elisa887 03/12/2022
Começa legal mas ficava repetitivo bem rápido
O livro começa tomando boas direções, apresentando os novos desafios que Cia precisará enfrentar e o que está em risco caso ela falhe. Os desafios da iniciação são interessantes e os novos personagens são carismáticos. Infelizmente, tudo isso não dura muito. A partir da metade do livro, comecei a perceber que muitas coisas estavam se tornando extremamente repetitivas, e que a Cia estava se tornando aquele tipo de personagem que é amado por todos e não comete erros.
Um dos meus pontos favoritos do primeiro livro, a inteligência da protagonista, acaba tomando um rumo para o pior. Enquanto antes Cia era inteligente de uma maneira orgânica, agora parece que ela está preparada para qualquer coisa, e consegue resolver qualquer problema sem nem pensar duas vezes porque de alguma forma ela coincidentemente já passou por uma situação parecida com os irmãos e o pai quando vivia na colônia. As conclusões em que ela chega para superar os desafios, apesar de fazerem sentido em retrospecto, são só uma das muitas conclusões lógicas que alguém poderia chegar naquela situação, mas de alguma forma ela sempre avalia a situação perfeitamente e sabe exatamente o que os avaliadores esperam que ela faça.
Ainda nesse ponto da Cia se tornar super inteligente e saber o que fazer em qualquer situação, foi nesse livro que percebi que da forma como as coisas são apresentadas, Cia é boa em literalmente tudo. Estudos acadêmicos? Ela é a melhor da classe. Intuição para analisar situações? Ninguém se compara com Cia, que completa os desafios mais rápido do que todos e sempre sabe o que fazer. Analisar pessoas? Ela nasceu pra isso. O único "defeito" dela é que ela confia demais, o que, ao contrário do primeiro livro, não teve importância alguma, porque as traições que ocorrem não são algo que ela seria capaz de evitar mesmo se fosse cuidadosa. Ela também, de alguma forma, é a única que tem uma bússola moral nessa história, porque de alguma forma parece que todo mundo foi criado para matar sem peso na consciência, enquanto ela e Thomas são os únicos com uma criação decente.
Falando em Thomas; finalmente descobri o que eu odeio nele. Ele é uma cópia exata da Cia, mas com menos protagonismo, então ele é mais incompetente. A personalidade deles é a mesma (anjos perfeitos no meio da maldade do Teste), com uma bússola moral inabalável e com a única visão correta do mundo, a diferença é que ele não é tão inteligente e intuitivo quanto ela. O único conflito interessante da relação deles, que o primeiro livro tratou como se fosse se tornar algo extremamente importante, foi resolvido em duas páginas porque claro que é impossível Thomas ser qualquer coisa além de o interesse amoroso perfeito como sempre foi. Não importa o que aconteça, a relação deles é perfeita e a confiança nele (e unicamente nele) é inabalável, provando que desenvolvimento de personagem e diferentes visões de mundo passam longe nesse livro. Até a bússola moral da Cia, que era interessante de acompanhar no primeiro livro, começa a ficar insuportável quando ela fala pela milésima vez da criação dela e do quanto ela valoriza a vida, enquanto todos os outros participantes são máquinas de matar inabaláveis.
Os personagens secundários introduzidos, apesar de serem interessantes, acabam ficando sempre em segundo plano. No primeiro livro, achei que a autora fez um bom trabalho em apresentar personagens e cortar eles na medida certa para aumentar a tensão, mas neste somos apresentados a muitos personagens, cada um com alguma coisinha, mas nenhum acaba fazendo muita diferença porque o livro fica o tempo todo pulando entre eles e parece que não se decide no que fazer. Não vou julgar o Enzo porque em 5 páginas a dinâmica dele com a Cia foi mais interessante do que a do Thomas em um livro e meio, mas o Raffe no final do livro do nada ganhou muita importância e decidiu porque sim que a Cia é uma deusa que sabe todas as verdades do universo. A única coisa que todos os personagens secundários tem em comum é que todos amam a Cia e acham ela a melhor pessoa que existe. Thomas, Will, Enzo, Raffe, Michal, todos acham ela incrível e tão dispostos a arriscar a vida por ela.
Ao contrário do livro passado, a reviravolta final não é algo que podemos prever, porque a revelação do vilão veio do nada e, apesar de fazer sentido, é frustrante o vilão final ser um personagem que seria impossível até mesmo os leitores preverem, porque nada apontava para a traição dele. A traição do Will no livro passado, apesar de ficar bem na cara, foi bem executada, com os sinais sendo apresentados ao longo do Teste final e a revelação tendo impacto, uma vez que Cia confiava nele.
Vou ler o último livro porque agora estou investida na série e quero ver como isso tudo termina, mas é uma pena que tudo que eu gostava do primeiro livro foi repetido tantas vezes que deixou de ter o impacto que tinha.