados, para um momento tão feliz — parecem militares. Há umas dez pessoas no quarto, e a mãe está acordada. É uma entrada abrupta, até violenta — passos rápidos, decididos, cada um se dirige a um lado da cama, com o espaldar alto: a mãe vê o filho ser depositado diante dela ao modo de uma oferenda, mas ninguém sorri. Eles chegam como sacerdotes. Em outros tempos, o punhal de um deles desceria num golpe medido para abrir as entranhas do ser e dali arrancar o futuro. Cinco segundos de silêncio. Todos se imobilizam uma tensão elétrica, súbita, brutal, paralisante, perpassa as almas, enquanto um dos médicos desenrola a criança sobre a cama. São as formas de um ritual que, instantâneo, cria-se e cria seus gestos e suas regras, imediatamente respeitadas. Todos esperam."

Cristovão Tezza chega a ser cruel em diversos momentos da narrativa, como quando faz com que seu protagonista confesse ter desejado a morte do próprio filho ou na descrição fria do comportamento sem esperanças de melhora da criança que vive em um presente eterno, roubando as esperanças de "normalidade" sonhadas pelo pai.

"Pai e mãe conversam como se não houvesse nada diferente acontecendo, até que um pequeno surto de depressão aflore, e então um breve gesto do outro repõe a normalidade possível, numa balança compensatória. A ideia — ou a esperança — de que a criança vai morrer logo tranquilizou-o secretamente. Jamais partilhou com a mulher a revelação libertadora. Numa das fantasias recorrentes, abraça-a e consola-a da morte trágica do filho, depois de uma febre fulminante."

No longo caminho de aprendizado dos pais com o filho, a personalidade do menino, que afinal é uma criança extremamente amorosa, acaba conquistando o respeito e carinho a que tem direito, mas obviamente não é uma relação simples e que possa ter um tratamento de "final feliz" como seria tentador esperar. Um livro inesquecível e comovente que nos faz pensar sobre o limite entre ficção e realidade e a responsabilidade da literatura com a verdade.
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Victor Simião 08/01/2013

O Filho Eterno é um livro eterno
O Filho Eterno, quando foi lançado, mexeu com o mundo da literatura de maneira positiva. Ele recebeu vários prêmios, como o Prêmio Jabuti de melhor romance; Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) de melhor livro de ficção; Prêmio Bravo! como o Livro do Ano; Prêmio Portugal-Telecom de Literatura em Língua Portuguesa; Prêmio São Paulo de Literatura de melhor livro, e alguns outros.

Além disso, o livro foi traduzido para o francês e também foi premiado naquele idioma. Lá, ele recebeu o Prêmio Charles Brisset, concedido pela Associação Francesa de Psiquiatria.

Nossa! Quanto prêmio, né?! Isso mostra a qualidade da obra!

O Filho Eterno é um livro que você lê e, perdão pelo trocadilho, leva para a eternidade. De prosa marcante, o livro leva leitor à reflexão por conta de sua história.

Baseando-se na própria experiência de ter um filho com Síndrome de Down, Cristovão Tezza publicou o livro em 2007 pela Editora Record.

A obra, que é escrita em terceira pessoa, conta a história de Felipe, um menino que nasceu com Síndrome de Down – na época chamado de Mongolismo, e de um pai frustrado por ser um escritor que nunca publicou nada relevante.

Um detalhe na escrita, é que somente o nome do Felipe é apresentado. Nome de outros parentes ou pessoas não são mencionados. Apenas a função que cada um desempenha, como pai, mãe, tio.

O pai vivia, no começo dos anos 80, nas custas de sua esposa. Ele foi um jovem rebelde, que pensou que poderia mudar o mundo enquanto vivia em uma comunidade teatral, que era quase um grupo hippie, e morou em Portugal durante a Revolução dos Cravos, e na Alemanha, onde passou algumas situações inusitadas, que são contadas no livro.

Se antes do nascimento do primeiro filho, o pai já era uma pessoa amargurada com a vida, após o nascimento do Felipe, o desgosto aumentou. Isto porque o menino nasceu com Síndrome de Down, algo que não era esperado pelos pais – e principalmente por ele. Além disso, a doença era mal-vista na época. Poucos lugares eram preparados para saber lidar com pessoas com este tipo de deficiência.

