Letícia 15/01/2018A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao, escrito pelo dominicano naturalizado estadunidense Junot Díaz, foi muito aclamado pela crítica desde o seu lançamento em 2007, vencendo o Prêmio Pulitzer de Ficção em 2008.
Com a morte de Oscar decretada no título do livro, ler sobre o personagem obeso, nerd e 100% virgem (nem um selinho o moço ganhou) me fez pensar que esta seria uma história sobre suicídio, na mesma linha de Os 13 Porquês, já que a narrativa se dá – à primeira vista – pela reconstrução da vida do rapaz até sua morte. Esse é e não é o formato da narrativa ao mesmo tempo… É difícil explicar, mas Oscar é o ponto central que motiva o surgimento das demais narrativas, mas a história não é apenas sobre ele, e sim sobre sua família, com foco nos períodos de 1930 a 1961 (a ditadura de Trujillo) e da Diáspora, o êxodo de dominicanos para o mundo em busca de uma vida melhor. A família de Oscar procura refúgio nos Estados Unidos, assim como muitas – MUITAS – outras.
No início, conhecemos a realidade da família no país desenvolvido e tudo o que se refere à República Dominicana são histórias, realidades e pessoas repletas de violência, machismo e sexo. Às vezes esses elementos se misturam. Essa tríade parece descrever os valores do típico homem dominicano: pegador, violento e infiel. Esteriótipo do qual Oscar não chega nem perto. Oscar é um nerd inveterado que almeja tornar-se o Tolkien dominicano, de modo que a história é recheada de citações e referências à cultura nerd.
A família de Oscar, os De León, são compostos pela mãe, Belicia, e a irmã mais velha, Lola, nos Estados Unidos, e La Inca, a mulher que adotou Belicia após as tragédias que aconteceram quando era garota, que ainda vive na República Dominicana – além de alguns outros tios e primos menos importantes.
Como a língua oficial da República Dominicana é o espanhol, eu não sei se foi uma falha da minha edição em ebook, mas muitas expressões no texto não estavam traduzidas. Eu entendo que por vezes o autor faça isso de propósito quando a história se passa em dois locais com língua nativa distinta, mas as palavras não eram restritas aos diálogos e a presença de expressões locais deixavam algumas lacunas no texto, dificultando a compreensão em alguns trechos. Creio que o ideal seria criar algum tipo de glossário para consulta no final do livro, já que o narrador escreve suas próprias observações no rodapé no decorrer do texto – o que poderia gerar ainda mais confusão.
O narrador foi outro objeto de confusão na história. Boa parte da narrativa é fragmentada, mostrando partes da vida de alguns personagens importantes do ponto de vista de uma terceira pessoa, que dá a entender que estava tentando reconstruir a vida de Oscar. Acontece que o personagem que está escrevendo o livro só aparece na metade da história (ou um pouco depois), então em boa parte do tempo é confuso saber do ponto de vista de quem aquela história está sendo analisada, principalmente porque esse autor é muito presente na história, expressando com frequência a sua opinião (por vezes eu pensava que eram observações do próprio Junot Díaz, não de um personagem, embora, é claro, não possamos descartar a possibilidade de que ele estivesse apenas usando um disfarce para algumas críticas ácidas). Assim, é difícil saber a quem atribuir certas características percebidas pelos comentários, nos quais o desprezo pelos europeus é acentuado e palavras de baixo calão são amplamente utilizadas.
Para Oscar, as desgraças de sua vida são fruto de um tipo de maldição conhecida popularmente por fukú, que atingiu sua família na geração de seu avô, durante a ditadura de Trujillo, El Jefe. Não há palavras para descrever essa ditadura em sua totalidade, tamanho o terror provocado e a brutalidade do tirano. O sentimento de medo era tão forte, que associaram o próprio fukú ao homem!
Bom, no final das contas este não é um livro sobre suicídio. Eu não contei muito sobre a história em si porque eu não quis me aprofundar demais nas tragédias da família e alongar demais o texto, em vez disso, eu preferi comentar algumas impressões que tive sobre esta história de solidão, sofrimento e amor, muito crítica com o subdesenvolvimento da República Dominicana. Além disso, passeamos pela história do país desde o início do século XX, conhecendo um pouco sobre a realidade do local. Mas sabe aquele livro que você achou muito bom e ruim ao mesmo tempo? Pois é. Esse tipo de antagonismo me perseguiu durante toda a escrita deste texto e todas as minhas reflexões sobre a história. É um livro muito bom, mas eu achei a escrita um pouco confusa, o que pode ser explicado pela tradução ou por eu ter lido rápido demais.
Esse livro faz parte do desafio Livros Pelo Mundo, onde todos os livros lidos são registrados no blog do link. Dá uma olhadinha lá ;)
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