Alan 21/02/2015
Bons contos, facil leitura, e ainda atual.
Oh, o Rei de Amarelo.
Admito ser suspeito para fazer a analise de um livro que eu mesmo sugeri para o grupo de leitura que faço parte, e cujo estilo dos contos tanto me agrada. Atualmente, parte das obras de Chambers está enquadrada dentro do que chamamos de cultura Lovecraftiana, mesmo sendo anteriores a Lovecraft, e em alguns casos, servindo de inspiração para o mesmo e muitos autores que vieram depois.
Trata-se de resenha da edição brasileira do livro, aqui publicado pela editora intrínseca (1ª edição, reimpressão de junho de 2014), o qual utilizou papel de qualidade razoável (pólen soft), o que permitiu uma leitura agradável e que não vem a causar desconforto após uma exposição prolongada, não dando um contraste tão grande entre o branco da pagina e a letra impressa. Porem, a capa deixou a desejar, uma vez que o material utilizado pela mesma se desgastou muito em menos de um mês, causando vários pontos em que houve marcas de leitura, manchas brancas e até mesmo em pequeno enrugamento na lombada do livro. Pessoalmente, a arte também deixou um pouco a desejar, mas esse ponto não afeta a qualidade do material.
A introdução apresentada é, embora muito reduzida, bem útil para a compreensão de vários pontos do livro. Embora, quem deseje um maior entendimento ou maiores informações possa buscar tais na internet ou em livros sobre o tema.
Quanto aos contos, o livro, como informado na introdução, pode ser dividido em três partes, sendo a primeira composta por quatro contos voltado para o suspense e o fantástico, com um toque que, atualmente, pode ser considerado como terror leve.
O primeiro conto desta série é “O reparador de reputações”, um conto no qual mostra com ironia o que seria um mundo utópico e futurista para sua época, trazendo previsões, que conforme foi comentado em notas, quase proféticas. Também é um conto que, em minha opinião, poderia ter omitido sua ultima nota, a qual induz o leitor a uma conclusão, evitando deixa-lo em duvida sobre a verdade da situação. Basicamente, conta a história do jovem Castaigne que, em contato com o Sr. Wilde, obteve informações suficientes para, ou lhe dar grandes pretensões, para as quais havia ainda apenas um pequeno empecilho, ou então, um delírio de grandeza entre os dois homens insanos.
O segundo conto, chamado de “A máscara” vem a ser um conto sobre o relacionamento entre jovens artistas, e as consequências dos estudos de um dele. É um conto muito mais suave que o primeiro, voltado mais para o romance combinado com o fantástico, passando-se no mesmo mundo que o primeiro conto, mas em momento anterior. Pessoalmente, eu acredito ser um dos melhores contos presentes ao livro.
O terceiro conto, chamado de “No Pátio do Dragão”, é um conto em que ocorre muita ação, um conto mais rápido e agitado, passando-se no mesmo mundo em que os contos anteriores, no qual um homem corre para fugir que algo que lhe amedronta. É um conto rápido para se ler, de boa qualidade, no qual impera o fantástico.
O quarto conto, que encerra os contos voltados para o fantástico, é “O Emblema Amarelo”, o qual aparenta ter diretas ligações com o conto “No Pátio do Dragão”, tratando de um romance desafortunado entre um artista e sua modelo, o qual sem saber acabam se envolvendo com o fantástico existente no universo de Chambers.
O quinto conto, “A demoiselle d’Ys”, o qual faz parte do segundo grupo de contos, chamado de grupo de transição, é um conto sobre um viajante e uma jovem senhora que ele encontra ao explorar uma região que por ele não era bem conhecida, tratando-se de uma história na qual ainda impera o fantástico, porem o suspense e o leve terror existentes deixam de estar em primeiro foco para serem substituídos pelo romantismo. Creio eu ser o conto mais lindo do livro.
O sexto capitulo, um capitulo chamado de “O paraíso do profeta”, é uma série de poemas curtos, aos quais em muitos dos outros contos existem referencias. Sinceramente, de longe o capitulo menos favorito do livro.
O sétimo conto, e o primeiro do grupo realista, chamado de “A rua dos Quatro Ventos” trata sobre o jovem artista Severn, e a idealização sobre como seria a dona de um gato que em seu apartamento aparecera, um conto romântico com um leve toque de insanidade.
O oitavo conto, chamado de “A rua da primeira bomba” é um conto mais longo, e um pouco mais voltado para o romântico, trazendo a história do Quartier Latin, o bairro onde, nele ou em suas proximidades, se passam grande parte dos contos apresentados no livro. Nessa história acompanhamos a vida de alguns dos moradores do local durante a guerra contra o império alemão, e ao mesmo tempo nos é apresentada a insignificância do homem perante o que ocorre a sua volta e o acaso.
O nono conto, chamado de “A rua de Nossa Senhora dos Campos”, é um belo conto romântico com uma carga de quebra de paradigmas e superação de barreiras sociais, passando-se no mesmo mundo e tempo do conto “A rua dos Quatro Ventos”. É um belo conto, mas a sua leitura foi um pouco mais cansativa.
O décimo conto, chamado de “Rua Barrée”, é mais um conto romântico, sobre um artista de coração e alma limpa na corrida pelo amor de uma misteriosa mulher, envolvendo varias pessoas presentes ao conto “A rua dos Quatro Ventos” e “A rua de Nossa Senhora dos Campos”. É um conto belo, mas que peca por cair no mesmo tom do conto anterior.
Quanto ao estilo de escrita, posso afirmar que é, em sua maioria, de fácil absorção e que prende o leitor em sua leitura, sendo que as poucas expressões em francês não traduzidas não causam dano a leitura. Pessoalmente, achei ser um ótimo livro, salvo pelo sexto capitulo, cuja leitura vale a pena, uma vez que este serviu de inspiração para grandes obras que atualmente existem, e pelo fato de ser um livro que, em um dia é possível de se ler inteiro sem ficar cansado.