PorEssasPáginas 11/06/2014
Resenha Tripla: Alameda dos Pesadelos - Por Essas Páginas
Alameda dos Pesadelos é o romance de estreia de Karen Alvares (ela já participou de vários livros de contos e vocês podem conferir a resenha de alguns deles aqui). E sim, essa é a mesma Karen colunista aqui do blog! Como a Lucy e a Adriana também leram esse livro (e para termos uma visão diferente do livro), resolvemos fazer uma resenha. Meus comentários estão em laranja, os da Lucy em azul e os da Adriana em verde.
“A vida é um jogo de tabuleiro; daqueles que você joga o dado e anda uma, duas, cinco casas. Se você não aprender o que tem que ser aprendido na vida, vai ser obrigado a voltar ao início e tentar de novo até conseguir. Se você teimar nos mesmos erros, vai ter que voltar ao início do tabuleiro.
A vida é um jogo, afinal.”
Aquele dia não estava sendo fácil para Vívian. Sexta-feira, estava chovendo e ela não havia escutado o pai e por isso estava sem guarda-chuva. Para piorar, teria que pegar um ônibus na hora do rush e enfrentar o maravilhoso trânsito de São Paulo para voltar para casa. Aaah, aqueles momentos idílicos presa no trânsito, em um ônibus lotado… Sintam a ironia aqui. Com muito trabalho, ela consegue e por sorte ainda senta na janela. Eles acabam passando por um acidente onde dois carros tinham batido e uma moto estava estraçalhada. Ao lado da moto, havia um corpo. E o povo foi todo pra janela do ônibus pra ver, como sempre acontece.
No dia seguinte, Vívian vai com o seu filho Lucas ao cinema assistir Harry Potter (em uma cena que 99% fãs dessa série vão se identificar). Quando eles estão terminando o lanche, Vívian repara em um homem com uma jaqueta de couro que tinha um corvo bordado nas costas (Interessante que o corvo geralmente é um sinal de mau agouro). Porém o mais importante era que ele era o pai de Lucas (viu?). Lucas nunca o havia conhecido e Vívian fica apavorada. Fazia muito tempo que ela não tinha mais contato com ele e por isso sai correndo do shopping. Só que essa não é a última vez em que ela vai encontrar o seu ex-namorado… Depois daquele dia, Vívian passa a ter a sensação de que Gabriel, seu ex-namorado, a estivesse perseguindo nos locais mais improváveis possíveis, principalmente sua mente.
Alameda dos Pesadelos foi uma imensa surpresa para mim. Eu não estou acostumada a ler livros de suspense/terror, porque como eu já disse várias vezes, sou muito medrosa. Esse livro possui cenas bastante fortes – mas nenhuma delas é sem um motivo. Aliás, deixa eu aproveitar pra dizer que achei o livro muito consistente. Sabe quando você assiste um filme desse gênero e percebe que ele não tem lógica nenhuma? Que ele é um recorte de cenas somente para assustar? Isso não acontece em Alameda dos Pesadelos, porque todas as cenas tem um propósito maior, como por exemplo o desenvolvimento do enredo ou dos personagens. Além disso, a Karen trabalha muito mais o terror psicológico, o que é muito mais interessante. Achei que é bem nisso que aparece a influência que gostar tanto de Stephen King teve na sua escrita. Não é simplesmente terror… existem motivos e sentimentos muito vivos por trás de todo o terror. (Quando percebi essa influência fiquei com um sorriso enorme no rosto! No nosso primeiro contato já fomos logo falando dessa paixão pelo King que temos em comum!)
Eu também não sou fã de livros de terror, mas a Karen me prometeu que o livro era mais thriller do que terror… Eu achei uma mistura dos dois e mais uma boa dose de drama – e atesto aqui que tive pesadelos com ele! Em outras palavras, serviu ao seu propósito de assustar e entreter. A narrativa flui fácil e rapidamente; o texto é muito bem construído e tem os “ganchos” certos entre um ponto e outro e não restam pontas soltas na história. A Karen está de parabéns pelos ganchos (mais tarde me explico melhor). A história de Vívian e Gabriel, os fatos que até mesmo ela desconhecia e as coisas que não queria enxergar, faz você gostar e não gostar dela ao mesmo tempo e, por causa disso, você acaba curioso com o que vai acontecer. Além do terror psicológico, também tem as pitadas de drama, fazendo com que a trama evolua de uma história de vingança pura para superação, perdão e redenção. O que me surpreendeu bastante foi essa evolução, como eu disse antes, ser tão consistente. Não acontece do nada, nem é apelativa, tem seus motivos e muito bem embasados.
