Emme, o Fernando 06/12/2017Três estrelas !!!O autor é muito bom em desviar a atenção do leitor. Ele joga muitas informações e faz o leitor descobrir junto ao detetive o que acontece, cometendo os mesmos erros, os mesmos acertos.
O ponto alto do livro é justamente o desenvolvimento do enredo, a forma como tudo se encaixa ao final do livro sem que as coisas tenham de ser didaticamente explicadas (um defeito dos romances policiais ingleses clássicos).
O autor faz uma leve (bem leve) crítica social ao descrever os personagens (o leitor tem muitas vezes a impressão de que informações desnecessárias são colocadas no texto, mas elas servem para dar essa pitada de crítica).
É o que acontece quando um aristocrata faz a descrição do que ele considera ser "liberal". O problema é que parte dessa crítica não faz sentido para quem vive longe da realidade da Noruega. O divertido nisso, para mim, foi perceber que apesar de a Noruega ser um país muito seguro (alguns personagens até desdenham que exista um criminoso "serial killer"), lá também tem as falcatruas. A falcatrua mais interessante é a do dono da empresa de mudanças que rouba alguns itens de valor toda vez que faz uma mudança.
Mas também há coisas que só ocorreriam na Noruega mesmo: entregar as chaves de casa para um estranho, um chefe de alto escalão assumir a culpa pelos erros da corporação e pedir demissão....
O que mais me incomodou (e isso é bem pessoal mesmo) foi a estrutura do livro: o enredo, apesar de bem desenvolvido, segue uma estrutura que parece pensada como enredo de cinema. O autor parece que escreveu o livro já pensando no filme.
No meu ponto de vista há cenas que não "funcionam" em um livro, mas funcionam bem em um filme: a cena em que um certo alguém tem de entrar pelo telhado e pular para dentro do quarto pela janela, a cena em que um certo alguém PENSA ter visto alguém no banco de trás e perde o controle do carro....
Há também o clichê de filmes/séries ianques: um detetive alcoólatra, que por um prodígio da natureza possui uma mente super afiada (se fosse vida real seria só mais um bêbedo mesmo), que tem muitas dificuldades no relacionamento (ele está separado nesse livro), que não se submete ao superior.... Em uma das cenas finais ele tem de estar sozinho, então, providencialmente, há um congestionamento que só permite que ele sozinho chegue ao local do crime usando uma motocicleta....enfim.....
"Hagen esperou, perguntando-se como iria contar aos seus superiores que ele havia permitido que Harry fosse até lá sozinho. Como iria explicar que ele apenas era o superior de Harry, não o chefe dele"....
Aquele tipo de enredo feito sob medida para agradar ao ianque médio bunda mole meio alcoólatra fracassado subserviente ao chefe que quer compensar seus sentimentos de inferioridade nos cinemas, porque afinal de contas só ele, branco de verdade, verdadeiro representante da ordem e da civilização pode fazer desse mundo um lugar correcto.
* Dois pontos que o autor deixa sem explicação:
- Como o serial killer matou Rafto ??? Rafto ´stava lá armado, os dois estavam sozinhos no parque.... e ????
- Não posso dizer, pois seria "spolier", mas há alguém que aparece várias vezes e é um personagem de quem você obviamente suspeita ao ler o livro, mas que no final não há qualquer explicação sobre ele.
Depois eu descobri que é preciso ler os outros livros da série para descobrir que negócio bizarro é aquele....
Mas isso eu deixo para os mais jovens... Eu achei o livro bom, mas, sinceramente, há coisas melhores para ler.... Três estrelas !!!