larissa viana 26/01/2023
"é mais importante ser você mesma que qualquer outra coisa"
Sou suspeita pra falar de Virginia Woolf, confesso! Amo sua escrita, suas ideias e tudo que representa e sinto um apego inexplicável por ela. Isso talvez se dê não só por conhecer sua história, mas também pela forma como ela escrevia seus ensaios, de um jeito inovador, sensível; sempre buscando expressar suas experiências e comunicar-se com seu leitor. Sempre de forma fluida, tinha por objetivo educar quem a lia a fim de que compreendesse a si mesmo e melhorasse sua postura tanto social quanto histórica e cultural.
Em 'Um teto todo seu', uma de suas obras mais emblemáticas, baseado em dois artigos lidos para duas faculdades femininas em 1928, Woolf traça uma relação direta entre a criação intelectual feminina e condições materiais; defendendo a tese de que uma mulher precisa de um espaço - um teto só seu - e dinheiro para produzir algo verdadeiramente independente e contrapondo-se à famosa meritocracia e outras ideias especulativas utilizadas ao longo da história para tentar explicar a suposta inferioridade intelectual da mulher.
Aqui, os limiares do gênero textual são borrados e temos um ensaio que pode ser lido como romance (o que torna a leitura ainda melhor); afinal, temos personagens fictícios, enredo e até a narradora muda por vezes. Assim, fugindo da convencionalidade do gênero ensaístico, Virginia escreve de maneira descontínua, o que pode ser visto como uma ilustração do cotidiano das mulheres, no qual elas sempre sofrem algum tipo de interrupção e precisam dar descontinuidade ao trabalho, dificultando seu processo criativo. No entanto, a genialidade da autora não sofre nenhum dano por isso, pelo contrário, sua forma original de construir o texto só evidencia o pedido que ela nos faz para que encontremos uma ''frase feminina", ou seja, uma linguagem própria, original, que difere de tudo que já foi preestabelecido, pois só assim poderíamos expressar-nos genuinamente.
Dentre outros temas abordados por ela temos a crítica aos valores da era vitoriana, às raizes históricas do patriarcado, associando-o ao fascimo, a crítica à guerra, ao capitalismo e ao imperialismo britânico. Em adição aos argumentos irrefutáveis e à beleza da obra, também somos expostos a imagens que perduraram até hoje, quase um século depois, como o gato 'sem rabo', visto de uma janela, que pode ser entendido como uma metáfora da mulher que escreve ficção - raro, mais exótico que bonito.
E, embora, alguns possam argumentar que uma obra escrita há quase 100 anos não tenha muito a acrescentar nos dias de hoje e que a situação das mulheres mudou muito, ainda assim afirmo que este livro, além de não ser nenhum pouco datado, é essencial não só para quem estuda o feminismo mas para qualquer um que queira se tornar um ser humano melhor. O caráter e as ideias humanistas de Virginia Woolf são incontornáveis; é impossível terminar de ler essa obra e não ter aprendido um pouco sequer com ela. Além disso, ainda há muito a ser conquistado pela frente para que nossa sociedade se torne igualitária e nós, mulheres, tenhamos metade do privilégios tidos pelos homens.