LER ETERNO PRAZER 22/12/2020
Sue Monk Kidd nasceu em 1948 e é natural do estado da Geórgia. Formou-se em Enfermagem, exercendo a profissão ainda algum tempo antes de se dedicar à escrita. O seu primeiro romance (A Vida Secreta das Abelhas) tornou-se num verdadeiro fenómeno literário, vendendo mais de 6 milhões de cópias nos EUA e mantendo-se na lista de bestsellers do The New York Times durante mais de dois anos. Agraciado como Livro do Ano em 2004, foi adaptado a filme. O segundo romance de Kidd, A Ilha das Garças, de 2005, vendeu mais de um milhão de cópias e conquistou o Quill Award For General Fiction.
Sabe quando você inicia um livro sem muitas expectativas e tal minha surpresa, entre todas as etapas da leitura me vi adorando-o.
" A vida secreta das abelhas" foi de pouquinho em pouquinho me conquistando! Seu enredo não é é cheio de reviravoltas, tensão ou grandes acontecimentos, mas, tem eu seu serne emoções bem profundas, e para um leitor(a) atento(a) e sensível com certeza irá absorver e ter a percepção de uma história ímpar e carregada de muitas reflexões.
Vamos acompanhar aqui, a história de Lily Owens, uma garota de 14 anos que podemos até afirmar, seja mocinha e a vilã do nosso enfedo. A garota, sofreu um grande trauma quando criança, em sua adolescência vive cercada pelo rancor e raiva que emergem do relacionamento entre pai e filha. T. Ray, seu pai, nunca esqueceu a morte da esposa, Deborah Fontanel Owens, e descarrega toda sua amargura em Lily. Por conta disso, Lily vive um conflito interno cada vez mais intenso sobre seus sentimentos a respeito de seu pai e a ausência de sua mãe.
O grande trauma de nossa personagem está em uma recordação muito dolorosa de sua infância: Lily tem sempre um lapso de lembrança que, no meio de uma discussão entre seus pais ela pegou uma arma caída no chão e acidentalmente disparou contra sua mãe. Mas, será que realmente isso aconteceu dessa maneira? Quem de fato disparou a arma tirando a vida Deborah Owens? E qual a razão da briga entra os dois no fatídico dia? Essas são as questões e dúvidas que atormentam Lily durante seus 14 anos e às quais ela nunca conseguiu responder.
Nossa história se passa entre os anos de 1964 e 1965 e tem como pano de fundo a luta dos negros americanos contra o racismo e também pela conquista dos direitos civis. Lily cresceu num ambiente hostil aos negros, mas foi criada por uma babá negra, chamada Rosaleen. Uma mulher de personalidade forte e a única pessoa capaz de confrontar o pai de Lily quando este perdia a razão e descontava toda sua fúria em Lily. Num ímpeto de descobrir mais sobre sua mãe, Lily e Rosaleen fogem para uma cidade rural próxima e se deparam com uma família composta por três mulheres negras(irmãs) que se dedicam a criação de abelhas e a produção de mel. Convivendo com as irmãs August, June e May, Lily passa a entender o significado de uma família e ao invés de dar um fim a todo seu conflito, parece que a sensação de ser amada aumenta ainda mais sua confusão.
Ao acompanhar, página, por página a trajetória de Lily em busca de resolver seu dilemas temos a sensação de que nossa personagem flutuava entre dois mundos: não pertencer aos brancos, pois aceitava e amava os negros, e não pertencer aos negros por causa da cor da sua pele. Mas essa era a sensação dela. Dentro da própria família, June (negra) não aceitava Lily por ela ser branca. Foi quando a menina passou a perceber que também havia o preconceito dos negros contra os brancos também.
"A vida secreta das abelhas" é ótimo livro, nos apresenta fatos históricos, mas para serem percebidos claramente o leitor precisa está atento, o racismo está presente de forma sutil e ao mesmo tempo direta e nos mostra suas duas caras claramente, "A vida secreta das abelhas" é um livro simples e ao mesmo tempo gigantesco, feito para leitores de enredos e entre linhas. É um livro que toca bem no centro do que estamos vivenciando últimamente; a INTOLERÂNCIA RACIAL.