Cami Sanches 11/07/2020Mais em: @encantodafuga!"Era uma vez... Uma releitura de conto de fadas original e intrigante. Mas, espera... até que ponto uma releitura pode realmente ser original, considerando o quão tênue é a linha entre o desconexo e o original propriamente dito? A autora conhece esse limite? Se conhecesse, ela o ultrapassa?"
Esse foi o meu principal questionamento durante toda a leitura de Veneno. Durante grande parte do livro (diria que 3/4 do mesmo) eu falaria tranquilamente que a autora não reconhece esse ponto e, até, que não faz nem ideia de onde procurar por ele. Diria que ela compartilha da minha dúvida, que não conhece o mesmo também! Tudo que eu queria era que o livro me desse respostas e cada vez mais parecia que ele só afirmava e fortalecia minha dúvida. É, parecia que, com base naquilo que eu lia, não tinha forma de uma releitura soar original, soar novo, soar bem e me surpreender do jeito que eu queria que soasse e me surpreendesse.
Sentia a leitura extremamente genérica, sentia as escolhas que a autora agregava ao rumo da história, que se interligava com outros contos, de forma muito desconexa e pouquíssimo natural, sentia uma escrita que se mostrava muito fácil, rápida e fluida sim, mas bastante falha em relação a originalidade e profundidade... É, eu não estava seguindo muito no mesmo tom que a narrativa, não estávamos funcionando muito bem, não estávamos dando certo. Haviam personagens e personalidades que me interessava muito, como a rainha e os anões retratados com tamanho sofrimento nessa história. Em minha opinião, histórias que agregariam de forma absurda para a narrativa... Elas também não foram muito aprofundadas.
Tudo bem, tudo bem, eu preciso ser justa! Admito que esse aprofundamento que eu esperava talvez não combinasse tanto assim com a proposta da autora, assim como admito que já comecei minha leitura rodada de uma certa áurea de preconceito que pode ter aumentado o tamanho das minhas exigências a medida que baixava minha expectativas.
Tentei, mutas vezes, levar essa leitura até o final, e por alguma razão nunca consegui, algo sempre me impedia de continuar.É verdade que a leitura é muito fluida, baseado em uma escrita simples e diagramação confortável, mas eu nunca progredia muito, e acredito que isso acabou gerando uma grande mistificação em cima do livro, o que cortou para quase zero minhas expectativas. Quando recomecei a leitura, só tinhas duas delas: ir até o final para que pudesse (até que enfim) ter uma opinião bem formulada assim como me deparar com uma Branca de neve diferente, uma princesa mais humana, talvez com certa malícia, com uma postura menos angelical e passiva, como vemos na personalidade do conto original, e atitudes mais ativas, que me surpreendessem.
As duas foram atendidas. Achei sim, em meio a leitura, uma Branca de Neve renovada, forte, surpreendente a seu próprio jeito. Confesso que não foi o modo que eu esperava ver essa mudança de personalidade, o que só contribuiu com um quê a mais de surpresa. Confesso, também que no decorrer do livro julgava quase impossível gostar dessa personalidade por traços um pouco chatos e incômodos... Mas fiquei muito satisfeita ao fim. Vale lembrar que Veneno é o primeiro livo de uma trilogia. Se lerei os próximos? Realmente não sei.
O que eu realmente sei é que, no final de todo o livro, a resposta para a pergunta que comecei essa resenhando aqui mudou, acredita? Porque eu mal acreditei! Passei grande parte do livro em uma negativa crescente a ideia de que o livro poderia trazer originalidade para , ao final da leitura, perceber que poderia sim! Do seu próprio modo, a seu próprio estilo. E foi isso que aumentou um pouco mais a nota, assim como questionamento muitíssimos interessantes, em minha opinião , que o final da narrativa levanta: Como surgem as paixões? Como elas se sustentam perante a realidade? Como o sofrimento pode ditar o rumo de uma vida? Como lidamos com nossas próprias ilusões? A que extremos podemos chegar para que as mesmas sejam mantidas?
É, me parece que, no final mesmo, pude absorver dessa leitura muito mais do que julgava possível!
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