Aione 10/09/2014A cada vez que escrevo uma resenha sobre algum livro de Nicholas Sparks, sinto-me repetitiva: ou me pego falando de como o desenrolar da história me desagradou por ter seguido uma fórmula e, assim, ter sido previsível e incapaz de me emocionar, ou – na maioria dos casos – como me envolvi com os acontecimentos e personagens, a ponto de ser tomada por diversas emoções e ter terminado a leitura acreditando que aquela se tornou, para mim, a melhor dentre as obras do autor. Em O Resgate, felizmente minha experiência se enquadrou no segundo caso.
Novamente, as descrições das cenas foram tão completas e fluidas que foram perfeitamente visualizadas, como se eu estivesse assistindo a um filme. Também, foi impossível não me envolver com a história e com as personagens, principalmente a protagonista, Denise. Ainda que a narrativa seja em terceira pessoa, ela aproxima muito bem o leitor dos personagens, mesmo que alterne a visão, em determinados momentos, de acordo com cada um.
Sem dúvida alguma, a parte que mais me comoveu foram os obstáculos enfrentados por Denise com relação a Kyle. O garoto, por apresentar um distúrbio auditivo raro que não o permite compreender muito bem a linguagem, apresenta uma comunicação verbal bastante limitada, e o autor explorou com maestria todas as implicações desse fato: as dificuldades de Denise durante o diagnóstico do garoto, que demorou a acontecer; seus receios sobre o futuro de Kyle, já que é impossível prever sua evolução; sua própria vida, pessoal e profissional, ter sido inteiramente modificada para se dedicar inteiramente ao filho. Ao terminar a leitura, completamente emocionada, voltei a me emocionar lendo a nota do autor: seu segundo filho, Ryan, tem o mesmo problema de Kyle, o que tornou fácil compreender o porquê de Sparks ter escrito com tanta propriedade sobre o assunto.
“- Você tem sorte.
Denise olhou para ela, interrogativa.
(…)
– Eu disse que você tem sorte. – Ela apontou a cabeça para o filho. – Este aqui nunca cala a boca.
(…) Enquanto caminhava na direção do carro, sentiu uma súbita vontade de chorar.
– Não – sussurrou para si mesma. – Quem tem sorte é você.”
página 10
Kyle, independentemente de ser ou não um garotinho “normal” – como muitas vezes a própria Denise ressalta – é encantador, e foi impossível não me apaixonar e me afeiçoar por ele, ao mesmo passo em que admirei Denise, principalmente por sua força. Ainda assim, o autor também mostrou seus momentos de dúvidas, em que ela questiona seu papel de mãe quando perde, parcialmente, a cabeça com o filho. Assim, a personagem se mostra humana, e não idealizada.
Ainda que o romance tenha me agradado, não foi a parte de maior destaque, para mim, ofuscado pela presença de Kyle. De qualquer maneira, gostei de seu desenvolvimento e, principalmente, do papel de Denise e Kyle como redentores para Taylor, que convive com seus próprio demônios. O título “O Resgate” pode se referir ao acontecimento em que aproxima Denise de Taylor e dá início à história, mas, em minha opinião, diz muito mais respeito ao que Denise e Kyle causam em Taylor.
“Quando tocou o rosto de Denise, ela fechou os olhos, desejando se lembrar daquele momento para sempre. Sabia intuitivamente o significado do toque de Taylor, as palavras que ele não dissera. Não porque o conhecesse muito bem, mas porque se apaixonara por ele no mesmo instante em que ele se apaixonara por ela.”
página 195
Merece ser citado o fato de que senti raiva de Taylor em determinados momentos por sua maneira de conduzir as situações, provando, novamente, a veracidade com que Sparks escreve suas histórias. Foi muito fácil compartilhar dos sentimentos e temores de Denise e, dessa maneira, peguei-me sofrendo junto da protagonista.
Ainda que os principais focos da história sejam esses dois citados por mim, Sparks construiu um cenário mais amplo e complexo, mostrando, também, o casal de amigos de Taylor, Melissa e Mitch, e sua mãe, Judy, apresentando, assim, outras formas do sentimento central de suas histórias: o amor.
Em linhas gerais, O Resgate é uma obra emocionante principalmente pela questão mãe e filho, mas que também tem seu mérito no romance desenvolvido. Como postei em minha página pessoal do Facebook ao terminar a leitura, ficou claro para mim que para escrever romances como esse não basta ao autor entender de escrever. É preciso, principalmente, entender de amar.
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http://minhavidaliteraria.com.br/2014/08/05/resenha-o-resgate-nicholas-sparks/