spoiler visualizarBrilho 07/10/2013
Esse era um livro que procurei pra ler sem pensar duas vezes assim que vi a sinopse, pois me interessei pela temática: Mundo devastado, humanidade em extinção, sobrevivência em pequenos grupos e muito mais, aquela coisa toda. Foi uma leitura agradável e rápida, tendo em vista a quantidade de páginas, porém o único problema é que esperava uma história mais movimentada, uma história de ação, e não um drama.
Peter Heller nos introduz no seu planeta Terra onde grande parte da população sucumbiu diante de uma epidemia patológica que se assemelhava a uma forte gripe. A doença surgiu como uma ameaça de modo desconhecido, em seguida passou a contaminar inúmeras pessoas mobilizando planos de contenção organizados até que os hospitais e enfermeiros não eram mais suficientes para auxiliar todas as pessoas que surgiam. Eles mesmos eram contaminados e cada vez mais a doença se espalhava, até que as pessoas largaram tudo por medo e segurança: emprego, estudos e afins, com o intuito de se juntarem a suas famílias e se protegerem, e assim o caos se instaurou, se tornou completo. Pessoas passaram a viver na estrada, saqueando comida e outras coisas que teriam utilidade em sua sobrevivência, saqueando inclusive outras pessoas, além de estuprarem e assassinarem sem precedentes até mesmo por um raro fardo de Coca-Cola, visto que o planeta inteiro parecia com os dias contados.
Nove anos depois de tudo isso ter início é onde inicia a história com o foco sobre a vida de Hig. Um sujeito de coração bondoso que tinha por profissão ser empreiteiro, uma esposa maravilhosa, uma boa casa, um cachorro dócil, e tudo o que uma vida estável pode oferecer. Tudo antes do mundo ir por água abaixo. Sua adorável esposa foi contaminada pela gripe e gradativamente foi enfraquecendo e definhando, até que solicitou a Hig que ele mesmo acabasse com seu sofrimento dando uma forcinha com um travesseiro, e ele assim o fez. Já o cachorro, Jasper, permanece vivo e sendo o único companheiro de Hig, além é claro do seu novo vizinho Bangley.
Big Hig gostava de voar e era um piloto hábil em suas horas vagas quando tinha uma vida normal, e após perder a esposa pegou suas coisas, seu cão Jasper, e resolveu ir para o Hangar onde mantinha seu pequeno avião e viver por lá, e assim o fez. Tempos depois surgiu Bangley em um veículo lotado de armas e logo ganhou sua confiança e passaram a viver em parceria. Viviam no pequeno aeroporto Hig e Jasper no Hangar e Bangley numa das edificações próximas, todos em perfeita sintonia. Hig era incumbido de sobrevoar a área periodicamente para observar se grupos de pessoas estão invadindo seu perímetro a fim de atacá-los; Bangley mantinha a responsabilidade de permanecer em postos com suas armas de longo alcance pronto para atingir qualquer estranho que adentrasse seu antro sagrado, visto que era um excelente atirador; e Jasper, que era um precioso companheiro de ambos mesmo sendo um cão pelo fato de ter olfato e audição.
Bangley é extremamente antissocial e sempre atira primeiro e pergunta depois. Todas as pessoas que se aproximam do Hangar ele enxerga como ameaça a segurança e estabilidade deles, é uma pessoa que se tornou fria e calculista por conta dos dias terríveis que viveu quando era do exército e também quando era sobrevivente nas ruas quando o caos teve início. Hig já é mais compassivo e já viu a morte passar diante dos seus olhos e ser salvo por seu companheiro muitas vezes pelo fato de não ter naturalidade dele de tirar a vida de outrem. Inclusive há um segredo entre Hig e seu fiel companheiro Jasper: Quando sai para voar em busca de recursos periodicamente aterrissa próximo a uma aldeia onde só há pessoas contaminadas a fim de levar alimentos e utensílios para eles. Não, ele não é maluco, apenas se preocupa com essas pessoas que são extremamente frágeis e estão a beira da morte. Ele aterrissa e vai ao encontro do pessoal da aldeia a uma distância segura de 5 a 10 metros, e deixa os itens no meio dessa distância. Em seguida retorna para a distância segura e o pessoal vem buscar. Conhece a todos, mas não pode se aproximar. Uma realidade triste para ambos, ainda mais para essas pessoas que não podem nem mesmo agradecê-lo com um abraço.
