Contos novos

Contos novos Mário de Andrade




Resenhas - Contos Novos


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Volnei 07/02/2018

Contos Novos
Como nos demais livros não farei aqui um resumo, mesmo por que se trata de uma reunião de contos
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Mr. Jonas 05/02/2018

Contos Novos
O livro é uma síntese dos principais traços do estilo do autor: oralidade, linguagem simples e livre, referências pessoais mais ou menos explícitas, temática do trabalho e da solidão.

As narrativas de Contos novos podem ser divididas em dois grandes grupos, de acordo com o foco narrativo. Assim, temos quatro contos narrados em primeira pessoa (?Vestida de preto?, ?O peru de natal?, ?Frederico Paciência? e ?Tempo da camisolinha?) e cinco em terceira (?O ladrão?, ?Primeiro de maio?, ?Atrás da Catedral de Ruão?, ?O poço? e ?Nelson?).

O traço comum aos contos narrados em primeira pessoa é a presença de um mesmo narrador, Juca. Sua personalidade é formada a partir de experiências marcantes de rejeição e luta contra a repressão. Das primeiras, destaca-se a relação adolescente com a prima Maria de ?Vestida de preto?. Das segundas, mais marcantes, os exemplos se sucedem. Entre as imagens da repressão, ganha destaque a figura paterna, que aparece em ?Tempo da camisolinha? obrigando o narrador a podar as madeixas ? alegoria simples da castração.

Em ?Peru de natal?, o pai, já morto, ainda representa a instância capaz de anular a celebração e a liberdade. A fama de louco que Juca adquire com o tempo é uma reação ao rigor familiar e superá-lo representa a deglutição paterna de que trata Freud.

A oposição entre prazer e repressão, no entanto, nem sempre tem final feliz: a relação com Frederico Paciência termina sem conclusão e sem nome porque as barreiras sociais e psicológicas são fortes demais para Juca. Mas o desejo de libertação pode também ter fornecido as bases para a estética não convencional que o narrador manifesta nos contos em sua linguagem marcada pela oralidade.

Nos contos narrados em terceira pessoa, duas imagens sobressaem: de um lado, a solidão; de outro, a solidariedade. Solitário é Nelson, do conto homônimo, cuja identidade se limita ao título, já que no corpo da narrativa ele não tem nome e nem sequer uma história precisa. Sua condição se acentua no interesse sádico e desrespeitoso demonstrado pelos rapazes que comentam sua vida, tão passageiro quanto a comunhão provocada pela correria de ?O ladrão?, depois da qual cada morador retorna ao seu insulamento, reforçando a solidão. Note-se, aliás, que neste último conto o ladrão que lhe dá título não é sequer visto ? marca de uma marginalização contundente. Solitária é ainda a Mademoiselle de ?Atrás da Catedral de Ruão?, envolvida em suas fantasias sexuais e seus desejos contidos.

Por outro lado, a solidariedade se manifesta no universo do trabalho na união dos empregados de ?O poço?, que enfrentam o fazendeiro ? imagem acabada do autoritarismo paternalista e do desprezo elitista pela vida humana. E também na trajetória de 35, o protagonista de ?Primeiro de maio? que faz da celebração da data uma forma de oposição ao oficialismo ? demarcado no conto pela presença de policiais pelas ruas de São Paulo, representativa da opressão da ditadura Vargas. O 35 busca escapar, assim, de um trabalho alienante para o qual a única saída parece ser a solidariedade, evidente em seu gesto final de auxílio ao colega idoso.
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Daniel 03/02/2018

Mário de Andrade freudiano
A coletânea, publicada postumamente em 1947, reúne nove contos escritos por Mário de Andrade entre as décadas de 20 e 40, demonstrando a vontade do autor de incluir o gênero dentro da então nascente estética modernista. Contos como "Vestida de Preto", "Peru de Natal", "Frederico Paciência" , "Primeiro de Maio" e "Tempo da Camisolinha" estão entre as grandes realizações literárias da obra de Mário.

O Mário de Andrade de Contos Novos não é o mesmo de Macunaima e Pauliceia Desvairada. Percebe-se nos contos um estilo mais maduro, conciso e contido, sem a mesma bom humor espontâneo caracteristico de suas obras anteriores. Há uma certa tendência ao realismo, com enredo mais convencionais e leves tons de crítica social. Mesmo com essas pinceladas realistas, o Modernismo continua evidente, tanto no uso de neologismos e certos aspectos coloquiais da linguagem, quando nos temas e na própria estrutura que compõe a narrativa. Além disso, a busca por um ideal artístico puramente nacional mostra - se presente na utilização de gírias e temáticas regionais, ambientando a maioria das narrativas ao redor do eixo da cidade de São Paulo. A forma como Mário descreve e analisa os expoentes de diferentes classes sociais ajuda a criar um panorama detalhado, social e psicológico, da sociedade brasileira da primeira metade do século XX.

Outra característica marcante da obra é a detalhada construção psicológica das personagens, especialmente nos contos em primeira pessoa, como Vestida de Noiva, onde as angústias, traumas e sensações dos personagens são descritos de forma profunda, denotando forte influência da psicanálise freudiana.

