Paraíso Perdido

Paraíso Perdido John Milton
John Milton




Resenhas - Paraíso Perdido


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Jorge 27/07/2023

Uma Epopeia Bíblica Clássica
Se já houveram grandes clássicos a respeito da Guerra de Troia, o regresso de Odisseu, a fuga de Eneias e a viagem de Dante ao Inferno, Milton figura entre estes quando escreve a respeito da queda do homem do Paraíso. Um clássico delicioso de se ler, excepcionalmente pela sua fantástica edição por Seixas Fernandes, esclarecendo cada questão linguística de importância, e também citando os significados de alguns vocábulos. As notas de referências culturais de Lima Leitão também foram mantidas.
A trama é essencialmente a narração da primeira parte do Gênesis: Criação do mundo, Adão e Eva no Paraíso, Satã disfarçado de serpente, etc. O que torna tudo isso mais impressionante é a imaginação do autor em dar riqueza de detalhes para essa história que é contada com considerável brevidade na Bíblia. O texto é recheado de referências culturais; um verdadeiro êxtase para os apreciadores de literatura clássica. Além do mais, é evidente a construção de personalidades próprias em cada personagem, baseados no Antigo Testamento, e talvez, muito fortemente, no apocalipsismo.
Um dos indivíduos mais interessantes da obra é Lúcifer. Seu caráter ambíguo, excessivamente orgulhoso, com toques de narcisismo, é um dos traços mais curiosos aqui apresentados. Me parece bastante evidente a influência que este personagem teve na visão do imaginário popular a respeito do Anjo das Trevas. A pintura "Fallen Angel" de Cabanel captura o personagem de Milton com absoluta precisão. Algumas outras pinturas de Gustave Doré também passam a mesma sensação.
Falando em ilustração, vale menção ao trabalho de Wolney Fernandes nesta obra. Suas figuras captam com a mesma exatidão o teor da obra. Durante a leitura, ao passar um capítulo, sempre parei para admirar os desenhos presentes entre as folhas.
Para finalizar, acredito que seja importante ressaltar o trabalho da Martin Claret. Resgataram o clássico de Milton e a tradução de Lima Leitão com grande perícia. Um dos mais caprichados volumes de minha coleção, o qual guardarei com muito esmero.
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samucacn 09/07/2023

Paraíso Perdido (em inglês: Paradise Lost) é um poema épico do século XVII, escrito por John Milton, originalmente publicado em 1667 em dez cantos. Uma segunda edição foi publicada em 1674 em doze cantos, com pequenas revisões do autor.

O poema narra as penas dos anjos caídos após a rebelião no paraíso, o ardil de Satanás para fazer Adão e Eva comerem o fruto proibido da Árvore do Conhecimento, e a subsequente Queda do homem. Após uma invocação à Musa, o poeta descreve brevemente a rebelião dos anjos liderados por Lúcifer, a qual, fracassada, lhes custou o paraíso. Despertando no inferno depois de nove dias de confusão, estes deliberam sobre o que fazer, e Lúcifer, daí por diante chamado Satanás (do hebraico ?????, Satan: adversário), faz saber de um novo mundo e uma nova criatura ? o homem ? que seriam criados por Deus. Os demônios decidem corromper esse novo ser e desviá-lo do Criador, seu inimigo. Entrementes, no paraíso, Deus segreda a seu Filho a iminente transgressão do homem e todo o sofrimento que se lhe seguirá, e o Filho se oferece a si mesmo em sacrifício pela redenção da humanidade. Para assegurar que o homem seja responsável por seus atos, Deus envia um anjo para notificar Adão e Eva do perigo; no entanto, a despeito da advertência, Eva é seduzida por Satanás, então no corpo de uma serpente, e come o fruto proibido, fazendo-o comer também a Adão. Os pais da humanidade são expulsos do Jardim do Éden e tomam conhecimento, como toda a sua descendência, do pecado e da morte; mas uma revelação do futuro consola o primeiro homem, que testemunha o nascimento e a morte do Cristo e a remissão dos nossos pecados.
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Oliver- 03/07/2023

Satã venceu a Batalha mas perdeu a Guerra.
Momentos durante a leitura ??

- "Prefiro ser rei no Inferno do que escravo no Céu"

- "Deus criou todo aquele mal porque somente o mau era bom para eles. Aqui o que é vivo, morre. A morte, vive."

- "Tu da vida imortal me deste a posse; Filho teu, vivo em ti, por ti eu vivo."

