Maria - Blog Pétalas de Liberdade 27/04/2017Resenha para o blog Pétalas de Liberdade"Conhecia a maneira como esperanças perdidas podiam ser perigosas, como elas podiam transformar uma pessoa em alguém que ela nunca pensou que seria." (página 414)
A história se passa em 1987, nos Estados Unidos, e é narrada por June, uma garota de 14 anos, apaixonada pela época medieval. June era filha de um casal de contadores que tinham muito trabalho em determinada época do ano, deixando a família um pouco de lado. Ela tinha uma irmã poucos anos mais velha: Greta; na infância elas eram muito unidas, mas Greta cresceu e elas começaram a se desentender, parecia que Greta fazia de tudo para magoar a irmã. Sendo assim, June passou a ter como melhor amigo o seu tio Finn. Porém, Finn ficou doente, ele tinha AIDS e, numa época onde não havia um tratamento como nos dias de hoje, ele morreu.
"E foi uma sensação boa a de fazer alguém feliz. Não havia muitas pessoas que se animariam com um simples aceno da minha cabeça." (página 152)
Sofrendo pela falta do tio, June descobriu a existência de Tobby, um homem misterioso que não pôde entrar no velório, que foi acusado pela sua mãe de ter colaborado para a morte de Finn. Pouco a pouco, a garota descobriria que ela não era a única amiga do tio, que ele tinha um "amigo especial" mantido em segredo até então. Será que ela deveria confiar em um homem desconhecido e se aproximar dele contra a vontade da família? Tobby poderia lhe fazer algum mal? Ou juntos eles poderiam aprender a lidar com a ausência de Finn e diminuir um pouco a saudade que sentiam dele?
"No meu colo estava o pequeno presente, embrulhado no papel azul de borboletas. Não abri logo, porque era assustador abrir algo vindo de uma pessoa morta. Em especial uma pessoa morta que você amava. Abrir um presente vindo de uma pessoa viva já era assustador o bastante. Sempre havia a chance de o presente ser tão errado, tão completamente longe do tipo de coisa de que você gostava, que você percebia que a pessoa não o conhecia nem um pouco." (página 201)
Eu já havia visto alguns comentário sobre "Diga aos lobos que estou em casa", e por isso, pela capa bonita e pelo título curioso, estava com expectativas imensas em relação ao livro, mas a história foi bem diferente do que eu esperava. A primeira coisa que temos que ter em mente é que a história se passa nos anos oitenta, e que de lá para cá muita coisa mudou (ou não).
"E se tudo o que eu amava em Finn tivesse na verdade vindo de Tobby? (...) Talvez, durante todo aquele tempo, ele estivesse brilhando através de meu tio." (página 195)
A June, num primeiro momento, me pareceu extremamente inocente e ingênua, não me lembro se garotas de 14 anos são mesmo assim ou se era pela época em que a história se passava. Logo de cara eu saquei que o Tobby era o namorado/marido do Finn, e dava vontade de entrar no livro e gritar isso para a June para ver se ela entendia, mas sei que, infelizmente, ainda hoje, algumas pessoas preconceituosas não aceitariam bem a relação dos dois. A questão de confiar em estranhos também está presente no livro, June poderia se meter em um grande problema se as intenções de Tobby fossem ruins, mas ela precisaria seguir sua intuição. Vivemos numa época onde há tantos perigos, que duvidamos da possibilidade de uma amizade entre um homem de trinta anos e uma garota de quatorze.
"E, então, me lembrou da Greta que costumava ser. A Greta de nove anos que ficava esperando o ônibus com o braço em volta dos ombros daquela eu de sete anos. As meninas Elbus. Era assim que as pessoas nos chamavam. Como se nem precisássemos de nomes separados. Como se fôssemos uma coisa sólida e inquebrável.
Eu estava feliz por não ter levado o livro. Eram coisas normais que Greta queria que eu confessasse. Namorados e sexo e paqueras. Coisas que poderíamos ter em comum. Tudo o que eu tinha era um homem estranho na cidade e viagens secretas para Playland e apelos de ajuda vindos dos mortos." (página 211)
O que me incomodou no livro foi o fato de as coisas demorarem muito para acontecer, e quando finalmente os problemas foram resolvidos, foi tudo muito rápido. Foram páginas e páginas tentando entender o que estava acontecendo com a Greta, e quando descobri, foi algo interessante, mas que até então não tinha aparecido em nenhuma pista. Capítulos e capítulos de segredos e desentendimentos entre alguns personagens, e quando chega a redenção e o perdão, isso é feito em poucas palavras. Não consegui ver muita relação entre a história e o título (além da questão do quadro), se alguém tiver uma interpretação sobre isso, por favor deixe aí nos comentários.
Ainda assim, "Diga aos lobos que estou em casa" foi uma leitura válida e interessante, escrita de forma sensível, e que mostra o amadurecimento da protagonista. Como disse, no início a June é bem infantil, além de solitária, e com o passar dos capítulos, foi agradável vê-la seguindo sua intuição e fazendo coisas que acabam tornando-a a personagem mais sensata e equilibrada do livro, no sentido de ser verdadeira e fazer o que é certo. A June foi se descobrindo e encontrando o sua própria identidade, vendo o seu valor.
Achei que a ambientação nos anos oitenta foi muito bem feita, em nenhum momento ficou forçado ou parecia que coisas que temos nos dias de hoje, como a internet, faziam falta. Tenho que agradecer a autora pela inserção de músicas da época na trama, após a leitura eu fui pesquisar algumas delas e me apaixonei por "You've Got A Friend" do James Taylor. É sério, vocês precisam ouvir essa música linda! Além disso, falar sobre a AIDS é importantíssimo para conscientizar especialmente quem não viveu a época mais crítica de propagação do vírus, para que entendam que temos sorte de termos tratamento e informação que não existiam na época da morte do tio da June, e que o risco de ser infectado ainda existe e a prevenção é o melhor caminho. Segundo a UNAids - programa da Organização das Nações Unidas (ONU) para combater a doença, "cerca de 43 mil novos casos eram registrados no Brasil em 2010, a taxa em 2015 subiu para 44 mil".
Sobre a edição da Novo Conceito: capa muito bonita, páginas amareladas, boa revisão e boa diagramação, com detalhes no início de cada capítulo.
Enfim, "Diga aos lobos que estou em casa" é um livro sobre esperanças perdidas, sobre família, sobre o luto e sobre amizades. Alguns leitores comentaram que choraram com o livro, eu não chorei, mas foi uma leitura que valeu a pena realizar.
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