O livro é surpreendente. Alguns pontos eu descobri durante a leitura (eu também!) (eu também!) - e quase saí dançando com o livro quando percebi que estava certa (eu não fiz isso, mas tudo bem rs) (não saí dançando, mas confesso que falei sozinha). Outros eu nunca iria adivinhar e me deixaram completamente de queixo caído. E a narrativa é muito envolvente – você não consegue parar de ler! Verdade!!! A narração é em primeira pessoa, do ponto de vista da Vívian. Ela vai contando aos poucos sobre o passado dela com Gabriel e com isso o leitor vai ficando cada vez mais curioso. Verdade! Até que chega o momento BAM! no meio do livro – e dessa parte para o final, você simplesmente passa por uma montanha russa de emoções. O final é LINDO e eu chorei (e não, não foi de medo, foi de emoção mesmo).
Por um momento quase passo a não gostar da Vívian. Deixa eu explicar: No começo, ela me pareceu apática e amargurada e conformada com a vida que levava. Até aí, tudo bem. O desdém que ela tinha pela religião dos pais (uma diferente da outra) demonstra bem a sua amargura. Eu tenho tendência a não gostar de personagens que desdenham de crenças religiosas por motivos pessoais mas, conforme a história avança, você passa a torcer pela Vívian, mesmo porque ela também evolui como personagem e corre atrás do prejuízo. O final foi muito bem elaborado e eu adivinhei o que viria no epílogo - mas não tirou a graça da leitura, muito pelo contrário, foi muito bonito!
Mas o que mais me chamou atenção durante a leitura foi que Alameda dos Pesadelos me passou uma mensagem muito bonita. Não, não é aquela coisa de “moral da história” porque o ponto principal é exatamente o desenvolvimento dos personagens. Eles são muito reais: todos eles acertam e erram. A protagonista é sensacional mas infelizmente não posso dizer o motivo por causa de spoilers. O que eu posso comentar é que eu fiquei extremamente orgulhosa dela em diversos momentos. Vívian tenta sempre fazer o que acha certo, mesmo essa não sendo a escolha mais fácil. Não tem como não admirá-la.
Mas Vívian não passa do conformismo e do desdém direto para as decisões acertadas. Ela tem que pastar um pouquinho, que é o que faz com que ela cresça como pessoa.
Eu gostei muito do desenvolvimento dos personagens e da história como um todo. A “moral” da história não está no final, está justamente no decorrer da trama. Você corre, você cai, você levanta e segue em frente. Repetidamente, sem parar. E isso vale para todos.
Todos os que têm contato com ela têm um papel no seu desenvolvimento, seja mostrando um caminho, seja fazendo parte dele. E achei muito legal essa evolução ser mesclada por alguns pontos de um terror psicológico muito bem desenvolvido, culminando num final que me surpreendeu.
Quanto aos “ganchos” mencionados acima… há alguns flashbacks e o passado vai aparecendo aos poucos, atiçando a curiosidade. Mas tenho que ser sincera e dizer que chegou um ponto do livro em que achei que eu ficaria decepcionada, parecia que a coisa ia escorregar para um tipo específico de livro que eu não curto (não posso explicar, por causa de spoilers, de novo!), mas foi engano meu. Que escorregar que nada! Quando eu pensei nisso, em seguida veio um gancho ótimo e a história vai se desenrolando nessa mescla bem elaborada de drama e terror.
“Era o simples fato de que quando eu cometo erros, eu quero consertá-los, ou pelo menos lidar com eles. Apagá-los não era a coisa certa a se fazer.”
Algumas pessoas podem estar pensando “Mas ela só está falando bem do livro porque conhece a escritora (bando de mau caráter promovendo o livro na cara dura! #ironia)“. Quando eu comprei o livro e quando a Karen ficou sabendo que nós iríamos fazer a resenha, ela já sabia que nós iríamos falar a verdade. Sim, mesmo se o livro fosse ruim. E olha que eu falo mesmo! Por que? Porque de nada adianta nós falarmos bem de Alameda dos Pesadelos e depois vocês não gostarem. Isso significa que quando ela escrever o próximo livro ninguém vai se interessar. Através de resenhas os autores podem saber o que eles devem ou não mudar – e assim fazer um próximo trabalho ainda melhor, conquistando ainda mais leitores. Também não endeusamos livros nacionais. Se não gostamos do livro, nós contamos que não gostamos e o motivo.
É um ótimo livro de estreia e acho que quanto mais a Karen amadurecer como pessoa, mulher e escritora, ainda melhor vai ser sua escrita. E nós, leitores, é que estaremos no lucro!
Enfim, se você gosta de suspense/terror, Alameda dos Pesadelos é uma leitura mais do que indicada! E se você não é acostumado a ler esse gênero, aconselho a dar uma chance para esse livro (leia durante o dia, se você tem tendências a pesadelos, ele não é tão pesado assim, eu é que sou sensível demais). Mesmo porque ele vai além do suspense/terror. Ele é muito mais do que uma alameda escura…
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