O menino, que era para ter vindo ao mundo para trazer esperança ao pai, trouxe decepção. Por vezes, o pai, por conta da decepção de ter um filho diferente, tinha esperança que seu filho iria morrer. Só assim ele pensava que poderia voltar a ser feliz, ou menos triste.

Sua vontade de ver o filho morto era tanta, tanta, que ele já imaginava como forjaria a tristeza, como choraria lágrimas falsas, como receberia as condolências dos amigos próximos, mesmo sabendo que, no fundo, era aquilo que ele queria.

Entretanto, a morte de Felipe não veio. Com o passar do tempo, o pai começa a buscar alternativas. Uma delas é a esperança de que os médicos erraram e Felipe não tem a síndrome, ou que o Felipe, se for bem tratado, irá se curar e poderá ser normal, como qualquer outra criança. O que não acontece.

Felipe, com o passar do tempo, vai se desenvolvendo. Pouco, mas vai. Ele aprende a desenhar, a balbuciar algumas palavras, vai à natação. Entretanto, o pai não consegue aceitar. Além do mais, o pai continua escrevendo livros e recebendo respostas negativas das editoras, enquanto trabalha como professor universitário.

O nascimento do segundo filho, que na verdade é uma menina, e sem nenhum problema, o amadurecimento como pai, a carreira acadêmica, a publicação de um romance bem aceito pela crítica (Trapo), fazem com que o pai comece a entender quem realmente é Felipe.

A história é realmente fascinante. Somente quem a lê, sabe o prazer que a escrita de Tezza pode proporcionar. Realmente incrível!

Resenha publicada originalmente no blog literário Caçadora de Livros.

http://www.cacadoradelivros.com/2012/12/o-filho-eterno-cristovao-tezza.html
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Nícolas 29/12/2012

Eu não sei bem a impressão que esse livro deixou em mim. Pra falar a verdade, ainda sou imaturo para uma história desse calibre. Muitos aspectos subjetivos não consegui compreender. Além disso, não gostei do intrincado de arcos na história, com suas viagens ao passado; por isso seu ritmo pra mim é alternante. Apesar disso, a história principal - o relacionamento do inominado narrador com Felipe - vale muito mais que o resto.
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Rayllana 10/11/2012

O filho eterno
O livro conta a História de Felipe, um garoto com síndrome de Down, que sofre preconceito do seu próprio pai, o narrador da história.
Um escritor, que ao descobrir que seria pai, deposita toda sua expectativa no nascimento do filho, imaginando assim o rumo que sua vida vai tomar, e as conquistas que o filho irá realizar, seu filho seria o que ele não foi na vida. Quando a criança nasce e descobrem a doença, o mundo do pai desaba, toda sua expectativa transforma-se em raiva. O pai culpa-se por não amar o filho, mas vê-se desesperado quando o pequeno foge de casa, percebendo então que era dependente da criança. Uma história chocante, emocionante e verdadeiramente surpreendente.
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Canafístula 12/10/2012

O Filho Eterno, por Cristovão Tezza
Devo dizer que esse livro me decepcionou. E muito. Ao concluir a leitura, estava morrendo de raiva da personagem principal – que, ao contrário do que todos pensam, não é o filho, é o pai – e fiquei com mais raiva ainda quando descobri que o livro é autobiográfico.

Primeiramente porque o livro parcamente fala do filho. O autor desfia sua vida inteira durante toda a história – não que isso não seja relevante, mas ele foi superior ao filho o livro inteiro – e o filho do qual deveria falar o livro, só ganha maior destaque nas partes finais. Totalmente contraditório com relação ao título da obra. Chega ser engraçado porque ele mais evita o filho do que fala dele.

O autor permanece nos mesmos sentimentos, nos mesmos pensamentos a história inteira. Ele só se lamenta, fala de suas frustrações e fica só nisso. Álias, o título deveria ser “o lamento eterno” porque né.

Creio que esse livro seja tão aclamado porque é uma história real – Tezza relatou com extrema sinceridade o que sentiu ao ter um filho com síndrome de down. Ele chegou a pensar até em MATAR o filho porque simplesmente não o aceitava. Ficava fantasiando doenças que ele poderia desenvolver para morrer cedo. Poxa, sei que deve ser complicado ter um filho especial, mas isso já é demais. Se eu tivesse um filho com down, eu o amaria mais ainda e não ficaria desejando sua morte precoce, como fez o autor em grande parte do livro.

