drago 09/01/2022
"Just because someone smiles doesen't mean that they're happy"
gatilhos no livro: depressão, suicidio, tentativa de suicidio, pensamentos suicidas, self-harm, distúrbio alimentar, comportamento obsessivo compulsivo.
Esse livro é a definição de um livro que pode ser experienciado de muitas maneiras diferentes. Eu nunca entendi como tanta gente podia amar esse livro e tanta gente odiar, mas depois de ler eu entendo completamente como isso é possível.
Solitaire (“Um ano solitário” em português) é um livro que fala sobre Tori Spring, uma adolescente depressiva que não tem muitos amigos. Quando ela conhece Michael Holden, e um anônimo chamado Solitaire começa a bagunçar as coisas em sua escola, a rotina pacata de Tori passa por mudanças.
Quero começar falando que esse livro mexeu muito comigo e eu tenho muitas resenhas acumuladas mas simplesmente não me aguentei e estou escrevendo essa aqui logo depois de ter acabado o livro.
Quero começar falando da Tori, já que ela é a protagonista e ver mais sobre ela molda toda a forma que esse livro te afeta. Acho que a Tori é uma personagem muito única e complexa e muita gente pode achar ela insuportável e não gostar da forma como ela age e lida com as coisas e as pessoas ao redor dela. Eu não a vi assim. Não sei se foi porque eu me identifiquei muito com ela ou porque eu não busquei saber quem ela realmente é. Eu não busquei traçar um perfil pra ela, pois como a própria Tori diz no livro, ela não quer pessoas tentando entender quem ela é quando ela mesma não entende. Acho que isso torna o livro uma coisa diferente para cada pessoa.
Eu me envolvi com a Tori e eu às vezes entendia ela e às vezes não, e tudo bem. A Tori não é uma personagem fácil de entender e talvez ninguém vá entender ela por completo. Esse livro é muito profundo e fala de coisas bem pesadas, muitas vezes eu tive que parar de ler porque eu ficava genuinamente mal com as coisas que a Tori dizia, com as coisas que ela sentia (ou não sentia, no caso). É com certeza uma história focada nessa vivência da Tori e em como ela reage às coisas mesmo quando está tudo uma zona ao redor dela e dentro dela. Talvez eu tenha me afetado tanto por me identificar com a Tori em diversos momentos. Eu só li esse livro como algo real demais pra ter qualquer coisa dando certo, qualquer coisa sendo perfeita. Eu não tinha absolutamente nenhuma expectativa.
Sobre todo o enredo da história e o plot dela, eu realmente não senti a presença disso na história e muito menos a relevância desses acontecimentos. O que muitos acharam um ponto ruim do livro, eu simplesmente não vi como um problema. Levando em conta que esse é um livro completamente envolvido com a protagonista, se ela não liga pras coisas, se ela não demonstra interesse ou sentimentos genuínos direcionados a algo, como a coisa pode demonstrar tanta relevância? Não pode. Quando Tori se envolvia em algo na narrativa, eu conseguia sentir a relevância daquilo. Eu reconheço que o enredo poderia ser melhor desenvolvido como ele por si, mas a forma como a Tori vive esse enredo me pareceu muito compatível com o livro.
Acho que esse livro não foi feito pra agradar ninguém. Ele é algo sincero e que me fez refletir muito. Acho que o final pode ter sido um pouco corrido e confuso, mas eu não vejo porque dar tanta relevância pra isso quando o principal é a gente acompanhar a Tori e tudo que ela pensa e toda a forma que ela vive as coisas, e como ela é confusa, estressada e frustrada e como ela não vê razão nas coisas, como ela não deseja nada. Se você quer ler esse livro esperando algo bem definido, algo com vida, não vai ter o que quer, porque essa não é a Tori, não é assim que ela se sente então não é essa vibe que o livro vai passar.
Agora eu vou falar de Michael Holden, o personagem que apareceu na vida da Tori e mudou a vida dela. A relação deles é muito diferente de qualquer outra que eu já tinha lido, mas ela é tão bonita, tão genuína, tão pessoal e tão única que eu me apaixonei por eles dois. As complexidades dessa convivência, as inseguranças, honestamente, tudo que essa relação envolve é profundo, e é emocionante ver como eles passam a se conhecer e como a visão da Tori em relação a ele muda e a percepção do leitor também muda. Tori passa a entender Michael melhor e nós também, e logo nós passamos a ver ele como uma pessoa real, não um personagem. Ele não é um príncipe, ele não é imune a falhas, mas quem é? Eu amei o Michael e eu amei a Tori e eu amei eles dois. Eles me deram esperança, assim como eles SE deram esperança.
Acho que deu pra perceber que esse livro teve grande importância pra mim e ele mostrou muitas coisas que normalmente os livros não mostram. Eu não acho que algum dia eu vou reler esse livro e também acho que minha experiência com ele poderia vir a ser muito diferente.
Honestamente, é um livro muito difícil de avaliar e acho que ele vai significar muito para uns e nada para outros e tudo bem.
Eu também não sei nem se cabe uma recomendação desse livro. Não é uma leitura pra se divertir, não é uma leitura que eu sei que vai agradar a todos e também não é a melhor obra de Alice Oseman, mas se você quiser ler, apenas saiba que é um livro pesado e que é provável que você se decepcione e que esse livro seja diferente do que você imaginou.
Essa resenha tá muito confusa, eu sei, mas não consigo expressar claramente meus sentimentos em relação a esse livro.