Yara 02/11/2023
Gostei muito, mas entendo quem não gostou.
A sensação que eu tive foi a de estar lendo dois livros em um só: um de autoajuda, com insights que eu, tendo meros 21 anos e lendo após um término (me julguem), achei muito bons; E outro de romance teen, com uma história rasa, juvenil e previsível, que contradiz tudo o que a parte de autoajuda prega.
A protagonista, por exemplo, é bem difícil de se gostar. Isabela é uma menina de 22 anos mimada e superficial, que não precisa se preocupar em trabalhar, não arruma a casa, sobe nas costas dos outros pra passar na faculdade, é 100% caretona, tem tudo de graça na vida, só olha pro próprio umbigo, fica a tarde toda na frente do espelho e dá pitis por coisinhas fúteis. Parece que a maturidade dela parou nos 15 anos de idade.
Todos os relacionamentos da protagonista são ridiculamente rasos e pouco críveis, provavelmente porque os personagens não têm profundidade. De modo geral, todos na história vivem em função da Isabela - e 98% da personalidade deles, que não tem a ver com ela, bem, não tem a ver com ela, então não vale a pena contar. É como se o livro - narrado pela própria bendita - só se preocupasse com os personagens quando eles tem utilidade pra ELA nos problemas DELA. No nível de você só descobrir que a garota tem um irmão quase no final do livro porque ela citou ele e nem reparou. É uma bolha narrativa sem intrigas nem reviravoltas. Sem falar que a "evolução" da protagonista não existe, a menina só anda em círculos, pulando de um relacionamento frustrado para o outro e no final nem tem um desfecho satisfatório.
Não me leve a mal, as passagens são sim gostosinhas de ler e em momentos são engraçadas. Eu mesma me identifiquei com mil acontecimentos da vida da menina, mas é que realmente não é nenhum best seller.
Felizmente, o livro alterna entre isso e passagens avulsas lindamente escritas, que são percepções e reflexões sobre relacionamentos, não só os amorosos. Fala bastante sobre decepções, superação, amor próprio, luto, relacionamentos saudáveis e relacionamentos sem prppósito que precisam de um ponto final. Particularmente, eu achei bastante terapêutico, afinal eu escolhi o livro a dedo para me ajudar na fase que estou passando na minha vida. Admito que grifei e anotei muita coisa, principalmente no fim, que fala sobre o título da obra, explicando o que é, de fato, o desapego.
Feitos todos esses comentários, uma das interpretações que tive é que, independente dos aspectos práticos da vida (estudos, trabalho, finanças, vivências, costumes, tamanho do umbigo etc), as mulheres têm essa coisinha em comum, que nos torna muito parecidas apesar das nossas diferenças: o processo de evolução pessoal diante de relacionamentos ruins.
Ao meu ver, a leitura vale super a pena e é bastante positiva. Pra finalizar, deixo aqui uma das várias frases que mais gostei do livro: Aquele que se ama se basta.