Além do mais, não curti muito a narrativa do livro, o modo como o autor escreveu a história. Achei bem maçante. Mas esse não é o grande problema da obra: se tivesse sido tudo o que prometia (com tantos prêmios e mimimis) eu não teria me importado com esse detalhe. Mas querer matar o filho só porque tem down e ficar falando só de si enquanto deveria focar NO FILHO foram as gotas d’água pra mim.

Eu tinha grande expectativa com esse livro – tanto é que citei ele em outra resenha de livros obrigatórios da UFRGS – porque quando li que falava da relação entre pai e filho com down, fiquei animada, pensei que iria ver uma história de amor e tudo o mais, mas vi exatamente o contrário. Só vi a história inteirinha do pai (culpando a esposa pelo filho deficiente, bebendo pra esquecer, se lamentando por cartas de recusa de editoras) e só vi parcamente o filho no final – e esse só ganha destaque porque acaba fugindo e se perdendo. Fico me questionando: se o filho não tivesse fugido, ele teria ganhado esse pequeno destaque?

Não recomendo. Esse livro entrou no meu hall de obras “não entendo porque fez o sucesso que fez”.

Essas e muitas outras resenhas você encontra no blog A Última Canafístula. Visite http://aultimacanafistula.blogspot.com/
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Pablo 02/10/2012

RESUMO
PUBLICAÇÃO: 2007

ESTRUTURA: 25 capítulos não numerados.

NARRAÇÃO: em 3 pessoa- FOCO NARRATIVO: pai
Autoficção - ficcionalização de uma experiência pessoal

Pai sem nome: PAI/ELE

Distanciamento autor X narrador (só sou interessante se me transformo em escrita).

ESPAÇO/TEMPO: plano linear, Brasil 1980-2006/ flashbacks anos 1960-1970.

TEMA: Pai tem um filho chamado FELIPE, com síndrome de down e precisa lidar com isso;
Aceitação dos problemas do filho = aceitação dos problemas do próprio pai;
Apagamento da figura da mãe;
Reavaliação da vida e das escolhas que fez;
Aceitação das diferenças;
Crescimento/Amadurecimento do pai = necessita de enfrentar o mundo;

APRESENTAÇÃO DO PAI: 28 anos, homem de letras, sustentado pela mulher, vive em um mundo mental, imaturo, teimoso, idealista, egoísta, inconsciente (sempre é possível recomeçar).

FILHO: ideia de filho, nascimento do filho = homem/euforia - filho = prenúncio.

NOTÍCIA DA SÍNDROME DE DOWN: fato eterno e inevitável - impossibilidade de recomeço.

1 REAÇÃO - REJEIÇÃO/VERGONHA
Ideia salvadora: crianças com down vivem menos.

CONTATO COM A ANORMALIDADE X DESEJO DE NORMALIDADE: histórico de recusa pessoal à normalidade.

EXAMES DE REAVALIAÇÃO: esperança de erro/cariótipo/cardiopatias/confirmação da trissomia.

ESPECIALISTAS/PROGRAMAS DE ESTIMULAÇÃO: treinamento - contato físico

MUDANÇA DE CASA/NOVA GRAVIDEZ: episódio do fusca - teimosia (pai-filho).

AFASTAMENTO: 2 anos em Florianópolis/ Professor concursado

DESENVOLVIMENTO MOTOR X LINGUAGEM PRECÁRIA: fonoaudióloga, crise no trânsito, primeira palavra "PUTA" - responsabilidade e influência do pai em seu descontrole.

RETORNO A CURITIBA: Felipe na creche/ livros publicados/ necessidade de escola especial.

DESAPARECIMENTO DE FELIPE: descoberta da dependência/desespero/dificuldade social.

SALTO TEMPORAL: Felipe = Peter Pan - não envelhece/ incapacidade de abstração.

TEATRO: vida como teatro

TALENTO DE FELIPE: a afetividade (momento de reviravolta)

FELIPE E A PINTURA: estilo - expressa uma visão do mundo

FUTEBOL: amor comum/ estímulo

NOÇÕES: personalidade/derrota - fidelidade
novidade/imprevisibilidade - futuro
socialização/geografia/calendário/alfabetização

PRIMEIRA METÁFORA: "Vão ver o que é bom pra tosse". Abstração jogo para começar - desconhecimento do futuro = bom.
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Tarcísio 20/09/2012

Há algum tempo desejava conhecer a obra de Cristovão Tezza, autor bastante elogiado. E nada melhor do que começar com seu livro mais conhecido, "O filho eterno", ganhador de vários prêmios.

