Felipe B. Cruz 05/02/2014
Uma obra popular com poucas informações inéditas
Apesar de ter sido lançado em novembro de 2013, somente neste mês que eu tive a oportunidade de ler "Kardec - A Biografia", de autoria do jornalista Marcel Souto Maior. Ele também é autor da biografia "As Vidas de Chico Xavier". Porém, se no livro sobre o médium brasileiro o jornalista apresentou informações inéditas sobre o biografado, em "Kardec", a impressão é de que se trata de uma obra simples, feita para ser lida rapidamente e por pessoas que não estão acostumadas com biografias. É quase como um livro didático.
Segundo o autor, as negociações para levar a biografia de Hyppolyte León Denizard Rivail, nome de batismo de Allan Kardec, para o cinema já estão em andamento. E, se levarmos em consideração o sucesso que foi a adaptação de "As Vidas de Chico Xavier" para as telonas, podemos esperar o mesmo com a história do codificador do espiritismo. Aliás, nas listas dos mais vendidos, "Kardec" já figura entre os primeiros. Ou seja, é inegável que a obra é um sucesso editorial.
De volta ao livro, ele foi dividido em pequenos capítulos de no máximo dez páginas cada (quase sempre menos) que explicam muito rapidamente a vida de Hyppolyte. Para quem não conhece absolutamente nada sobre a vida de Kardec, o livro é uma boa maneira de começar a conhecer. Mas, nem de longe pode ser considerada a biografia definitiva do espírita (e eu também acho que essa nem era a intenção de Marcel). Se o leitor for um espírita praticante, estudante da doutrina, certamente o livro será lido de forma enfadonha e se trazer nenhuma informação inédita, pois a biografia básica do Kardec é estudada em todos os centros espíritas do Brasil.
Capa do livroAliás, eu acho que esse é o principal defeito da obra: a falta de informações inéditas. É muito mais difícil (não é impossível, é claro) para um autor estrangeiro biografar uma personalidade que viveu sua vida inteira em outro país (no caso, a França), ainda mais no século 19. Além disso, a maioria dos registros originais de Kardec se perderam. Para contornar o problema, Marcel foi buscar informações nos escritos de Kardec feitos na "Revista Espírita", que o codificador editou por anos. A revista serviu como palanque para Kardec se defender de ataques dos desafetos da doutrina e também para comentar os fenômenos espíritas que ocorriam em todo o mundo. Os textos originais dessas revistas, aliás, estão disponíveis gratuitamente em diversos sites espíritas brasileiros, e em português.
Senti falta na obra de informações sobre em que circunstâncias foram escritos os principais livros do espiritismo, como "O Evangelho Segundo o Espiritismo" ou "O Livro dos Médiuns". A biografia cita o momento em que essas obras foram feitas, porém sem entrar em detalhes. Faltou também contar um pouco mais da história de Kardec antes de ele se tornar Kardec. Ou seja, do período em que ele era apenas o professor Hyppolyte.
A conclusão é de que se trata de um livro simples feito para ser lido por pessoas que não costumam ler obras mais densas. Ou seja, um livro para as massas. Uma obra popular. Não quero ser leviano em afirmar que o livro foi escrito apenas para se aproveitar das excelentes vendas que todas as obras espíritas têm no Brasil. Mas, comparado com a biografia de Chico Xavier, escrita também por Marcel, "Kardec" não parece ter a mesma profundidade e informações que seu antecessor.