Coisas de Mineira 09/08/2021
As Espiãs do Dia D (Jackdaws, 2001), do autor britânico Ken Follett, foi um dos títulos da editora Arqueiro que veio para nossas mãos no formato Pop Chic, uma nova coleção da casa. Se passa durante a Segunda Grande Guerra, quando a França estava em poder das forças alemãs. O Terceiro Reich estava em expansão, e os alemães em solo francês, tinham a certeza de que revolucionários pretendiam libertar a Europa de suas garras.
“Ninguém está certo o tempo todo, mas, numa guerra, quando um líder se engana, pessoas morrem.”
O BURACO DA AGULHA – KEN FOLLETT | RESENHA
Nossa protagonista, uma mulher extremamente forte, capaz e com um currículo invejável a qualquer oficial, é a agente da Executiva de Operações Especiais, a britânica Felicity Clairet, a Flick – codinome Leoparda. E em As Espiãs do Dia D, esse thriller eletrizante, iremos conhecer os planos de Flick para que a Resistência Francesa consiga eliminar as linhas de comunicação, destruindo (ou causando a maior avaria possível) a maior central telefônica dos alemães, que fica em um Palácio, em Sainte-Cécile.
Esse ataque das Jackdaws não poderia ser se não na véspera do Dia D. A invasão dos Aliados da Normandia, na Operação Overlord, se deu no dia 06 de junho de 1944 e ficou conhecido como o Dia D, acontecendo no norte da França. Dessa forma, Flick, que vinha de um ataque frustrado há alguns dias com uma célula da Resistência Francesa liderada por seu marido, Michel, resolve que irá recrutar algumas mulheres para um novo ataque a essa central telefônica.
“- Você levou uma bala na bunda – falou ela, em inglês. – Está doendo pra burro – retrucou ele em francês.”
O plano é interessante e poderá trazer os resultados esperados. Entretanto, para elencar as participantes desse ataque, Flick irá recorrer a “mulheres” um tanto quanto excêntricas e/ou peculiares. Cada qual com sua especialidade, calculada friamente para o sucesso da missão. A ideia é que essas mulheres consigam passar por empregadas francesas, e assim empreendam o ataque de dentro do Palácio. Então Flick terá que se virar com sua equipe constituída por uma assassina condenada, uma “amiga” aristocrata de sua infância, uma arrombadora de cofres, e um travesti, por exemplo.
Em apenas 2 dias a Major Felicity precisou recrutar e treinar essas voluntárias, que sequer sabiam o teor realmente verdadeiro da missão. Só sabiam que poderiam ser mortas ao executa-la. Flick precisava ter certeza de que sua equipe falava fluentemente o francês, que aprendessem a pular de paraquedas, e que conseguissem se passar por francesas nativas.
Os capítulos são intercalados entre a história da célula de Resistência Francesa, Flick e seus planos, com os capítulos sobre o lado nazista. Os vilões nazistas dessa trama são o Major Dieter Franck, homem muito sagaz, porém sutil em seus atos. Quase sempre consegue os resultados desejados através de torturas tanto psicológicas, quanto físicas. Temos também o Sturmbannführer Willi Weber, que é o responsável pela guarda do Palácio que abriga a central telefônica. Os dois não vivem relações simpáticas. Estão sempre se alfinetando para ver quem manda mais, ou quem consegue os melhores resultados.
“- Sou um existencialista. A guerra permite que as pessoas sejam aquilo que elas realmente são: os sádicos se tornam torturadores, os psicopatas dão ótimos soldados na linha de frente, os valentões e os fracos de espírito têm a oportunidade de exercer sua natureza até as últimas consequências e as putas… essas nunca têm tanto trabalho.”
Para não entregar o “jogo”, só vou contar que o Major Dieter consegue formas de rastrear a célula da Resistência Francesa na qual Michel é o líder. Assim, ele intercepta algumas informações bastante promissoras a respeito da missão de Flick. Essa é a parte da trama mais emocionante. Um thriller digno de tela de cinema! Não esquecendo que no meio de toda essa guerra – literalmente –, Follett consegue encontrar momentos para relações amorosas e sentimentais. Coisa que, eu admiro em sua escrita. Está para nascer alguém que descreva momentos íntimos com tamanho cuidado, sentimento e sensações.
As Espiãs do Dia D, como não poderia deixar de ser, tornou-se um dos romances bastante conhecidos de Follett. Uma história impressionante, de fatos que poderiam realmente ter acontecido da forma que o autor imaginou. Ken Follett tem para mim o mais alto lugar no pódio dos autores de Ficção Histórica. E ele toca o leitor como poucos são capazes. A gente realmente consegue se transportar por entre suas linhas, e sentir-se íntimos de suas personagens.
“- Sim, mas é importante. Quanto mais os jovens souberem das outras culturas, menores as chances de que eles sejam tão burros quanto nós fomos a ponto de se meterem numa guerra com os próprios vizinhos.”
Com certeza você ficará extremamente interessado no confronto entre o perspicaz Dieter Franck e a inteligente e inegavelmente capaz Felicity Clairet. Um “duelo” de gigantes. Você já deve saber que, pelo tema e época em que a narrativa se desdobra, esse é um romance com muitos tiros, mortes, sofrimentos e torturas. Esteja preparado, pois Dieter está no encalço de Flick. E sua obsessão é esmagar a Resistência Francesa.
Concluindo, os protagonistas de As Espiãs do Dia D são ricos em sua psicologia. As contradições que Flick e Dieter vivem dão todo um tempero a mais para essa trama que poderia ser tão somente mais uma história sobre acontecimentos durante a Segunda Guerra Mundial.
Por: Carol Nery
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