spoiler visualizarGabriela 04/09/2024
Eu odeio todo mundo
Nas primeiras páginas fui me identificando demais com os sentimentos do Gregor em relação ao trabalho, até hoje muito do que acontece no tratamento do gerente com ele é real, mesmo que seja de forma mais velada.
O trabalho pode nos afundar completamente, a ponto de acordamos em um corpo de inseto e a maior preocupação ser o trem (ou qualquer outro transporte) que já passou, e até saber de cabeça o horário do próximo.
Passei por isso no meu ultimo trabalho, as primeiras páginas e os primeiros sentimentos do Gregor foram de total identificação pra mim, e sofri junto com ele a agonia, como agir? dizer que está doente? e a família, o que dizer a eles?.
Ao decorrer da história, senti muita raiva. A irmã era a única que eu acreditei se importar com o Gregor, e isso foi uma enorme decepção.
O pai tratou o trabalho como um imenso fardo, como se o Gregor não carregasse ele com prazer até dias atrás.
A mãe de uma fragilidade tão oposta ao que a maternidade trás para as mães, não conseguia sequer olhar para o filho.
A irmã, usou a coragem de servir o Gregor para decidir e interferir no destino dele.
O dinheiro conduzia as relações e o poder dentro da casa, o pai passou a ser tratado com bajulação, e a aguentar um peso que anteriormente dizia ser demais para ele. Os senhores que alugaram o quarto eram tratados com uma cortesia excessiva, sempre o dinheiro conduzindo o valor das pessoas.
E a maça. Ser atirada contra ele e permanecer ali. A ausência de preocupação me fez querer gritar!!!
Quando estava chegando perto do final, imaginei que o Gregor iria morrer e voltar ao seu corpo humano, e que isso traria culpa e remorso a família. Mas isso não aconteceu, nem a minha ideia sobre o final nem a culpa e remorso da família, eles apenas sentiram alivio e alegria.
Isso foi o mais difícil de digerir, perceber que após ignorar, desprezar e descartar totalmente o Gregor após a metamorfose, não houve culpa, remorso ou tristeza alguma.
É impressionante como um livro consegue fazer analogia a tantas questões sendo uma história relativamente breve.
Esse livro poderia facilmente ser usado para falar sobre depressão, rejeição familiar, nossa utilidade ditando o quanto somos amados, abandono, entre tantos outros temas.
Impossível dar menos que 5 estrelas, entrei na história por inteiro e queria gritar com todo mundo pelo Gregor.
Profundamente tocante.