May Tashiro | @slcontagiante 14/11/2014‘Lendo e Relendo’ Sete Dias Sem Fim, de Jonathan TropperOlá!
Sabe aqueles seus parentes chatos, intrometidos e bisbilhoteiros? Aquele vizinho que adora um motivo para ir fofocar dos outros na sua casa? Ou suas ex-namoradas, ou namorados, que surgem do nada, logo depois que você foi traído por sua mulher que estava transando com seu chefe sabe-se lá desde quando? Não?! Pois Sete Dias Sem Fim vai lhe ensinar a como lidar com esse tipo de gente. Não, não é autoajuda, mas sim um dos romances mais tragicômicos que você poderá ler esse ano.
Judd Foxman pegou sua mulher traindo-o com seu chefe. Ele não quer acreditar no que seus olhos estão vendo, não quer ver o que viu e nem consegue expressar a raiva e a dor que está sentindo. O choque de ver e de tentar acreditar nessa possibilidade nos é passado nos mínimos detalhes, e é um dos momentos mais paralisantes do livro! Eu tenho a sensação de já ter passado por isso, o fato de você ver mas não querer acreditar.
Então, Judd saiu de sua casa e foi viver em um porão, perdeu seu emprego – não por ter sido demitido, mas por ter dado um show ao tacar uma cadeira no seu ex-chefe –, e vive arquitetando planos de como acabar coma felicidade de sua ex-esposa e do cretino que roubou seu lugar. Nessa depressão toda ele recebe uma trágica notícia.
De todas as coisas terríveis que estão acontecendo na vida de Judd, seu pai morrer deveria ser ‘simplesmente’ um problema fácil de resolver. Enterre-o, receba os pêsames e volte para casa. Cruel? Não, os Foxman são incapazes de expressar sentimentos, seja em momentos dramáticos ou não! Cheios de sarcasmo, ironia e planos de fuga, eles conseguem tornar qualquer evento numa grande piada.
Porém, o pai de Judd tem um último desejo: que os quatro filhos e a esposa se reúnam na casa onde viveram e cumpram a shivá – uma cerimônia judaica de sete dias de luto. Sete dias com seus três irmãos e sua mãe nada normais não é pra qualquer um. Eles não conseguem passar sequer um dia sem acabarem em algum tipo de briga, imagina sete! E Judd acabou de se tornar a ovelha negra da família, roubando o posto quase permanente de seu irmão mais novo.
Os irmãos de Judd são uma coisa… Wendy, a única mulher dos quatro, é casada com um babaca, têm três filhos e construiu um mundo paralelo que reflete o futuro que ela deveria ter tido. Paul é um cara grosseiro, tem um ódio profundo de Judd e é o filho que permaneceu nas asas da família para tocar os negócios do pai. Phillip – o meu irmão favorito – é um vagabundo, mulherengo, vive arranjando encrenca e namora com sua antiga terapeuta, uma mulher respeitada e cheia do dinheiro (hum… tá pra ti!).
Mas o real problema da família Foxman é a sua matriarca. A mãe de Judd, Hill, é uma autora best-seller de livros sobre como criar seus filhos. Ela utilizou suas próprias experiências ao criar seus filhos para escrever seu livro – uma história recheada de momentos desagradáveis que geraram muito bullying. Além disso, Hill é uma mulher sem filtro algum, não existe tema tabu que não vaze de sua boca em segundos, não há segredos na família que não possam ser discutidos à mesa de jantar e não há privacidade que não possa ser quebrada num piscar de olhos, através da análise dos lençóis, ou de escutar conversas telefônicas.
Já deu para sacar que sete dias com essa família tem tudo para acabar em desastre! Mas além do lado cômico, Judd vai ter muito o que pensar sobre seu futuro e passado, sobre seu casamento e o seu pai, e as crises dessa fase turbulenta pela qual está passando sua vida.
Nunca pensei que poderia existir uma família tão louca quanto a minha, mas Jonathan Tropper superou qualquer expectativa que eu tinha sobre o que é ter uma família problemática e hilária. O livro tem muito humor, mas também é trágico. O equilíbrio entre esses dois fatores o tornou inesquecível. A narrativa acontece de tal forma que você se sente na pele do Judd, já que é ele que narra a estória em primeira pessoa. É tão envolvente que você fica paralisado ao descobrir a traição, ri e chora sem perder a piada da vida e o extremo pessimismo do personagem principal.
Como nem tudo são flores, o livro tem muitos flashbacks longos no início. O autor dá um gostinho no início da família Foxman, mas aí entra um flashback comprido, quando na verdade eu queria ter mais, e o mais depressa possível, o resto da família e a convivência entre eles. Já na segunda parte do livro, levando em conta depois da página 150, tem um flashback que poderia ser melhor desenvolvido, mas ficou frustrante o fato de ter sido tão rápido. E, mais frustrante ainda é o final… Não que seja ruim, mas é um daqueles finais incertos! Eu me apeguei tanto a todos os personagens que queria saber cada mínimo detalhe de suas vidas depois daqueles sete dias retratados.
Eu gostei muito do livro, gostei dos personagens e, fora os detalhes acima, eu gostei de como foi trabalhado o enredo. E, para os meus queridos não leitores e fãs de cinema, o livro ganhou adaptação para as telonas, com estreia para o dia 27 de novembro.
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