Inicialmente tudo leva a crer que todo o enredo gira em torno do filho do protagonista, que nasce com Síndrome de Down. Apesar de realmente boa parte do texto descrever o impacto para os pais da notícia de um filho "anormal", das dificuldades de aprendizagem e de socialização da criança, tal assunto é pano de fundo para que o pai externalize suas angústicas, seus medos, suas fragilidades e, por que não, suas qualidades.

A narrativa parte, em diversos momentos, de alguma situação cotidiana para rapidamente voltar-se a uma análise interior do protagonista. É como se fossem duas estórias sendo contadas ao mesmo tempo: uma do filho e outra do pai.

Em alguns raros momentos o texto torna-se um pouco cansativo e fora de foco, mas nada que prejudique a experiência positiva da leitura. Independente de qualquer coisa, o livro valeria apenas pelo seu final, onde o autor, de forma magistral, descreve como o futebol acabou sendo uma das melhoras ferramentas para a evolução de seu filho com Down.

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sobota 06/08/2012

Quando a coragem faz a literatura
Na epígrafe escolhida para O filho eterno (2007), Cristovão Tezza (1952) usa a frase de Thomas Bernhard para fornecer uma chave à leitura de seu romance: “Queremos dizer a verdade e, no entanto, não dizemos a verdade. Descrevemos algo buscando fidelidade à verdade e, no entanto, o descrito é outra coisa que não a verdade”.

Ora, na obra de um autor até então notadamente confessional (mas não biográfico), a mistura de realidade e ficção é tão profusa que não há motivos para deixar claro o que é uma, e o que é outra. O recurso a Bernhard autoriza o leitor a pensar o que quiser nesse sentido. Em O filho eterno, toda a questão se inverte: com uma história claramente verossímil que ignora os limites entre ficção e realidade, a concentração do leitor passa em grande parte à brutalidade do relato.

“Mas não é uma tarefa simples ou fácil”, escreveu o próprio Tezza, catarinense de nascimento e curitibano por formação.

CONTINUE LENDO!
http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/06/quando-coragem-faz-literatura.html
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Leonardo 09/07/2012

Muitas razões para ler, todas elas válidas
Disponível em http://catalisecritica.wordpress.com/

Desde que li O Fantasma da Infância eu aguardava ansiosamente a oportunidade de ler outra obra de Cristovão Tezza, respeitadíssimo escritor brasileiro. Seu livro mais premiado é O filho eterno, em que ele relata sua experiência de ter um filho portador de Síndrome de Down. Finalmente pus as mãos nele e é possível compreender o porquê de tantos prêmios. Cristovão Tezza entrega ao leitor sua alma. Impossível ler O filho eterno e não se lembrar das Confissões de Santo Agostinho, preservando, naturalmente, cada um em seu devido lugar.

Tezza não é o primeiro pai de uma criança com Down, qualquer um sabe disso. Muito certamente não foi ele o pai que passou por mais momentos difíceis ou que viveu mais aventuras. O que ele narra não entra no campo dos fatos extraordinários. Há duas diferenças, contudo, na sua experiência de pai, que tornam a leitura desse livro tão pungente: primeiro, Tezza é um grande escritor, e segundo, a honestidade de seu relato é desconcertante.


O livro é narrado numa terceira pessoa disfarçada, aquilo que se costuma chamar de discurso indireto livre: o autor descreve as ações dos personagens, sempre do ponto de vista do personagem principal, mas também se imiscui em suas emoções e pensamentos. E o personagem principal é um homem sem nome: um escritor que de envergonha por muito tempo de preencher fichas e colocar “escritor” como ocupação; que escreveu poesias que julga péssimas; que se sente transparente demais; que é tímido; que se sente culpado por não saber como lidar com seu filho com Síndrome de Down.

“A porta se abre e uma jovem médica residente, gentil, os recebe com um sorriso – olha com um carinho maternal para a criança, que dorme suave no colo da mãe. É preciso preencher alguns papéis, ela diz, em tom amigável. Ele se sente um animal chucro, puxando o pescoço para se livrar do freio na boca, aquela prisão incômoda que o arrasta para trás: responder a perguntas idiotas diante de uma mesa, há sempre uma invasão de intimidade – o que você faz, do que você vive, quem você pensa que é -, e aquela irritante compreensão humanista dos que têm poder mas o usam com moderação. Aceite a regra do jogo, é o que eles dizem.”

