BetoOliveira_autor 22/06/2020
Elogio à razão
Voltaire se utiliza de uma belíssima e criativa narrativa e nos leva a conhecer uma parte relevante do mundo e seus costumes daquela época, bem como as ideias supersticiosas com que os pensadores iluministas travaram guerra. Razão X Superstição. Ciência X crendices.
A obra vai além disso e sua genialidade é tão relevante que até o implacável Nietzsche se ajoelhou diante do brilhante Voltaire. Este, usava suas obras literárias para alfinetar seus adversários, e Rousseau era um dos seus mais eminentes contendores. Em Cândido, a vítima mor é a filosofia incauta de Leibniz.
É um texto relativamente curto, pela dimensão, podemos dizer se tratar de uma noveleta, e assim penso, pois há vários personagens, e muito bem trabalhados: o próprio Cândido, o seu mestre Pangloss, a amada Cunegunda, Martinho, a velha de uma nádega... E outros tantos.
Pensa numa vida tumultuada? Foi a vida de Cândido, não menos do que todos os outros. A velha declara:
"... quis cem vezes matar-me, mas ainda amava a vida. Essa fraqueza ridícula é talvez a uma de nossas inclinações mais funestas; pois existe algo mais tolo do que carregar continuamente um fardo que se quer sempre jogar no chão? Ter horror ao seu próprio ser? Enfim, acariciar a serpente que nos devora, até que ela nos tenha comido o coração?"
A velha disse essas palavras no final do seu relato sobre como veio a perder um dos lados da bunda. Se ficou curioso, leia rssss
Cândido superou todo tipo de sorte, as piores possíveis, entretanto," fez o que tinha que ser feito", apesar de tudo. Quais forças, quais móveis o fizeram persistir? Só quem ler até o fim a saga do herói Cândido terá acumulado bastante gravetos do conhecimento colhidos página a página, com o objetivo de empreender fogueira e jogar luz sobre a última frase de Cândido na obra, confrontando sabiamente a teodiceia do mestre Pangloss. Cândido, inferiu:
"(...) mas é preciso cultivar o nosso jardim."
Boa leitura!