O perfil psicanalítico das personagens e a junção do tempo cronológico com o psicológico geram uma narrativa moderna, agregando as principais correntes literárias do início do século.
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Leiliane R. Falcão 02/07/2013

Nacionalismo sem exageros
Nunca nenhum autor conseguiu expressar tão bem a nossa brasilidade, mas sem impor aquele nacionalismo exacerbado. Os contos "O poço" e "Primeiro de maio" são perfeitos, não tem como não se identificar.
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Israel145 25/12/2012

Excelente coletânea de contos apócrifa de Mário de Andrade que estavam engavetados em sua obra e que não foram lançados por motivos diversos, entre eles, o fato de alguns textos serem considerados pesados para a época. Incrível como Mário de Andrade impôs uma certa maturidade nos assuntos cotidianos da época e escreveu contos com a cara do Brasil.
Seus personagens quebram barreiras, rompem preconceitos e escancaram o lado humano nas situações mais simples possíveis. Impossível esquecer o contos protagonizados por Juca, onde sua rebeldia o leva a viver situações tais como um amor platônico pela prima, quebrar a tradição do natal da sua família ou viver uma amizade homossexual com seu melhor amigo (vestida de preto, peru de natal e Frederico Paciência). Ou o conto da preceptora francesa que ensina a duas alunas lições de francês e um monte de ensinamentos de conotação sexual onde ela mesma vive uma forte tensão sexual consigo mesma tentando reviver um passado carregado de fantasias e que nunca o viveu (atrás da catedral de ruão). Ou o conto do operário que sai para arrebentar no dia 1° de maio e vive uma repressão psicológica (1° de maio). Ou conto de um ladrão que se embrenha num cortiço e faz com que todos se mobilizem na sua captura. Nele podemos ver os diversos tipos brasileiros! (pega ladrão!). Enfim, excelentes contos de um dos mestres do gênero no Brasil.
Carlos Patricio 24/09/2015minha estante
otima resenha, parceiro! fez-me interessar ^^




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Lau 02/01/2011

Tesouro escondido
Poucas vezes lembrado. Isso se deve ao fato de que essa obra acabou ofuscada por Macunaíma. Mas é importante lembrar que se encontram aqui os melhore contos da literatura brasileira, superados apenas pelos contos de Machado de Assis. Com técnicas impressionistas e expressionistas, Mário de Andrade mostra aqui a sua maturidade. Tanto que há contos que levaram mais de 20 anos para serem terminados, tudo por causa do enorme trabalho com o burilamento do texto. É um livro que vale a pena ser lido. Destaque para a influência da psicologia freudiana nos contos em primeira pessoa. Um clássico!
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Rosa Santana 25/03/2010

"Atrás da Catedral de Ruão"
"Me sinto freudiana hoje... Acho que vou sonhar tarlatanagens".
in Mário de Andrade, "Atrás da Catedral do Ruão"

Essa frase, retirada do conto “Atrás da Catedral de Ruão”, está claramente inserida no seu tempo: o do modernismo. Foi esse o movimento que, após as inovações da semana de 22, se dividiu em duas correntes. Uma delas, liderada por Plínio Salgado, se chamava Verde-Amarelismo. Ela dizia que os artistas deveriam cultivar um nacionalismo primitivo e ufanista. Esse grupo elegeu a anta como símbolo nacional e pregou, inclusive, a volta à língua Tupi. Era xenófobo e criticava o "nacionalismo importado" de Oswald de Andrade e seu grupo, o Pau-Brasil, que mais tarde se transformou no famoso Movimento Antropofágico.

O movimento Antropofágico tinha como ideologia a "deglutição" de elementos de outras culturas, considerados bons, que deveriam ser misturados àqueles estritamente nacionais para surgir daí o que eles chamariam de "nacionalismo crítico"...

Assim o que se tinha era uma briga para estabelecer regras e ideologias do movimento...

No conto “Atrás da Catedral de Ruão”, presente em "Contos Novos", Mário se mostra um perfeito "antropofaágico". Ele nos traz a história de Mademoiselle, uma professora de francês, quarentona e virgem, tomada por um vendaval do “mal do sexo”. Preceptora de duas adolescentes, Alba e Lúcia – abandonadas pelo pai e de certo modo pela mãe, infeliz e distante – Mademoiselle conversa imoralidades e malícias com elas,fixando-se em suas fantasias eróticas no cenário de uma antiga história picante: atrás da Catedral de Ruão. Tudo isso em uma língua meio francesa, meio portuguesa... Intensificam-se tais fantasias até o momento em que Mademoiselle, ao sair de uma festa, imaginariamente é perseguida por dois homens, correndo deles e ao mesmo tempo entregando-se à volúpia de fazê-lo, atrás da Catedral. Quando chega à pensão onde mora, dá um níquel a cada um dos supostos perseguidores, agradecendo, em francês, a boa companhia que lhe fizeram... MA incorpora o que era estrangeiro (o jeito francês de falar!) àqueles elementos nacionais: a cultura, a burguesia ascendente (que vinha da agricultura), o espaço...

