Julia G 11/03/2015Diga aos lobos que estou em casa Em 1986, a AIDS não era totalmente conhecida e o tratamento ainda inexistente. Em razão da doença, June, de 15 anos, perdeu seu melhor amigo, seu tio Finn. Mais sozinha do que nunca, a indiferença de sua irmã, Greta, pelo seu sofrimento só as afastava ainda mais, doendo profundamente pela lembrança do que elas costumavam ser. E doía, também, descobrir uma parte da vida de Finn que ele mantivera por tanto tempo escondida dela.
June nunca imaginara que Finn tinha Toby, um inglês, também infectado pelo vírus da doença, que agora estava tão sozinho quanto ela. Apesar de ter de adequar todas as suas memórias com o tio à nova informação da existência do rapaz, June poderia descobrir em Toby uma nova companhia – e um outro amigo.
Como tantas outras vezes que já comentei aqui, não li a sinopse de Diga aos lobos que estou em casa, de Carol Rifka Brunt antes de pegar o livro, mas a classificação Young Adult instigou a curiosidade.
A diagramação do livro foi toda bem cuidada, com pequenos detalhes no início de cada cena, bem como com letras confortáveis para a leitura. O tom de cor da capa – para quem gosta – é fascinante, e os vários desenhos no espaço negativo têm significado para a obra, seja pela questão da arte de Finn, seja pela imaginação ativa de June. O conteúdo, porém, não foi tão encantador.
Há de ser ressaltado que o tema escolhido para a obra foi bastante inusitado, pelo contexto em que se inseriu os acontecimentos, e também interessante. Ao contar a história de June, em primeira pessoa, a autora conta também a vida de outros personagens de seu convívio cotidiano. Algumas lembranças de um período anterior ao dos acontecimentos narrados, inseridas no contexto, sem nexo temporal, auxiliam na compreensão da protagonista, e mostram um pouco como sua mente funciona.
O fato de o livro tratar da AIDS a partir do ponto de vista de alguém que ama a pessoa doente e que tem um olhar livre de preconceito torna a construção mais sensível e valiosa. Contudo, o perfil da protagonista se mostra aquém do esperado, já que a impressão é de que, em virtude das situações impostas pela vida, sua atitude seria mais madura e adulta. O fato de ser ainda bastante criança, sinceramente, me frustrou.
Os pensamentos de June são infantis, com toda a sua fascinação pela idade média, brincadeiras e lamentações sobre coisas que, após certa fase, vemos que não tem tanta importância. Estes foram alguns dos fatores que eu não esperava, e a leitura se tornou cansativa por se arrastar desta forma até a metade do livro.
Provavelmente este seria um elemento desejável ao enredo, principalmente porque, após a segunda metade do livro, o amadurecimento da protagonista é visível. Além disso, foi importante para que June pudesse compreender um pouco mais a irmã. Contudo, ainda que racionalmente eu possa explicar a necessidade dos elementos citados para a história, isso não ajudou em relação ao envolvimento com o enredo. A impressão era a de que o contexto dava voltas, sem que saísse do mesmo lugar.
É importante citar, contudo, que, na segunda metade da obra, o texto se torna mais agradável e conseguiu atingir o ritmo certo. June começa a se ver mais verdadeiramente, perde a película da inocência no olhar, mas não deixa de se encantar com as coisas, por, finalmente, ver como elas são. June amadurece, cresce, e até mesmo uma insinuação de romance tem lugar na história.
O livro de Brunt não foi, para mim, uma grande obra, mas tem alguns bons elementos e um final tão bonito que é difícil não se sentir tocado.
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http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2014/05/diga-aos-lobos-que-estou-em-casa-carol.html