Raniere 03/05/2016
CONHEÇA OS FANTASMAS DO PASSADO DE LOCKE LAMORA EM REPÚBLICA DE LADRÕES
Primeiro: Vários ladrões e chefes e quadrilhas são assassinados em Camorr, e Locke Lamora, junto com seus companheiros (que formam os Nobres Vigaristas) acabam sendo colocados no meio dessa onda de mortes, atribuídas ao Rei Cinza, que visa destronar o Capa Barsavi (um tipo de líder de todas as gangues).
Depois: Locke e Jean, únicos sobreviventes dos Nobres Vigaristas, fogem de Camorr e vão parar em Tal Verrar, onde eles planejam roubar a inexpugnável Agulha do Pecado, a maior casa de jogos do mundo, onde trapaceiros são punidos com a morte. Porém, seus planos acabam sendo revelados para Stragos, um líder militar verrari e rival do Requin, Dono da Agulha do Pecado. O poder de Tal Verrar é competido por estes dois, e Stragos resolve manipular os Nobres Vigaristas, envenenando-os e, em troca de uma pequena dose do antídoto, dado periodicamente para Locke e Jean (apenas o suficiente para que eles não morram durante a missão, mas não o necessário para curá-los), eles precisam soltar uma tripulação de piratas da prisão, apresentando-se como capitão e imediato (mesmo Locke e Jean não entendendo nada de navegação), ir para alto-mar e instigar outros piratas a atacarem Tal Verrar (eles não atacam mais a cidade, pois a segurança dela é muito alta). Assim, a população verrari se sentirá amedrontada e Stragos, mostrando todo o seu poderio militar e prendendo os piratas, poderá se reafirmar como protetor de Tal Verrar.
Agora: Sem ter tomado o antídoto para o veneno que tomou em Mares de Sangue, Locke Lamora está quase morrendo, e Jean está desesperado, procurando um alquimista para curar o amigo. Porém, a salvação aparece do lugar mais improvável: seus arquiinimigos, os Magos Servidores, vão realizar eleições no Conselho dos Magos, e as duas facções concorrentes precisam que alguém faça o trabalho sujo, manipulando os votos, subornando eleitores, etc. Locke e Jean são ideais para o serviço. Porém, a facção rival contratou Sabeta Belacoros para o mesmo serviço. Sabeta é ex-integrante dos Nobres Vigaristas, além de suas habilidades se igualarem com as de Locke. Para completar, Locke continua completamente apaixonado por Sabeta.
República de Ladrões tem o estilo bem diferente dos seus dois antecessores. Sim, é uma batalha de inteligência, e tem momentos bem engraçados, além das tiradas sarcásticas e debochadas dos personagens e do próprio autor. Porém, este livro foca bastante no passado de Locke e na relação dele com Sabeta, personagem que, até agora, tinha sido uma total desconhecida para os leitores.
Assim como nos livros anteriores, cada capítulo de República de Ladrões é separado em duas partes: uma conta a história no tempo presente, a outra conta uma história do passado do grupo. Deliberadamente, Scott Lynch havia contado partes do passado de Locke evitando que Sabeta aparecesse, salvo algumas menções a ela. Agora, os interlúdios focam principalmente na relação dela com Locke, desde o dia que Locke a conhece até o dia que Sabeta resolve abandonar a gangue. O principal foco dos interlúdios é quando os Nobres Vigaristas, ainda jovens, recebem a missão de encontrarem um amigo de Mestre Correntes, responsável por um grupo de teatro, para participarem de uma peça, para que os Nobres Vigaristas melhores capacidade de representação deles.
Não sei se posso dizer que República de Ladrões é o melhor livro da série Nobres Vigaristas, mas com toda a certeza este é o livro mais sombrio. Além da história se passar no covil dos Magos Servidores (que são personagens bem arrepiantes), este livro foca, também, na origem de Locke Lamora, até então desconhecida. A única coisa que sabemos, até agora, é que Locke, quando criança, saiu de uma cidade onde todos os moradores foram dizimados por uma doença. E Locke não lembrava (e ainda não lembra) de absolutamente nada antes disso, tendo inventado, inclusive, seu próprio nome. Foi deixado implícito que sua origem seria sombria, e Scott Lynch não decepcionou neste ponto.
Além disso, os eventos do livro ocorrem de tal maneira que uma expectativa enorme é criada no leitor, junto com a certeza de que algo terrível vai acontecer no final e que algum personagem querido pode morrer. Ao mesmo tempo em que temos vontade de devorar o livro inteiro, não queremos chegar na parte terrível que supomos que vá acontecer.
A narrativa de Scott Lynch é impecável! Sua forma de escrever é envolvente, fazendo o leitor imaginar perfeitamente a história contada pelo autor. Em um livro onde a principal arma dos personagens é a inteligência, Scott Lynch manipula o leitor para que este chegue às conclusões que ele (Scott) quiser, podendo assim preparar umas reviravoltas bem surpreendentes. Nós, leitores, ficamos completamente na mão do autor.
A série Nobres Vigaristas é leitura obrigatória para todo fã de fantasia. Indicada também para fãs da trilogia A Crônica do Matador do Rei, de Patrick Rothfuss (que afirmou que, se Locke e Kvothe fossem do mesmo universo, seriam melhores amigos), a obra de Scott Lynch é inteligente e envolvente, com personagens debochados, sarcástico e sem o mínimo de escrúpulos.
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