spoiler visualizarmary_dantas 06/06/2021
Um dos meus livros favoritos!
"Nunca julgue um livro pela capa ou título", está aí uma frase que se encaixa perfeitamente com essa história.
Não consigo compreender o porquê desse livro possuir uma avaliação tão baixa, sendo este carregado de contextos maravilhosos do século XIX! Sou perita para falar, pois o clássico Drácula de Bram Stoker possui um lugarzinho especial no meu coração, dessa forma, já era de se esperar que me encantasse com essa releitura.
Com a finalidade de trazer o clássico de Bram Stoker na perspectiva feminina através da romantização inexistente na história original (como no filme produzido pelo Coppola), Karen Essex abordou muito bem o tema mediante a época retratada, mostrando para os leitores que uma boa protagonista nem sempre dispõe de padrões que já estamos cansados de ver no meio literário, além de abordar temas muitíssimo sensíveis a olhos mais vulneráveis.
Vale ressaltar que uma releitura não precisa e nem deve ser uma cópia da história original, então não comecei a leitura esperando encontrar tal coisa. A autora soube levar a história para lados que preconizassem a figura feminina, com a centralidade da história posicionada sob a personagem Mina, ao invés do arraigado Drácula, tal como a obra de Marion Zimmer Bradley, que narra o mito Arthuriano na perspectiva de Morgana em "As Brumas de Avalon". Posso afirmar que gostei bastante da fantasia criada pela autora para enaltecer a figura da personagem discutida através de mitologias que permeiam a região da Irlanda, o que, consequentemente, engrandeceu de maneira veemente a figura feminina, transformando o vampiro em apenas um apreciador de tal fato.
Além disso, a autora aborda temas bastante delicados a respeito da posição feminina na época retratada, uma vez que somos apresentados à pensamentos que permeavam a posição considerada "ideal" para as mulheres e, pasmem, através de uma própria mulher. Ademais, o livro apresenta o chamado "machismo cavalheresco" tão presente naquele contexto, sendo este caracterizado pela falsa preocupação com a condição mulheril. Uma das cenas que mais me invocou a atenção foi, sem dúvidas, aquela que se passa no sanatório, onde o Dr. Seward expõe à Mina a ficha médica de cada mulher internada ali. Neste momento, somos apresentados a "sintomas" exageradamente normais, como por exemplo, o apetite sexual mais apurado, o que para a época era algo muitíssimo grave, sendo até mesmo chamado de "histeria" pelos médicos em questão, como apresentado na narrativa. Achei tal crítica maravilhosamente dolorosa. Também somos apresentados ao personagem Dr. Van Helsing, defendendo a teoria do sangue masculino como domador do espírito feminino pelo marido, além de personalidades horríveis como Arthur Quincey e o idiota do jonathan Harker.
O arco de personagem da Mina também é espetacular! A mesma começa a história com um firme posicionamento acerca daquilo que considera ideal para sua vida e encerra a história mantendo os mesmos ideais, sendo esse, pelo que percebi, um dos motivos que mais causaram indignação aos leitores. Porém, pude perceber a sutileza da autora em dizer, a quem estava disposto a entender, que uma mulher forte e segura de si pode sim compartilhar de tais ideais, desde que enxergue o poder que há dentro de si.
O livro também é repleto de cenas que exalam sensualidade, sendo essas muito bem escritas, sem pudor algum e dotadas de uma naturalidade de tirar o fôlego, muito condizente com todo o contexto presente aqui.
O final me chamou muita atenção também, pois doeu até na alma, e eu pude entender a realidade presente na narrativa, uma vez que a autora trouxe contextos realistas sob uma história fantástica, obrigando a personagem a analisar a situação e a agir com demasiada maturidade e senso de responsabilidade. Fiquei me perguntando se teria tomado a mesma decisão de Mina, e a minha resposta foi, com toda certeza, "sim".
Em síntese, esse é um livro maravilhoso para aqueles que são apaixonados com dramaticidade e que, claro, sabem entender as entrelinhas.