Sem autoindulgência, Tezza rasga seu coração com confissões tocantes. Não, ele não quer levar ninguém às lágrimas, nem vender mais livros ao incluir declarações polêmicas. A impressão que tive é de que O Filho Eterno é o mea culpa de um pai que ama muito seu filho, mesmo que ao longo de todo o livro não tenha precisado escrever isso uma única vez.

O pensamento que lhe veio quando soube da condição de seu filho pareceria cruel se não fosse tão verdadeiro e humano. As falhas do pai-escritor são relatadas lado a lado com sua luta diária, vivendo sempre o presente, nem passado, nem futuro, enxergando dez metros à frente.

Enquanto narra esses fatos, Tezza mostra que o livro também é sobre ele ao relembrar fatos de sua vida, desde suas experiências de trabalho e roubo na Alemanha, suas aventuras de hippie, sucessivas rejeições de seus originais, as cervejas com os amigos, o primeiro livro publicado.

Escrito num ritmo irresistível, o livro acompanha os vinte anos de seu filho sem que você perceba como o tempo vai passando. É quase impossível parar de ler.

Abaixo uma passagem em que Tezza, crítico e autocrítico, analisa o futebol, uma das paixões de seu filho eterno:

“Nesse universo repetitivo, o futebol foi lentamente se transformando num estímulo poderoso. O futebol, esse nada que preenche o mundo, o pai imagina, logo o fotebol, uma instituição de importância quase superior à da ONU e que ao mesmo tempo congrega em sua cartolagem universal algumas das figuras mais corruptas e vorazes do mundo inteiro, um esporte que onde quer que se estabeleça é sinônimo de falcatrua, transformado num negócio gigantesco e tentacular, criador de mitos de areia, a mais poderosa máquina de rodar dinheiro e ocupar tempo jamais inventada, a derrota final das inquietações do dasein de Heidegger, o triunfo definitivo das massas, o maior circo de todos os tempos, vastas emoções sobre coisa alguma – o pai vai se irritando sempre que pensa, escravizado também ele àquela dança defeituosa que jamais completa mais de cinco lances seguidos sem um erro, um esporte que sequer tem arbitragem minimamente honesta até mesmo por impossibilidade do olhar dos juízes de dar conta do que acontece (em todos os jogos do mundo acontecem falhas grotescas), e no entanto urramos em torno dele, a alma virada do avesso – pois o futebol, essa irresistível coisa nenhuma, passou lentamente a ser para o Felipe uma referência de sua maturidade possível.”

O poder de observação de Tezza acrescenta ao livro, como demonstrado no trecho acima, um sabor próprio. Pensando nas limitações do seu filho, por exemplo, ele diz que o menino jamais seria capaz de formular uma frase na voz passiva. Pequenas informações como essa que dão vida a uma história, que dão também valor literário à narrativa.

É possível apontar diversas motivações para ler O Filho Eterno: qualquer uma delas faz a leitura valer a pena.

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Mário 27/05/2012

Sensacional!
O romance é maravilhoso! Eu o li sem compromisso, após recomendações da escritora Beth Brait em seu livro: Literatura e outras Linguagens. Cristovão Tezza além de um grande contista é estudioso da linguagem e usou a língua portuguesa de forma linda e refinada. O livro força o leitor a refletir sobre o afeto e a razão. A doença de Felipe, protagonista da história, acaba ficando em segundo plano, quando percebemos a construção belíssima dos personagens: um pai e um filho.

Tezza parabéns pela obra! Digno dos prêmios recebidos. Eu, também, fiz questão de assistir a peça com o ator Charles Fricks aqui em São Paulo - no Sesc Consolação. A peça é esplêndida, o ator é ótimo e o diretor também, pois me trouxe ainda mais reflexão sobre esse mundo de relações que temos entre pais e filhos. Ótimo livro pra ser discutido e vivenciado em sala de aula.
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Pa 24/02/2012

É um drama familiar. Um escritor fracassado (?) tem de lidar com o nascimento de um filho com sindrome de down, à época conhecido como mongolismo.
É narrado o preconceito próprio do pai, bem como da sociedade; a dedicação do pai para com o filho e ao mesmo tempo sua vergonha.
A comunicação falha entre pai e filho. Entre filho e mundo. Entre escritor e leitores.
Filho e pai vão ao poucos criando vínculos mais estreitos, o pai sente a veneração do filho quando se abraçam, e percebe o amor que sente pelo filho quando esse some.
Há quem diga (e são muitos) que não passa de uma auto-biografia de C. Tezza.

