Maro 21/03/2021Racismo não é um problema meramente comunicativoNão posso dizer que não aproveitei nada do livro: os quatro princípios da CNV são úteis, se você tirar o sumo.
A ideia de ser específico sobre cada um deles na abordagem também me foi muito interessante, pois minha compreensão de ser compassivo sempre foi o contrário. Eu até poderia falar mais sobre isso, mas o lado ruim me foi tão gritante que fica difícil enaltecer o que foi bom.
O livro vira um grande show em que o autor demonstra exemplos de interferências dele em que tudo se desenrola tão convenientemente que você praticamente precisa acionar a suspensão da descrença se quiser continuar lendo.
Os piores de todos são os exemplos que abordam questões raciais. Eu acho que o assunto foi tratado de forma leviana e com uma tremenda falta de responsabilidade. Se foram casos inventados pra agregar público e "ampliar" o alcance das técnicas, isso já é péssimo. Mas se aconteceu de verdade, consegue ser PIOR AINDA. Digo, que bom que houve mediação das situações, mas eu duvido que elas tenham sido resolvidas de fato.
Primeiro, o racismo não é simplesmente uma questão de comunicação. Isso é óbvio, mas em nenhum momento é dito no livro, no qual o autor parece querer apenas fornecer comprovação atrás de comprovação do método, das situações mais simples às críticas. Pode ajudar? Sim. É a solução pra tudo? Muito provavelmente não.
Segundo, nos exemplos dados, as vítimas do racismo é que são orientadas a repensar sua comunicação. Quer dizer, sem um debate mais aprofundado da temática, o texto praticamente parece dizer que pessoas negras são agredidas verbalmente por não saberem se expressar. Você entende o tamanho do absurdo?
Uma situação em particular narrada me fez soltar fumaça das ventas: o caso em que um chefe foi acusado de ser racista por seus funcionários. O autor supostamente orientou os funcionários a formular pedidos específicos para apresentar ao chefe, como "gostaríamos que você não tratasse seus funcionários negros por 'essa gente'". VOCÊ TÁ ME ENTENDENDO O ABSURDO? Por que em nenhum momento foi questionada a comunicação violenta DO CHEFE? Por que a intervenção não foi com O CHEFE, já que a acusação era uma resposta à violência DELE? (que, sendo racista, não é somente uma violência comunicativa, verbal, mas também muito mais profunda) O chefe, segundo narra o autor, deixou de se referir aos seus funcionários negros daquela forma, mas você acha que ele deixou de ser racista? Será que ele apenas não redirecionou seu racismo pra outros tipos de violência? (ex.: prejudicar o desempenho de carreira, espalhar boatos etc.)
Resultado: li "Comunicação não-violenta" e sai PUTA DA MINHA VIDA, com vontade de escrever um livro chamado "Comunicação violenta".