- "Como pode o Conhecimento ser um 'Pecado'? Toda felicidade é baseada na Ignorância?"

E o que a história conta? ??

Paraíso Perdido é de longe uma das, se não a melhor, leitura da minha vida. Milton conseguiu relatar maravilhosamente a Perdição do Homem de um forma épica, afinal, estamos falando sobre um poema Épico não é mesmo?

Milton narra a queda de Satã do Céu através de um poema sem rima e maravilhosamente construído. Satã é expulso do Céu e lançado no abismo do Inferno depois de cair por nove dias e nove noites. Furioso pela sua derrota, Satã decide destruir a Criação de Deus ( O Homem ), saindo do Oco em direção ao Paraíso enganando Eva ao oferecer o fruto proibido.

E que história FOD@! Paraíso Perdido é uma leitura essencial, que irá ficar marcada para sempre. Recomendo demais. Leia com bastante calma, use e abuse do dicionário e principalmente da Bíblia, por conta das diversas citações que Milton coloca, agregando ainda mais na sua leitura.
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"Aonde você vai Sam?" 25/03/2023

O que seria de Satã sem Milton?
"O paraíso perdido é um monumento. Uma epopeia pelo menos igual à Jerusalém libertada e a Os Lusíadas, uma das poucas epopéias que ainda se leem com admiração sincera.
(...)
Mas o Paraíso perdido distingue-se de todas as outras epopéias por mais uma qualidade especial: a força dramática da caracterização das personagens; sobretudo o Satã de Milton é um dos maiores personagens dramáticos da literatura universal."

(Otto Maria Carpeaux)


Preciso dizer mais?
amarogusta 25/03/2023minha estante
ouso questionar : o que seria de Milton sem Satã ?


"Aonde você vai Sam?" 28/03/2023minha estante
E o que seria de Mary Shelley sem Frankenstein ou de Bram Stoker sem Drácula?




Marcos606 24/03/2023

Milton observou, mas adaptou várias convenções épicas clássicas que distinguem obras como A Ilíada e a Odisseia de Homero e A Eneida de Virgílio.

Entre essas convenções está o foco nos assuntos elevados de guerra, amor e heroísmo. No livro 6, Milton descreve a batalha entre os anjos bons e maus; a derrota destes últimos resulta em sua expulsão do céu. Na batalha, o Filho (Jesus Cristo) é invencível em seu ataque violento contra Satanás e seus companheiros. Mas a ênfase de Milton é menos no Filho como guerreiro e mais em seu amor pela humanidade; o Pai, em seu diálogo celestial com o Filho, prevê a pecaminosidade de Adão e Eva, e o Filho escolhe encarnar-se e sofrer humildemente para redimi-los. Embora seu papel como salvador da humanidade caída não seja representado no épico, Adão e Eva, antes de serem expulsos do Éden, aprendem sobre o futuro ministério redentor de Jesus, o gesto exemplar de amor abnegado. O amor altruísta do Filho contrasta fortemente com o amor egoísta dos heróis das epopeias clássicas, que se distinguem pela sua bravura no campo de batalha, geralmente incitada pelo orgulho e pela vanglória. Sua força e habilidades no campo de batalha e sua aquisição de espólios de guerra também resultam de ódio, raiva, vingança, ganância e cobiça. Se os épicos clássicos consideram seus protagonistas heroicos por suas paixões extremas, até vícios, o Filho no Paraíso Perdido exemplifica o heroísmo cristão tanto por sua mansidão e magnanimidade quanto por sua paciência e coragem.

Como muitos épicos clássicos, o poema invoca uma musa, que Milton identifica no início do poema, esta musa é a divindade judaico-cristã. Citando manifestações da Divindade no topo do Horeb e do Sinai, Milton busca inspiração comparável àquela visitada por Moisés, a quem é atribuída a composição do livro de Gênesis. Assim como Moisés foi inspirado a contar o que não testemunhou, também Milton busca inspiração para escrever sobre eventos bíblicos. Relembrando as epopeias clássicas, nas quais o refúgio das musas não são apenas os cumes das montanhas, mas também os cursos d'água, Milton cita o riacho de Siloa, onde no Novo Testamento um cego adquiriu a visão depois de ir lá lavar o barro e a saliva que Jesus colocou sobre seus olhos . Da mesma forma, Milton busca inspiração para capacitá-lo a visualizar e narrar eventos para os quais ele e todos os seres humanos são cegos, a menos que sejam escolhidos para iluminação pela Divindade. Com sua referência ao “monte Aoniano”, ou Monte Helicon na Grécia, Milton deliberadamente convida à comparação com os antecedentes clássicos. Ele afirma que seu trabalho substituirá esses predecessores e realizará o que ainda não foi alcançado: um épico bíblico em inglês.

