jota 08/08/2014Fantástica geografiaDiomira, Zirma, Fedora, Zobeide, Eutrópia, Laudônia e muitas outras cidades. É Marco Polo viajando no tempo e no espaço pelo vasto império do tártaro Kublai Khan, enquanto vai destacando suas paisagens ambíguas, os comportamentos singulares dos habitantes dessas cidades, as enganadoras aparências urbanas, etc.
São relatos curiosos e ao mesmo tempo poéticos, plenos de simbologia e encantamento e que não dispensam um bom dicionário (a não ser que você seja um sujeito de grande erudição; eu não sou) dada a quantidade de palavras desconhecidas que encontramos em todas as narrativas.
Para melhor aproveitar o livro – que na verdade é bastante curto, como são curtas as descrições de Marco Polo - é preciso que a leitura seja feita vagarosamente, sem pressa, saborear as palavras servidas, imaginar (até onde isso for plenamente possível) a fantástica geografia que vai se desenhando à nossa frente a partir do que o famoso viajante veneziano nos conta. Melhor, conta para o poderoso Kublai Khan.
Calvino, que sempre é muito imaginativo, aqui é mais ainda e então tem horas em que parece que você está lendo Ficções, de Jorge Luis Borges – pode não ser exatamente isso, minha memória pode estar me traindo, mas foi o que senti em certos trechos do livro. Eu não me espantaria se alguma das cidades de Calvino se chamasse, por exemplo, Uqbar – embora elas tenham somente nomes femininos.
E nas páginas finais o grande Khan “já estava folheando em seu atlas os mapas das ameaçadoras cidades que surgem nos pesadelos e nas maldições: Enoch, Babilônia, Yahoo, Butua, Brave New World.” Ligadão na invisibilidade esse Khan. Marco Polo também.
Lido entre 06 e 08/08/2014.