Tribo do Livro 15/01/2014
Por Paloma Oliveira
Tem algo melhor do que começar o ano com um livro pós-apocalíptico? Um não, dois, pois é o segundo que leio do gênero este ano.
A primeira reação que eu tive ao receber “Na companhia das estrelas” foi dizer: Meu Deus do céu, que capa linda! Ela é meio metálica, meio mágica, é uma obra incrível! E depois de você ler a história, você percebe que a capa conseguiu pegar cada pedacinho da narrativa. Eu achei um arraso! Melhor até do que a capa original.
Mas vamos às apresentações. Mais uma vez o mundo é devastado por uma doença que dizimou cerca de 99% da população. Ou mais. Hig, ou Big Hig de acordo com a sua intimidade, escapou da gripe e consequentemente perdeu todos os amigos, familiares e conhecidos para ele. Até a esposa. Big Hig vive agora em um hangar de um pequeno aeroporto abandonado com seu avião dos anos 1950 – O Fera –, seu inseparável melhor amigo Canino, Jasper - que possui grandes habilidades, não duvide dele -. Além de seu único vizinho Bangley, que segundo a sinopse, odeia a humanidade, ou o que restou dela. Ah! E um caminhão de Coca-cola.
Na minha opinião, essa definição do Bangley foi errônea. Afinal, imagine-se em um mundo com 99% da população dizimada, onde sobrevive o mais forte e o que se adapta, onde não existe mais supermercado! Os que não conseguem se virar, tentam roubar os que conseguem. O caso não é odiar a humanidade. É conhecê-la e por conta disso, tentar sobreviver de qualquer forma, tentando sofrer os menores riscos possíveis. O que na língua de Bangley se resume em “atire primeiro, pergunte depois”.
O livro é dividido em três partes. Eu fiquei um pouco receosa porque inicialmente, ele parecia ser... chato. A descrição ambiental era monótona, Hig e Bangley eram entediantes e só o Jasper salvava. Parecia que não tinha futuro pra narrativa, que não tinha esperança, que não tinha nada! Foi no fim da primeira parte, que eu percebi que foi tudo proposital. Tudo parecia chato, tudo parecia lento, tudo parecia sem esperança porque a vida do Hig estava assim.
(...) Coloquei a mosca na vara, amarrei um pedaço de fio de náilon ao anzol, pus uma isca artificial e peguei quatro carpas grandes em poucos minutos. Deixo a mosca de baixo rolar pela água, a isca de mosca-d’água em cima vai sendo levada pela corrente com facilidade, depois com um pequeno puxão, movimentou-se rapidamente, não chegava a ser um solavanco; percebi que a carpa estava mordendo a isca de baixo e então puxei o anzol. Ela lutava sem o vigor de uma truta, mas com uma relutância triste e lenta, como uma mula fincando seus cascos. Ela não corria contra a correnteza ou se enfiava entre galhos de uma árvore caída, simplesmente se recusava a se mover, o que não tinha graça, mas depois não era mais engraçado e comecei a admirar seu estoicismo. Uma recusa apática ainda a ser absorvida pelo universo.
Como nós.(...)
Depois de um acontecimento um pouco previsível, na minha opinião, a vida do Hig mudou, a mente dele despertou-se, ele foi retirado daquele modo sobreviver e começou a ficar mais ativo, ter mais personalidade, tanto ele quanto Bangley. Foi nesse momento do livro em que eu virei fã de carteirinha do Bangley e defensora de todas as suas ações. Foi nessa parte também que surgiu no coração de Hig um sentimento que há muito tempo estava sendo massacrado. A esperança. E foi isso que mudou completamente a história e a minha opinião sobre esse livro.
Porque a terceira parte de Na Companhia das estrelas significa o renascimento, a esperança, a humanidade. É na terceira parte em que você fica encantado com cada descrição poética que Hig faz, você fica encantado com o modo de ele viver, de ele tentar viver nesse mundo que, querendo ou não, acabou. Mas renasceu. É aí que você para pra pensar que Peter Heller foi incrível! Ele fez a narrativa de uma forma evolutiva, desde o fim até o reinício.
E se todos nós pararmos pra pensar, não é preciso fim do mundo. Acontecem diversas coisas em nossas vidas em que perdemos a esperança e tudo fica chato, monótono e entediante. E precisa de um só acontecimento, pra tudo mudar. Pra sacudir nossos ombros e voltarmos a caminhar, voltarmos a reviver. E esse foi o maior ensinamento que eu cultivei desse livro. É uma obra incrível.