Também invoca diretamente os épicos clássicos iniciando sua ação in medias res. O livro 1 relata as consequências da guerra no céu, que é descrita apenas mais tarde, no livro 6. No início do épico, as consequências da perda da guerra incluem a expulsão dos anjos caídos do céu e sua descida ao inferno, um lugar de tormento infernal. Com a punição dos anjos caídos descrita no início do épico, Milton em livros posteriores relata como e por que sua desobediência ocorreu. A desobediência e suas consequências, portanto, vêm à tona na instrução de Rafael para Adão e Eva, que (especialmente nos livros 6 e 8) são admoestados a permanecerem obedientes. Ao examinar a pecaminosidade de Satanás em pensamento e ação, Milton posiciona essa parte de sua narrativa próxima à tentação de Eva. Esse arranjo permite a Milton destacar como e por que Satanás, que habita uma serpente para seduzir Eva no Livro 9, induz nela o orgulho desordenado que provocou sua própria queda. Satanás desperta em Eva um estado mental comparável, que é representado por ela ter comido do fruto proibido, um ato de desobediência.

O épico de Milton começa no submundo infernal e retorna para lá depois que Satanás tentou Eva à desobediência. De acordo com as representações clássicas do submundo, Milton enfatiza sua escuridão, pois o fogo do inferno, que é cinza, inflige dor, mas não fornece luz. Os tormentos do inferno (“por todos os lados ao redor”) também sugerem uma localização como um vulcão ativo. Na tradição clássica, Typhon, que se revoltou contra Jove, foi lançado à terra por um raio, encarcerado sob o Monte Etna, na Sicília, e atormentado pelo fogo deste vulcão ativo. Acomodando este análogo clássico à sua percepção cristã, Milton traduz o inferno principalmente de acordo com os relatos bíblicos, principalmente o livro do Apocalipse. As representações do inferno no poema também ecoam a convenção épica de uma descida ao submundo.

O poema é, em última análise, não apenas sobre a queda de Adão e Eva, mas também sobre o confronto entre Satanás e o Filho. Muitos leitores admiraram a esplêndida imprudência de Satanás, se não o heroísmo, em confrontar a Divindade. O desafio, a raiva, a obstinação e a desenvoltura de Satanás definem um caráter que se esforça para nunca ceder. De muitas maneiras, Satã é heroico quando comparado a protótipos clássicos como Aquiles, Odisseu e Enéias e a protagonistas semelhantes em épicos medievais e renascentistas. Em suma, seus traços refletem os deles.

Mas Milton compôs um épico bíblico para desmascarar o heroísmo clássico e exaltar o heroísmo cristão, exemplificado pelo Filho.
amarogusta 24/03/2023minha estante
Adorei sua análise, Marcos!


Marcos606 24/03/2023minha estante
Obrigado




Christiane 26/02/2023

A obra é dividida em doze cantos e retrata a história da criação do mundo, do homem e da queda de Adão e Eva.

O poema começa com a rebelião de Satanás e seus anjos contra Deus, e sua expulsão do céu. Satanás, agora o príncipe dos infernos, planeja vingança contra Deus e decide tentar o homem, que é a criação mais querida de Deus. Ele entra no Jardim do Éden na forma de uma serpente, onde convence Eva a comer o fruto proibido da Árvore do Conhecimento, levando à queda do homem.

O poema é uma obra-prima da literatura inglesa e apresenta uma complexa reflexão teológica sobre a natureza do bem e do mal, do livre-arbítrio e do destino humano. Milton também utiliza sua obra para defender a ideia de que Deus não é um tirano, mas sim um governante benevolente que oferece ao homem a liberdade de escolha, mesmo que isso possa levar à queda.
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Rogerio39 12/02/2023

Paraíso Perdido...
Uma das melhores obras e mais difíceis que já li, mais ao mesmo tempo extremamente encantadora, na escrita, dos diálogos nas notas e na forma como Milton recria a história bíblica desde a queda de Satã e a queda do homem. A edição é linda e rica em informação
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Roberto 10/02/2023

