Ebenézer 09/05/2021
Valeu a releitura.
Sou sim do tipo que relê livros...
Não me incomoda refazer o percurso com o autor.
Na verdade, retorno aqui para fazer uma autocrítica: quem sou eu para julgar precipitadamente, numa leitura ansiosa de poucos dias, uma obra que consumiu mais de uma década de longa maturação do autor, e cuja publicação demorou outro tanto para se realizar?
Assim foi comigo: aligeirado, detestei a minha primeira leitura dO Mestre e Margarida. Há pouco tempo concluí sua leitura e anotei naquele momento a minha frustração do que considerei pouco produtiva, porque o livro não despertara, ou melhor, não satisfizera minha expectativa, sobretudo, por estar diante de uma literatura russa da qual imaginava extrair grande prazer, o que não ocorreu naquela malfadada empreitada literária. Foi frustrante, lá então.
Todavia, sensato, ciente das minhas limitações, me prometi fazer a releitura dO Mestre e Margarida, devagar e sem divagar.
E assim cumpri minha promessa lendo outra vez O Mestre e Margarida de Mikhail Bulgákov e, qual não foi minha grande surpresa, como costumo dizer: me encontrei e me reconciliei com obra e autor.
Me entreguei, portanto, sem hesitações neste reencontro, aos devaneios e surrealidades jamais imagináveis ou explicáveis de Bulgákov protagonizadas por Satanás e seu séquito em Moscou. Assim como indecifráveis e inconcebíveis são as vivências em um Estado Totalitário (posso só imaginar!) em cujo território não somente se pretendeu, mas se implantou um conjunto de políticas restritivas e privativas das liberdades individuais em amplo sentido, sem mesmo esquecer da liberdade religiosa.
A existência de um Estado Totalitário não apenas cerceia as liberdades individuais, mas é sobretudo o atroz gesto covarde como o pior entre todas as fraquezas humanas.
"É escusado dizer" que a Literatura não queima fácil na lareira, muito ao contrário, ela detém a chave que modula os cativeiros impostos aos homens e concede à humanidade o direito à liberdade plena e permanente, como bem expressou a personagem Woland em resposta ao mestre que os "manuscritos não ardem."
Digo tudo isso, para assim me desfazer da minha percepção inicial, e injustificável, com relação ao livro O Mestre e Margarida para desta vez enaltecer o autor russo Mikhail Bulkákov por sua obra, além do senso de humor e fina sensualidade, apesar da opressão stalinista.
Foi, portanto, desta vez, muito gratificante conviver com as peripécias, fantasias, truques, hipnoses, prestidigitações ou "o raio que o parta" de Woland, Azazello, Korôviev, Behemoth, O Mestre, Margarida, entre outros, sem esquecer Pôncio Pilatos, Judas, Mateus Levi, e outros igualmente importantes que criaram uma aura diferenciada para uma releitura do Cristo (Ha-Notzri) em seus derradeiros momentos cruciais que deixaram marcas indeléveis.
Desfeita, pois, minha antipatia inicial injusta com O Mestre e Margarida, da qual me penitencio, vivamente o recomendo.