Em um dos voos Hig recebe um chamado de um local um pouco distante chamado Grand Junction, vindo de outro avião ou aeroporto. Esse comunicado o anima demais e desperta interesse em voar até lá, mesmo se tratando de um local desconhecido e sem combustível o suficiente para o tal, para conhecer quem estiver lá e tudo o que há lá. Bangley prontamente se mostra contra a ideia e Hig sossega. Até que numa de seus passeios pelas proximidades algo terrível acontece, que se eu disser vai ser um baita spoiler. Essa infelicidade faz com que ele perca a vontade até mesmo de viver naquele dia-a-dia igual, e decide desbravar novos ares e ir em busca do sinal que recebeu de longe. Assim Hig parte e deixa Bangley cuidando de seu refúgio, nesse passeio Hig conhece dois novos personagens que são muito carismáticos e vêm para preencher demais a história. Infelizmente se eu disser mais que isso a história perde a graça, pois o que movimenta bastante a leitura é justamente o elemento surpresa.
Só gostaria de finalizar dizendo sobre a história que é bonita, em alguns momentos cansativa, mas a leitura é agradável e você dá continuidade sem parar até encontrar o fim do livro. Há muitas menções e passagens de poesias, pois Hig é apaixonado por elas, e desde que perdera sua mulher ficara ainda mais fascinado em escrever e ler as suas favoritas que encontrou em livros que resgatou ao fugir para o meio do mato. Hig também divaga bastante, vive imaginando como seria a continuação de sua vida se nada tivesse acontecido, e é cheio de ficar observando o céu e as estrelas inventando seus próprios nomes para as constelações. Por isso o título para a obra: Na Companhia das Estrelas. E por isso o título original Dog Stars, junção de cachorro e estrelas. De forma inédita gostei mais do nome brasileiro.
Sobre capa achei a arte bem bonita! No mais o livro é muito interessante e legal. Mesmo esperando um livro repleto de ação me agradou bastante como drama. O autor até então desconhecido por mim conseguiu me surpreender, redige muito bem e não é muito formal nem muito informal, sua escrita é agradável. A única coisa que me irritou um pouco e eu não consegui me adaptar de jeito nenhum é a ausência de travessões nas falas. Assim as vezes confundia fala com pensamento e ação, mas parece que foi proposital pra termos uma ideia de que pode ser que nem tudo o que está escrito ali realmente aconteceu, as vezes pode ter sido algum devaneio do personagem, ou um sonho, visto que a obra enfatiza bastante o pensamento dos personagens e seu psicológico no meio de tudo o que está acontecendo.
A qualidade da obra cresce exponencialmente a medida que a história avança. O começo é parado e um pouco chato, do meio pra frente é fantástico, e quando Hig encontra os dois personagens novos fica ainda melhor e dá bastante movimentação à história. Leiam, mas deixem as grandes expectativas de lado para não atrapalhar sua leitura e dar espaço a decepção.Saiba apreciar a obra conforme ela avança com sua história.
Citações:
"(...) era um sonho por trás do sonho, e antes do antes havia um sonho por trás disso. Dentro da parte de dentro. Sonhando. (...)"
"Não se pode metabolizar a perda. Ela está nas células do rosto, no peito, atrás dos olhos, nas entranhas. Músculos, tendão, ossos. É você inteiro."
"Isso tem cheiro de quê? Alegrias. E o cheiro é sempre o cheiro em si, e a lembrança também, não sei por quê."
site: www.brihodasestrelas.com.br