Joliejow 11/10/2014
Trechos do Livro
"Muito antes da invenção dos CDs e DVDs piratas, os jovens da União Soviética pirateavam discos LP. O governo censurava boa parte das músicas do mundo capitalista - Kiss, Julio Iglesias e Pink Floyd, por exemplo, eram considerados propagandas neofacistas. Para escapar da censura, alguém teve a ideia de imprimir LPs em radiografias médicas (na época mais espessas que as atuais). Nasceu assim um imenso mercado negro de música dos anos 60 a 80. Os LPs clandestinos ganharam o nome de "rock nas costelas" ou "jazz em ossos", já que preservavam a imagem de costelas, bacias e colunas vertebrais das radiografias. A qualidade do som era terrível mas bem mais agradável que as canções soviéticas.
*Se você fosse um produtor de arroz, fabricante de carros ou um costureiro, o que faria se um inspetor do governo de repente o informasse que, daquele dia em diante, sua empresa pertenceria ao governo, mas que deveria continuar trabalhando, e ainda o ameaçasse de prisão se você escondesse parte das mercadorias? Não é difícil prever que as pessoas se empenhariam menos na produção, afinal a recompensa não mudaria caso fabricassem 30 quilos ou uma tonelada. É por causa dessa falta de incentivo que todos, exatamente todos os regimes comunistas resultaram em quedas de colheita, prateleiras vazias, falta de produtos básicos, atrasos em serviços, cartões de racionamento e promessas do governo dizendo que o desabastecimento iria acabar em breve.
*A tática mais comum paa explicar a falta de comida e produtos é culpar o desabastecido pelo desabastecimento. O governo semissocialista da Venezuela faz isso toda semana. Durante o racionamento de energia (provocado pela estatização da infraestrutura do país), Chávez dizia que a culpa era dos cidadãos que tomavam banhos demorados demais e usavam muito o ar-condicionado. Por isso, pediu as venezuelanos que limitassem o banho a três minutos e usassem lanternas quando se levantassem para ir ao banheiro á noite, para não acender a luz. Diante da falta de papel higiênico, o governo arranjou uma desculpa genial: o produto faltava porque os venezuelanos estariam comendo mais - e indo ao banheiro com mais frequência."
"Imagine que Pedro Álvares Cabral ao chegar à praia de Porto Seguro em 22 de abril de 1500, descobre uma civilização maior e mais desenvolvida que a de Portugal. As casas dos nativos da Bahia são construidas numa incrível arquitetura em madeira; o povo domina em sistema de escritas muito mais complexo que as parcas 26 letras do alfabeto latino; há escolas, reinos e palácios com arranjos de flores, cerâmicas e pinturas deslumbrantes. Os índios brasileiros, por outro lado, consideram Cabral e os demais portugueses bárbaros grosseiros, sujos e estúpidos, que comem com as mãos e não entendem a escrita local. Durante algumas décadas de convívio, navegadores casam com índias brasileiras, os jesuítas cristianizam o povo, as caravelas se enchem de mercadoria. Até que os índios se cansam dos europeus, matam ou expulsam todos eles- com armas de fogo, que eles aprenderam a fazer sozinhos após copiar um único exemplar português - e proíbem o cristianismo no Brasil.
Isso aconteceu no Japão na mesma época em que as caravelas se tornavam frequentes no Brasil. Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar no Japão, em 1543. A bordo de um navio chinês, três deles atingiram a ilha de Tanegashima, no extremo sul do arquipélago japonês. As caravelas viriam em seguida, se estabelecendo ali perto, na cidade de Nagasaki, que se tornaria a Lisboa japonesa. Enquanto mercadores enchiam navios de prata e cobre, missionários jesuítas trataram de cristianizar os nativos.
A passagem dos portugueses pelo Japão seria breve: no começo do século 17, o xogunato Tokugawa se irritaria com os jesuítas ao se dar conta de que a conversão ao cristianismo era o primeiro passo para a conquista política. O país se fecharia ao mundo por 220 anos, a partir de 1633. Ainda assim, quase um século de influência europeia foi o bastante para alterar profundamente um traço essencial da cultura japonesa: os míticos guerreiros samurais.
No Japão medieval, os samurais formavam a nobreza militar, o corpo de guerreiros especiais que protegia os daimios - senhores feudais da época - contra o ataque de famílias vizinhas. Tinham liberdade de punir qualquer pessoa que considerassem ter ferido sua honra e intimar quem fosse para um duelo. Quando os portugueses chegaram, os samurais viviam sua época de ouro. O xogunato Ashikaga estava enfraquecido, por isso as guerras entre clãs, invasões a territórios vizinhos e disputas de sucessão aconteciam em todo o território. Num cenário desses, os samurais eram protagonistas. Nas batalhas corpo a corpo eles ganhavam respeito á medida que derrotavam adversários renomados. Até que, no começo so século 17, a paz imperou no Japão e os samurais ficaram sem razão pra viver. Como estamos acostumados a dizer no Brasil, foi tudo culpa dos portugueses. Por volta de 1570 o daimio Nobunaga deixou de lado rituais de guerra dos samurais e passou a armar camponeses com algumas novidades vindas de Portugal: os arcabuzes e mosquetes. Vários senhores japoneses fabricavam arcabuzes e até mesmo muitos samurais os utilizavam. A diferença é que Nobunaga criou tropas disciplinadas, que atiravam de forma sincronizada. Com esse método, ele unificou o Japão.
Mas em 1603, seu afilhado Tokugawa Ieyasu ganhou a bênção do imperador e se tornou o novo xogum. Para se livrar da ameaça estrangeira. seu clã expulsou todos os portugueses, baniu o cristianismo e apreendeu armas de fogo. Com o país unificado e os portugueses expulsos, começaram dois séculos e meio de paz e isolamento do Japão."
"Durante a década de 1670, depois de apresentar à comunidade científica inglesa a teoria da luz e das cores, Newton resolveu isolar-se e dedicar sua vida á alquimia e á análise do Antigo Testamento. Fechou-se em seu laboratório em Cambridge, onde passava os dias misturando elementos em panelas e cadinhos. Uma análise de amostras de cabelo de Newton deita em 1970, encontrou uma quantidade de mercúrio 40 vezes maior que o normal.
É verdade que não havia, no tempo de Newton, a distinção atual entre ciência e misticismo. Mas, mesmo naquela época, as pessoas já viam a alquimia com desconfiança pois a relacionavam com sociedades secretas esotéricas e anticristãs. Tanto que o primeiro biógrafo de Newton preferiu omitir esse lado esotérico na obra do físico publicada em 1752. Não ficaria bem ao maior gênio científico da época, que havia sido deputado britânico, ser associado á superstição e a charlatanice.
Além da alquimia, Newton era obcecado por prever grandes acontecimentos do cristianismo. Reconstruiu a planta do templo do rei Salomão, acreditando que ela dava pistas mastemáticas sobre a data em que Jesus Cristo voltaria á Terra. Com base nesse estudo, o físico propôs que, em 2370, haveria a segunda ressurreição e o Juizo Final. A mais inquietante previsão de Newton é a data da volta de Jesus Cristo: 1948. Trata-se do mesmo ano em que o catarinense Inri Cristo nasceu. Coincidência?"