Um encorajamento
Dando continuidade ao meu projeto desse ano de ler as obras que são os pilares da civilização, me deparei com O Paraiso Perdido, consisderado por muitos o mais acessível desses trabalhos ( em comparação com a Eneida e a Divina Comédia por exemplo), e realmente a escrita de Milton não é difícil, pois o autor é sempre ( desconsiderando a questão estética do movimento barroco)muito direto nas descrições dos acontecimentos e dos ambientes, sendo um texto bem conciso, com cada livro/capítulo tendo cerca de 35 páginas
Agora, o que pode tornar o livro difícil para muitos é a intertextualidade que o autor adota, sempre usando e abusando de referências da mitologia grega, obviamente da Bíblia Sagrada, e referências históricas, necessitando de um envolvimento do leitor 100% do tempo para ir atrás desses contextos e de uma leitura lenta
A história todo mundo já "conhece ", então essa resenha é mais um encorajamento para quem pensa em lê-lo mas está com receio, eu aconselho a esticar o pescoço e não adiar mais essa leitura, mesmo que não tenha lido os outros textos de referência, é algo que pode ser pesquisado facilmente na Internet, sendo o deesafio formador de um leitor.
caio.lobo. 10/02/2023minha estante
No Paraíso Perdido tem a cena mais horrível de terror que já vi, que é justamente a parte do surgimento de Pecado e do nascimento de Morte


Carlos Nunes 10/02/2023minha estante
Um dos meus livros da vida!!!!




Asdfg8 08/02/2023

Queda de Lúcifer, criação do mundo e de Adão e Eva
É um poema que trata da queda de Lúcifer, a criação do mundo, do Éden e de Adão e Eva, e como está foi induzida a comer do fruto proibido e levou Adão a fazer o mesmo e as consequências disso. Os versos desta edição ficaram muito belos. Se estiver disposto é bom se munir da leitura da Bíblia e de um bom livro de História Geral, mas há boas notas de rodapé nesta edição que permitem que a leitura seja proveitosa mesmo sem isso.
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Mariana113 29/01/2023

É difícil começar a falar de um texto tão emblemático para a literatura mundial, mas principalmente a de língua inglesa. Para nós que estamos no Brasil, é talvez raro ouvir falar de Paraíso Perdido, mas suas noções de espiritualidade e bem e mal estão muito ligadas ao que chega até nós pelo cinema e outras artes anglófonas. Quem não se deparou, após a copa, com a foto do jogador Richarlison sendo comparada com um quadro representando a queda de Lúcifer? Assim como Paraíso Perdido sobrevive nas referências diluídas no nosso dia a dia, ele também reúne em si inspirações de literaturas anteriores, como A Divina Comédia, a Ilíada e, inclusive, Os Lusíadas. John Milton viveu num período conturbado da história da Inglaterra, coroado com a decapitação de um rei e a instauração de um regime político encabeçado por Cromwell, de quem era partidário. Era um estudioso, poliglota, político e religioso; ao escrever Paraíso Perdido ele dispõe de todo esse conhecimento para construir uma obra ambiciosa. Dividido em 12 cantos (books, no original), somos apresentados ao exército recém-caído de Lúcifer e seus comparsas, raivosos e envergonhados da derrota, que vendo-se no Inferno precisam decidir seus próximos passos. Agora chamado de Satã, ele é escolhido como líder, e seu plano de destruir a nova criação de Deus é posto em prática. Acredito que a história de Adão e Eva é conhecida, então não vou me deter nesse ponto. Nosso foco aqui é como Milton se usa dessa história e desses personagens para construir sua epopeia. Como gênero, uma epopeia trata de um herói em sua jornada, enfrentando obstáculos enquanto seu destino é definido pelos deuses. Milton é corajoso e apresenta não um herói, mas seu oposto, ao nos mostrar a jornada de Satã para corromper o homem na sua busca por vingança contra o Criador. Paralelamente, vemos o onipotente e seu Filho discutindo o futuro da humanidade recém criada e o esforço dos anjos em proteger o casal primordial.

A leitura para mim foi tranquila, a edição vem com notas explicativas tanto do Tradutor quanto dos revisores, com explicações de termos, nomes e escolhas. A tradução é antiga, de 1840, e foi a primeira para o português.