Temos que ver, principalmente, que o francês, sendo a língua de prestígio daquele momento, era sinônimo, tb, de superioridade e de poder... Falá-lo provocava admiração e respeito. A personagem principal, desprovida de tudo na escala social, só contava com essa forma de prestígio, de poder. Nem nome tinha, a coitada. A falta de nome, para a personagem, é a denotação de sua quase que nulidade, já que o nome é o que nos caracteriza, que nos identifica entre todas as demais pessoas. É ele que nos tira da vala comum... Que nos torna próprios!!!

O uso de tantas frases e expressões emprestadas da língua francesa, não prejudica o entendimento da história, ainda que o dificulte!! Mas, por que teria Mário de Andrade feito esse largo uso, se não nos levasse a nada?? No plano da história, dos fatos, da narrativa, como já foi dito, não houve prejuízo. Entendendo ou não o sentido das frases, o leitor entende o conto. Nesse plano, as falas em francês podem ser consideradas superficiais, até.

Mas há o plano do discurso. Ou: a maneira como os fatos são narrados, como os personagens nos são apresentados... Ainda: o discurso cria um mundo (aqui, no caso, o mundo se chama “Atrás da Catedral de Ruão”!); as fronteiras desse mundo são estabelecidas pelo discurso. Mais ainda: ele – o discurso - "é" esse mundo! A Análise do Discurso formula o conceito de “morte do autor”, ou seja seu objeto "é" o discurso.

Segundo a AD, o leitor tem que se desdobrar: de um lado o plano da história (em que ele deve prestar atenção no destino das personagens, na ordem dos fatos...); de outro, o plano do discurso (em que se fixa nas idéias do narrador e em sua destreza em exprimi-las) Então uma coisa é o narrador dizer: essa mademoisellle é uma recalcada, reprimida. Outra, é ele mostrar esse recalque, essa repressão. Daí, ele a colocar falando um idioma que não é do leitor, porque assim ela se esconde mais... ele*/ela escamoteia seus sentimentos (os dela!). Ela diz-e-não-diz ao mesmo tempo... e faz-e-não-faz, ao mesmo tempo, o jogo erótico... Sua sexualidade, tão reprimida, é descarregada inconscientemente, seja pela linguagem que usa, seja pela coriza constante (mas isso da coriza já é uma interpretação freudiana...)

Então, o fato de as personagens passarem o conto todo se comunicando... como diriam as meninas, “na meia língua franco-brasileira que se davam agora por divertimento”, é muito revelador. Uma meia língua não existe... O que existem são as meias-palavras que possibilitam o "se tromper de lisière”! ou seja, o sair - ainda que inconscientemente - da fronteira que a protagonista estabeleceu, a partir do que estabeleceram para ela (e para nós todas, as mulheres).

Para esconderem a malícia ambígua do que dizem é que as mocinhas, adolescentes e com os instintos sexuais aflorando, fazem uso das “meias palavras”. Assim, a professora vai pegando trilhas erradas, extrapolando fronteiras sociais... Ao “romper os limites das palavras” ela tenta fazê-lo tb com os convencionalismos sociais. Ela se atropela nas palavras, fica toda desnorteada, esbaforida, erra o caminho de casa. Seu mundo já é, quase, o daquela moça que foi violentada atrás da catedral de Ruão (criada tb, com e pelo discurso)... ela chega, mesmo, a provocar um desvio no seu caminho que a levaria para detrás da Catedral de Santa Cecília... Ali, naquele espaço “pecaminoso”, onde os desejos reprimidos afloram, ela se dá aos delírios de uma velha solteirona virgem, sufocada pelo instinto sexual (assim como já se dera aos delírios devidos às meias-palavras!). É o jogo erótico, construído com e pela palavra, se transportando para a vida da personagem.

Mais: o discurso das personagens é o reflexo de um discurso muito mais amplo, construído a partir de um conjunto de formulações que modelou a mulher, adolescente ou solteirona, a ser, a agir dessa ou daquela forma, a se reprimir, a se esconder diante da força da necessidade sexual, mesmo sendo ela uma necessidade fisiológica (primária) do ser humano, que, por isso mesmo, se revela, cobra, exige... Daí, o jogo do diz-não-diz, do faz-e-não-faz, com a linguagem! Nesse sentido, acho que as expressões em língua francesa são fundamentais e constitutivas para a construção desse "Atrás da Catedral de Ruão".

O que a análise nos leva a concluir é que Mário – e atrevo-me a incluir aqui os demais escritores da primeira fase modernista – transpôs a irreverência, a devassidão e a libertinagem vividas na Semana de Arte Moderna, a despeito do que julgam muitos dos reacionários-leitores-críticos, inclusive de hoje...



.....



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Márcia Regina 27/03/2010minha estante
Muito bom, Rosa. Como sempre, uma verdadeira aula. Gosto demais das resenhas que você escreve.




Eduardo Virgili 22/12/2009

Foi o primeiro livro que li de Mário de Andrade, não o melhor, mas muito bom, e através do qual me interessei para ler os demais.
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