Marcos606 22/03/2023
O melhor dos mundos
Denúncia selvagem do otimismo metafísico, defendido pelo filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz, que revela um mundo de horrores e loucuras.
O Cândido de Voltaire foi influenciado por várias atrocidades de meados do século XVIII, mais notavelmente o devastador terremoto de Lisboa em 1755, a eclosão da terrível Guerra dos Sete Anos nos estados alemães e a execução injusta do almirante inglês John Byng. Um conto filosófico é frequentemente aclamado como um texto paradigmático do Iluminismo, mas é também um ataque irônico às crenças otimistas. A crítica de Voltaire é dirigida ao princípio da razão suficiente de Leibniz, que sustenta que nada pode ser assim sem que haja uma razão para que seja assim. A consequência deste princípio é a crença de que o mundo real deve ser o melhor humanamente possível.
Na abertura do romance, seu herói homônimo, jovem e ingênuo, educado nesta filosofia otimista por seu tutor Pangloss, que afirma que "tudo é para melhor neste melhor de todos os mundos possíveis", é expulso do magnífico castelo em que ele foi criado. O resto do romance detalha as múltiplas dificuldades e desastres que Cândido e seus vários companheiros enfrentam em suas viagens. Estes incluem guerra, estupro, roubo, enforcamento, naufrágios, terremotos, canibalismo e escravidão. Embora estas experiências corroam gradualmente a crença otimista do protagonista, ele e os seus companheiros demonstram um instinto de sobrevivência que lhes dá esperança num ambiente que de outra forma seria sombrio. Quando todos se retiram juntos para uma vida simples numa pequena fazenda, descobrem que o segredo da felicidade é “cultivar o próprio jardim”, uma filosofia prática que exclui o idealismo excessivo e a metafísica nebulosa.