" Um filho, antes de ser um filho, é a idéia de um filho."
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Inácio 23/02/2012

O filho eterno, segundo o Caótico
publicado originalmente no blog Caótico: www.caotico.com.br


Afundei na rede sob o peso de uma bigorna imaginária. E ainda estava na página 27 do livro. Mais uma página, mais outra e outra, agora mais devagar para não me distrair, para não deixar escapar uma vírgula sequer.

A respiração sempre pesada. A custo, avancei até o final do capítulo. Mais adiante não consegui ir. Pelo menos não naquela noite.
Abandonei o livro e a rede com a falta de ar de quem acaba de levar um soco no pé da barriga, na boca do estômago. Só retomei a leitura no dia seguinte e não a larguei mais.

Há tempos um livro não entra nas minhas veias e não sai dos meus pensamentos como O filho eterno, de Cristovão Tezza. Em poucas páginas, soube que estava lendo um romance fundamental, um clássico publicado há menos de cinco anos.

Do autor já tinha ouvido falar dos seus prêmios, do seu nome sempre presente na programação de tudo quanto é evento literário. De tanto folheá-lo em livrarias de aeroportos, acabei mergulhando de cabeça exatamente no seu livro mais premiado. Voltei à tona com a sensação de que há justiça nessas premiações.

Como é possível constatar nas dezenas de resenhas, críticas e sinopses que é possível encontrar na internet, Tezza converteu em literatura sua experiência pessoal a partir do nascimento do seu filho com síndrome de Down.

O romance é narrado em terceira pessoa, recurso técnico que permitiu ao autor manter o narrador distante de sentimentalismos. Ao longo do relato, o leitor acompanha o amadurecimento do pai autor/personagem e da sua relação com o menino. Essas informações também se repetem nos sites que encontrei. Mas, cá entre nós, tudo isso não diz muito de um livro que me deixou do jeito que deixou.

No pai ansioso, prestes a descobrir que papel deveria desempenhar como pai e como marido da mulher que acabou de parir, me vi há exatos 18 anos, quando Pedro nasceu, às 9h de um 18 de dezembro.
No sujeito que sente-se sempre deslocado, claustrofóbico num trabalho e numa vida que não é a sua, me vi nos últimos 10 anos, enclausurado em reuniões e mais reuniões que jamais me interessaram, apesar do meu fingimento.

Nos trechos em que o pai se percebe como um espelho do filho, um homem inseguro, incompleto em tudo que faz, com dificuldades em mudar de direção, de abstrair e fazer as coisas de outro modo, cheguei a anotar ao lado, de lápis: “Esse cara tá dentro da minha cabeça”.
Rabisco semelhante ao que, agora, existe em meu exemplar nos trechos em que o narrador descreve como se refugiava da própria insegurança no humor ou no discreto sentimento de superioridade de quem leu um bocado de coisas.

A opção de não escrever em primeira pessoa permitiu a Tezza que se expusesse ao extremo, com uma coragem sem igual. Sua linguagem é crua, sem qualquer resquício de autopiedade, pieguice nem culpa. Ele revirou as vísceras de sua dor e as expôs como literatura.

Antes da publicação, ele temia que seu livro fosse encarado como uma autoajuda para filhos de pais especiais (clicando aqui você assiste a um vídeo em que ele revela isso). É preciso muita má-vontade para reduzi-lo a apenas isso.

Felizmente os críticos literários e as comissões julgadoras também foram atingidas na boca do estômago, como prova 0 artigo de Marcelo Coelho, na Folha de S. Paulo que encontrei em minhas chafurdações.
Ao “dar nome às coisas” com pontaria certeira, Cristovão Tezza proporciona aos seus leitores a possibilidade de se reconhecer e crescer junto com seu pai-personagem. Foi assim que saí da leitura, sentimento que, em anos recentes, lembro de ter me tomado ao ler Crime e Castigo na tradução de Paulo Bezerra e, depois, A trégua, de Benedetti.
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