Rafa 06/11/2015
Alguns autores conseguem fazer boas histórias mesmo com um monte de clichês.
Esse não conseguiu.
O Maravilhoso Agora é uma história de clichês, com personagens clichês e situações clichês.
O Baile-de-formatura está lá. Adolescentes bobos fazendo bobagens estão lá. "O CARA mais legal e popular do colégio se interessa por uma menina nerd e antissocial", quantas vezes já vimos isso? É uma odisseia americana sobre adolescentes, com os já consagrados (e aborrecidos) estereótipos do gênero.
Sutter Keely é o protagonista e narrador. É um típico alcoólatra-que-não-admite-que-é-alcoólatra. A repetição de "7UP" ao longo do livro irrita. Sutter está SEMPRE bebendo, e com as explicações mais esdrúxulas para isso. O personagem é um perdido, é inconsequente, desumilde, manipulador e egocêntrico. Resumidamente, nosso narrador é um sujeito absolutamente "ingostável", o que torna a leitura um tanto irritante. Ele sofre com rejeições e problemas pessoais, mas isso não o redime das diversas m* que faz ao longo do livro, e o pior: ele não aprende com os erros, não evolui. Sofri pra sentir empatia por Sutter. No fim das contas, só senti raiva.
Aimee é a garota boazinha e submissa que substituirá a antiga namorada de Sutter. Quando vemos uma personagem assim se relacionando com um tipo do Sutter, imaginamos que ela o transformará, mostrará para ele "a luz". Mas é justamente o oposto. Sob a influência de Sutter, Aimee perde sua docilidade e começa a beber descontroladamente. Gostei que ela tenha tomado uma atitude com relação aos abusos que sofria, mas vê-se que a personagem anulou-se por Sutter, para agradá-lo, deixou de ser ela mesma. Aimee, apesar de estereotipada, ingênua e boazinha é a melhor personagem do livro.
Os demais personagens não tem destaque o suficiente. Ricky, o melhor amigo de Sutter, parece interessante, mas funciona como uma extensão do próprio, se apagando totalmente ao arranjar uma namorada. Cassidy, a ex-namorada de Sutter é tão "ingostável" quanto o próprio.
As primeiras 50 páginas de O Maravilhoso Agora, resumem-se a um "American Pie literário". Sutter descreve como sua namorada é gostosa, como ele já namorou gostosas, como gosta de beber e de festejar, como odeia a escola, etc, etc, etzzZZZZzz.... Tédio completo. As coisas começam a melhorar quando ele conhece Aimee, o que vai levar umas 100 páginas.
O livro está repleto de diálogos dispensáveis. O autor tenta dar profundidade aos seus personagens adicionando às falas alguma filosofia, o que é muito legal, mas quando os personagens são tão bobinhos, soa simplesmente ridículo. Há páginas maçantes descrevendo festas e bebedeiras, cenas enfadonhas, que dá vontade de pular, simplesmente.
O livro traz uma mensagem legal: Caro adolescente da classe média, festas, bebidas e "namorar gostosas" não são as coisas mais importantes do mundo. A vida é muito maior do que isso, e, se você tem 18 anos e é alcoólatra, algo está muito, muito errado com você.
Ou talvez a mensagem final não exista, afinal de contas o livro é muito realista, inclusive ao afirmar que as pessoas não mudam nem para salvarem a si mesmas.