No início eu achei que não iria gostar do livro pelo grande apelo religioso, mas a escrita é tão boa e cuidadosa que eu me vi devorando um livro em versos. A experiência de leitura me ajudou a entender como que um livro desse influenciou tanto a literatura e as artes até o dia de hoje. Com certeza é um livro que eu pretendo reler e reler diversas vezes.
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Lopes 28/01/2023

Uma Obra de Arte?
O autor se vale de uma linguagem poética pra descrever os eventos da criação, rebeldia e queda de Lúcifer, queda e justificação do homem, descritos no livro bíblico do Gênesis e outros, pra isso John Milton buscou as palavras e expressões na vida e na mitologia, que melhor descrevessem com seus significados a exata ideia de beleza, sentimento, sagrado, vil, grandeza, dentre muitas outras coisas as quais quis transmitir nessa obra e deixar clara à imaginação do leitor como ele deveria enxergar cada coisa na composição de sua narrativa. Portanto digo que esse livro não é nada menos que uma obra de arte, calculadamente composta.
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Nanda Lima 05/01/2023

O Mal é muito charmoso
Não sei se aqui temos o primeiro vilão charmoso da Literatura, mas certamente é um dos mais. Um Satã Shakesperiano, trágico, estrategista, apaixonado e muito bem articulado. Muitos o interpretam como uma alusão ao próprio Milton e à luta política deste contra o Absolutismo à época. "Melhor ser Rei no Inferno do que servir no Paraíso". Só um gênio cego, exilado político, caído em desgraça para escrever algo tão apaixonante e cheio de fúria poética.
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Gustavo 03/01/2023

A maestria de Milton
Alto Nível, Paradise Lost é um poema épico de altíssimo nível estético, intelectual e artístico. Milton conta sobre como Adão e Eva perdem seu lugar de eterno gozo no paraíso, transportando a perspectiva de seu universo para diversos personagens, entres os quais certamente se destaca Satã. Satã é extremamente desenvolvido, em meio a múltiplos solilóquios, desenvolve sentimentos de vingança, culpa, arrependimento, ódio, entre outros; construindo assim um indivíduo humanizado, com o qual o leitor se identifica muitas vezes. Ademais, retrata muitos outros personagens com maestria semelhante, descrevendo as batalhas de Miguel, tentações de Eva, conselhos do Pandemônio, o inferno, o Caos, o Céu, Belzebu, Belial etc de forma imersiva. Como se não bastasse, Milton insere diversas referências gregas, sumérias e bíblicas à sua obra, deixando o texto extraordinariamente rico.
Essa tradução (Editora 34) é bem difícil de ler, pois preza pelo mantimento da complexidade linguística do texto original, um dicionário por perto é indispensável.
Meu nível de conhecimento literário atual não reconhece defeitos pertinentes nessa obra. Recomendo muito pra quem gosta de mitologia, poemas épicos e histórias bíblicas.
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Marc 01/11/2022

Não sei porquê demorei tanto tempo para ler esse livro. Acho que um pouco por medo, por se tratar de um pilar da cultura. É um livro difícil e complexo em relação à visão do autor, e ao mesmo tempo maravilhoso. Não pretendo fazer um comentário que seja capaz de abarcar essa complexidade, isso seria ridículo, mas vou escrever algumas palavrinhas sobre um ponto que me chamou a atenção durante a leitura.

Existe uma interpretação de Paul Auster na "trilogia de Nova Iorque" que foi a primeira vez que me interessei por esse livro. Ele diz que antes da queda as palavras eram completas, que elas significavam exatamente a realidade daquilo que Adão via e, depois, elas ficam vagas, incertas, imprecisas. Isso é muito difícil de ser percebido, eu diria, mas não consigo discordar. No primeiro momento, sem se dar conta, Adão expressa, através da linguagem, a plenitude da presença de Deus; mas, depois de pecar, as palavras nem mesmo são suficientes para dar dimensão dessa falta.

No entanto, ainda podemos fazer uma outra comparação entre os dois momentos. A razão, que era a faculdade que definia Adão, incluía a fé e a obediência a Deus. Adão não poderia jamais ser visto como irracional, ele era completo, perfeito. Isso, me parece, é um argumento bastante interessante sobre a tola oposição entre fé e razão que alimenta algumas filosofias. A fé, Milton soube notar muito bem, só funciona dentro da razão. Melhor dizendo: a fé é uma manifestação do homem racional, que reconhece a realidade e a compreende. Isso que entrou para o imaginário moderno como fé não passa de autossugestão, uma forma de negação da razão e que é completamente incompatível com qualquer pessoa que deseje uma vida mais amparada na realidade. Não tenho conhecimento suficiente para nenhuma afirmação taxativa, mas fiquei pensando que seria interessante ligar essa concepção ao conceito de utopia que More criou. Porque a negação da realidade, entendida como a ordem, como a relação do homem com Deus e o cosmo funciona como uma espécie de estímulo,na modernidade, para buscar transformar a realidade de acordo com aquilo que se deseja. Forçar as circunstâncias a concordarem com o que pensamos do mundo, não o reconhecimento das limitações que elas nos impõem.

