Bruno Gaspari 05/08/2010
(estou tomando a liberdade de escrever uma resenha dos dois volumes aqui. Tomem cuidado pois podem existir alguns spoilers, mas nada demais. Não revelei nada relevante da trama. Levem em conta que o quesito gosto é bastante evidente aqui antes de me crucificar.)
Desde criança eu vejo, empilhados primeiro na estante do meu pai e durante bom tempo na minha, todos os livros da saga das bruxas Mayfair, iniciados pelo “Hora das Bruxas”, que na edição brasileira se dividiu em dois volumes, mas que no exterior são um livro só. Não me darei ao trabalho de escrever duas resenhas, uma para cada livro. Motivo? Eles simplesmente não merecem esse tipo de atenção.
Sempre tive muita curiosidade pela série, já que meu pai, meu irmão mais velho, e grandes amigos meus do colégio simplesmente veneram essa série (uma delas inclusive incluía Mayfair em qualquer nick possível e imaginável na internet) que eu estava convencido que seria, no mínimo, um livro realmente interessante. Também nutria relativa simpatia pela Anne Rice, cujo dois outros livros que li (“Entrevista com o Vampiro” e “A Rainha dos Condenados”) me agradaram.
Bem, apesar de ter o primeiro volume, fui obrigado a alugá-lo na biblioteca porque minha cunhada estava com ele. A edição estava reencardenada com uma capa dura bastante desagradável que dificultava a leitura por ter de manter o livro aberto ao máximo. Devia ter levado essa dificuldade como presságio...
Para começar, dou risada de quem ousa dizer que Charles Dickens carrega o texto em demasia. Anne Rice faz questão de encher essa obra com a maior quantidade de repetições e redundâncias que eu já vi num livro. É simplesmente inaceitável. Eu cansei de ler as mesmas passagens repetidas centenas de vezes ("ela era vista acompanhada de um jovem senhor"; "eu vi alguem com ela, vin sim!"; etc). Ainda bem que alguns pontos acabam por puxar relativamente a atenção do leitor durante as quase 1000 páginas da edição brasileira (1207 da americana), mas, infelizmente, esses mesmos pontos na maioria das vezes se transformam em absurdas e completas decepções conforme a história prossegue.
Posso nomear apenas poucas qualidades desse livro, e elas são: as narrativas sobre Lasher contidas nos arquivos da Talamasca; Julien Mayfair; Stuart Townsend. Só. Lasher é um caso a parte. Ele é um personagem que, inicialmente, era terrivelmente ambíguo, o que é sempre interessante: ele surgia como uma constante ameaça aos inimigos da família, como um ser protetor, uma entidade que não parecia ser boa nem má. No entanto, o desenvolvimento dele na narrativa é um horror. A protagonista é outro grande problema aqui. Ela é uma personagem o livro todo, mudando completamente de opinião e de juizo de valores nas últimas 30 páginas, se opondo a tudo construído no resto.
Se eu recomendaria esse livro para alguém? De jeito nenhum! Se Julien tivesse um livro próprio, faria questão de lê-lo, com a devida cautela, claro, mas nada vai me sujeitar a suportar os outros dois volumes da saga, Lasher e Taltos. Tomei a liberdade de ler spoilers sobre eles na Wikipédia e estou muito feliz de deixá-los empoeirar na estante. Talvez até coloque num ponto mais baixo, pra faxineira passar batido, pois é isso que esse livro merece.