MiCandeloro 24/10/2014
Totalmente diferente de tudo que já li!
Leo nunca teve muitos amigos, porém, também nunca enfrentou animosidades no ambiente escolar. Leo produzia e dirigia um programa interno de televisão chamado Cadeira Elétrica com seu amigo Kevin, e todo mês entrevistava um aluno da Escola de Ensino Médio de Mica, onde estudavam, e sonhava em ser jornalista e apresentar programas de esportes ou de notícias.
Kevin e Leo eram melhores amigos há anos, desde que chegaram ao Arizona, e tinham muitos gostos e hábitos em comum, e geralmente concordavam em tudo, até a chegada de uma aluna misteriosa no colégio. Estrela Caraway chamava atenção por onde quer que passasse, não só por causa de suas vestimentas peculiares, ou do seu nome inusitado, mas porque Estrela era diferente.
Despreocupada com o que os outros pensavam dela, extravasava seus pensamentos e vontades com tamanha naturalidade. Se quisesse tocar seu ukulele em pleno refeitório e cantar parabéns para um desconhecido, ela fazia. Se lhe dava na telha de correr pelo campo de futebol americano bem no meio de um jogo, roubando a bola dos jogadores, subindo nos pilares e dançando feito doida junto com a banda no intervalo, nem cogitava. Afora certas extravagâncias, o que mais tornava Estrela única eram seus atos de gentileza para com os demais, principalmente com estranhos.
Estrela gostava de presentear as pessoas com cartões e pequenos mimos, de decorar as mesas dos colegas, de fotografar sujeitos escondida, de ir em velórios sem ser convidada, de deixar lembranças na porta das casas de vizinhos, e assim por diante.
De início, os alunos ficaram atônitos com o comportamento de Estrela, observando-a de longe e ficando com medo de se aproximar. Em seguida, Estrela cativou a grande maioria, que achou o máximo ser diferente, fazendo aflorar a individualidade de cada um e fazendo com que as pessoas perdessem o temor e a vergonha de serem fieis a sua natureza. Mas tanto destaque assim incomoda muita gente, principalmente quando não se é bem compreendido.
A grande dúvida que pairava sobre todos é de se Estrela era real. Seria ela uma farsa, uma santa, ou uma infiltrada pelo Diretor para botar o colégio de pernas para o ar?
"Ela era fugaz. Ela era hoje. Ela era amanhã. Ela era o aroma mais suave da flor de um cacto, a sombra fugidia de uma coruja marrom. Nós não sabíamos o que fazer com ela. Em nossa mente, tentávamos fixá-la em um quadro de cortiça como uma borboleta, mas o alfinete simplesmente se soltava e ela voava para longe."
Logo depois de uma grande confusão envolvendo Estrela, todos aqueles com quem a garota passou a se relacionar, principalmente Leo, terão que fazer uma grande escolha: do lado de quem ficar, de Estrela ou dos demais?
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
***
Até hoje, só ouvia elogios sobre A extraordinária garota chamada Estrela e a escrita de Jerry Spinelli. Quando comecei a ler, não tinha ideia do que esperar da obra, já que nem a sinopse tinha lido. Adorei o texto leve, delicado e fluido em primeira pessoa, mas confesso que tive certa dificuldade de me envolver com a história.
A premissa é muito interessante, apresentar as nuances do ambiente escolar e a dificuldade de se lidar com o diferente, abordando o preconceito, o bullying e a necessidade que os jovens têm de viver em grupos, mantendo determinada identidade padrão e excluindo todos que não se encaixam. Mas inúmeras vezes, enquanto lia o livro, me perguntava onde é que o autor queria chegar. Qual era a moral da história? Que lição ele queria que a gente aprendesse? E meio que terminei de ler sem descobrir essas respostas. Aliás, nem acreditei que aquela última linha era o final de fato, que para mim acabou assim do nada, sem um desfecho apropriado.
Fiquei dias pensando em A extraordinária garota chamada Estrela, tentando analisar e compreender a obra, que possui um enredo levemente diferente e muito sutil, até chegar à conclusão de que, talvez, a intenção de Jerry fosse justamente nos suscitar dúvidas e nos estimular a ir atrás das nossas próprias verdades. É fato que o que mais me atraiu na trama foram as particularidades de Estrela. Ansiava em saber mais detalhes sobre ela e quis desvendar a menina com tamanha urgência. Entretanto, ficou claro que Estrela não poderia ser rotulada, era impossível conhecer todas as facetas de uma menina tão complexa, profunda e pura. E claro, isso me frustrou um pouco.. hehe.. sou muito curiosa.
Foi muito interessante acompanhar a história pela perspectiva de Leo. Dividir suas inseguranças, anseios, medos e desejos. Perceber como ele enxergava Estrela e como ele observava as atitudes de uma jovem tão diferente, que despertava sua empatia, mas ao mesmo tempo o assustava. A relação criada entre eles foi bela, mas ao mesmo tempo decepcionante, pelo fato de que Leo nunca conseguiu entrar de cabeça nessa amizade, já que, por mais que não quisesse, nutria um sentimento de vergonha por Estrela. Ele gostava dela, queria Estrela por perto, mas, apesar de se orgulhar dela, também queria que ela mudasse e ficasse igual aos demais para que pudesse envolver-se com a menina livremente, sem tornar-se alvo de olhares e comentários maldosos.
A extraordinária garota chamada Estrela é uma leitura obrigatória e nos ensina que devemos nos abrir mais para aceitar pessoas que têm muito a acrescentar nas nossas vidas, mesmo que elas não sejam exatamente do jeito que a gente gostaria.
Resenha originalmente postada em: http://www.recantodami.com/2014/10/resenha-a-extraordinaria-garota-chamada-estrela.html