O pecado original. Adão ama Eva e termina a colocando num lugar superior ao de Deus. Somos apresentados a esse trecho do Gênesis como um erro da mulher, que seduz o homem e o convence a pecar. Longe de qualquer feminismo, parece que Adão já havia pecado, já desobedecera aquele que seria o Primeiro Mandamento. Sei que isso é muito complexo e tem sido debatido por muito séculos, independentemente de minha opinião, mas me limito a registrar um aspecto da leitura que pode ser interessante para outros leitores.

Assim, quando o pecado se confirma, os dois descobrem toda a delícia da união carnal, vivem o maior prazer de suas vidas para descobrir que as perdas são infinitamente maiores e mais graves. O pecado afasta o homem de Deus e o torna incompleto. A Linguagem se torna imperfeita, mas, paradoxalmente consegue expressar essa falta: sua imprecisão é a prova de que algo se perdeu, mesmo que ela não consiga denominar bem o que é. A falta, o lugar vazio está nublado, pois nessa ausência, todo a razão é arrastada e se torna também imprecisa, mas a própria existência desse lugar é a prova de que ali estava Deus, pois em contrário seríamos capazes de definir essa falta. Note que eu mesmo estou circundando sem conseguir definir com clareza do que se trata.

O pecado, mais uma vez, não indica apenas nossa queda, esse afastamento, mas as limitações do nosso conhecimento a partir de então. Não podemos mais imaginar o que seja estar na presença de Deus, nossa imaginação - único recurso que nos resta para tentar compensar essa falta - não consegue chegar ao que é toda a perfeição. É por esse motivo, creio, que Milton descreve Adão e Eva enfrentando uma imensa agonia logo depois de ampliar sua consciência num primeiro momento; eles sofrem por perderem a capacidade de compreender Deus.

Eis, portanto, a nossa sina. Incapazes de compreender Deus, seu amor, suas designações. Prisioneiros de recursos que nos dão liberdade, mas que não chegam nem perto de vislumbrar tudo que se perdeu - e que se transformam em meios para nos afastar até mesmo do mundo, já tão repleto de sofrimentos.
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Mateus 24/09/2022

Sei donde vens e sei de onde ir te Cumpre
"Por acaso pedi a Ti, ó Criador
Que do barro me moldasses Homem
Por acaso solicitei-te
Que dá escuridão me resgastasses?"

X, 743-45

Em 1664 a humanidade se encontrava defronte a uma perspectiva até então pretensiosa em relação ao mundo e ao homem, e as diferentes convenções sociais e acontecimentos da época não deixavam de espelhar a perspectiva religiosa e o ardiloso trabalho de um homem.

John Milton teve, por muitos, uma vida conturbada, seus relacionamentos, seus estudos e seus ideais perseguiram-no até seus últimos momentos, poeticamente, tanto em obra quanto em vida.
E que ironia, seu paraíso, escrito, mesmo que seu olhos, mundanos, já lhe falhassem.

Milton reflete todo o seu ideal filosófico em sua obra, o Monismo ao passar dos cantos se mostra cada vez mais presente, fortificando a ideia apresentada em suas personagens e na construção do homem.

Na teologia Milton apresenta ideais, diretamente relacionadas ao protestantismo, trazendo também suas crenças fundadas no Socinianismo, e sua constante indagação para com o Catolicismo, pondo em voga os dogmas e a crença carismática do homem, tendo como plano de fundo as indagações e sua própria obra como suposta metáfora da volta da monarquia inglesa ao poder com Carlos II.

Dito tudo isso, essa obra vai muito além, e não cabe em palavras sua grandiosa tenacidade, sem dúvida a perspectiva conta muito, mas não só isso. Apetece a alma o saber, e que blasfêmia passar por esse mundo sem ter a chance de discordar de Milton, ou de em alguns trechos concordar com seus pontos de vista, sejam eles carregados por seus ideais republicanos, ou por suas idéias teologas, como o "mortalismo"; um prato cheio em todos os sentidos.
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