Marcela 15/01/2020
Uma história ótima com um final que podia ser melhor
Percy Jackson marcou minha pré-adolescência. Amo a adaptação da mitologia grega aos tempos modernos para formar um universo fantástico que existe "embaixo dos nossos narizes", os personagens bem construídos e a narração sarcástica do protagonista que dá nome à série. A proposta de Heróis do Olimpo era ampliar o universo mostrando, apresentando novos heróis, novos vilões e até novos deuses, mostrando os imortais que já conhecemos em suas versões romanas, como uma espécie de diferentes personas de um mesmo ser.
A saga como um todo é incrível e consegue atingir isso com saldo final bem positivo, mas tem seus altos e baixos. Em resumo geral:
1. O Herói Perdido: eu particularmente penei um pouco para ler o primeiro da saga pelo choque inicial de mudar o estilo de narração e focar em personagens desconhecidos. Não ajudou muito o fato de que, do trio (Jason, Piper e Leo), eu só consegui gostar mesmo de um personagem, mas é importante para conhecer o plano de Hera em trocar os principais líderes de cada acampamento e acaba deixando altas expectativas para o futuro.
2. O Filho de Netuno: o segundo livro traz de volta Percy como protagonista, enquanto apresenta Hazel, Frank e o Acampamento Júpiter. Achei as histórias pessoais de Frank e Hazel (e o desenvolvimento deles enquanto casal) mais interessantes que as de Piper e Jason. Além disso, para mim, resgatou um pouco da atmosfera de O Ladrão de Raios, mostrando como funciona o acampamento para os descendentes dos deuses na versão romana: muito mais militar.
3. A Marca de Atena: mostra pela primeira vez todos os sete heróis da nova profecia interagindo, aprendendo a trabalhar em uma grande equipe apesar das diferenças e tendo que lidar com o fato de que cada um tem um papel individual importante dentro da profecia. São apresentados também alguns embates e rivalidades que só são resolvidos a partir da necessidade de cooperação e começa a tecer as relações de respeito/admiração entre os personagens.
4. A Casa de Hades: torna a mostrar os heróis divididos por circunstâncias externas. Enquanto Annabeth e Percy lutam para sobreviver ao Tártaro e encontrar as Portas da Morte, Leo, Jason, Piper, Hazel, Frank e Nico têm que se virar na superfície para encontrar os amigos e completar a missão de deter os monstros. É o momento em que os heróis são mais desenvolvidos, tanto em vulnerabilidade quanto em força, aprofundando também as relações tecidas anteriormente. Todos evoluem de uma forma muito bonita, finalmente deixando as inseguranças de lado e crescendo.
5. O Sangue do Olimpo: ao mesmo tempo em que acompanha os sete heróis da profecia avançando nas Terras Antigas para derrotar Gaia, narra também a viagem de Nico, Reyna e Hedge no sentido inverso para entregar a estátua de Atena ao Acampamento Meio-Sangue e evitar a guerra civil entre semideuses gregos e romanos. Gostei que, pela primeira vez, deu espaço de foco narrativo a heróis que não fazem parte da profecia dos sete, mas que são igualmente incríveis: Nico, que já conhecíamos de PJO, e Reyna, que nos conquista pela força e senso de justiça. E, sem dúvidas, há momentos de prender o fôlego, de se arrepiar e até de se emocionar de novo. Tece bases também para personagens que já conhecíamos vagamente e têm tudo para ser ainda mais importantes no futuro do Riordanverso, como é o caso de Will Solace, curandeiro filho de Apolo e líder do chalé 7.
No entanto, o desfecho não é lá tão elogiado quanto a equivalente conclusão da história original, Percy Jackson e os Olimpianos, por motivos justificáveis. Depois de todos os árduos percalços enfrentados pelos heróis da profecia ao longo dos quatro livros anteriores (e até mesmo neste), eu esperava um pouco mais de grandiosidade na batalha final contra Gaia, assim como aconteceu na Batalha de Manhattan em O Último Olimpiano, que durou dias. Tive a sensação de que, mesmo sendo mais perigosa (já que Gaia é literalmente a Mãe Terra, progenitora de todos os gigantes e titãs), Gaia acabou sendo derrotada com mais facilidade do que Cronos. Mesmo já tendo sido insinuado antes, é a própria estrutura do livro que confirma sutilmente quem serão os responsáveis por finalmente derrotá-la. Na dedicatória, Tio Rick diz que ia pegar leve no suspense dessa vez... mas acabou levando um pouco ao pé da letra demais. Acho que esse problema seria resolvido caso o livro fosse mais extenso e desse espaço narrativo para os outros heróis que lidaram com os monstros também. Para ser sincera, a batalha contra os gigantes na Grécia acabou sendo mais emocionante que a batalha final no Acampamento Meio-Sangue (pelo menos, da maneira como esta última foi narrada). No geral, é um ótimo livro sim, mas o final poderia ser melhor por deixar um gostinho de quero mais.