Sergio 12/02/2015Postado originalmente no blog De Cara Nas LetrasNesta mais nova comédia romântica de David Levithan, Paul estuda em uma escola nada convencional. O melhor quarterback do time de futebol é uma dragqueen chamada Infinity Darlene, que costumava atender por Daryl. As líderes de torcida andam de moto e a amizade entre homo e heterossexuais ajudou estes a aprender a dançar.
Joni e Tony, melhores amigos de Paul, o convidam para ir a um show de um conhecido que aconteceria em uma livraria da cidade. Lá, por acaso, ele acaba encontrando Noah, um garoto que desperta seu interesse... Mas o caso deles está fadado ao fracasso, já que Paul consegue estragar tudo de forma espetacular. Diferentemente de Tony, Paul desde sua infância se assumiu homossexual, o que fez com que nunca tivesse nenhum problema pela sua orientação sexual, quer seja por parte da família, quer seja por parte dos amigos. É nesse cenário complexo que o protagonista terá que encontrar meios para recuperar o tão desejado garoto dos seus sonhos, ajudar seu melhor amigo a lidar com os pais altamente religiosos que consideram sua sexualidade uma abominação e lidar com o fato de que sua melhor amiga está namorando o garoto mais idiota de todo o colégio. Você seria capaz?
O livro aborda diversas vezes a relação entre os homo e heterossexuais, embora que de forma utópica demais. Essa foi um dos pontos que tachei como negativo, já que distancia o leitor da realidade palpável dos fatos cotidianos. Há também várias passagens que nos mostra como foi a auto-descoberta do protagonista, que nos faz perceber que desde muito novos já possuímos nossa sexualidade formada, embora sempre ou quase sempre haja dúvidas, curiosidades e questionamentos sobre o tema em questão.
O triângulo amoroso formado na obra é breve. Trata-se de Paul, seu ex-namorado Kyle e Noah, o garoto que ele conheceu na livraria. Entretanto, não temos um daqueles tipos de triângulo onde o protagonista se encontra indeciso e fica de mimimi durante todo o enredo. Paul sabe o que quer, o que deixa a obra muito mais fluida e menos melodramática.
Em toda a extensão do enredo conseguimos captar a crítica sutil ao posicionamento da igreja (e de seus fiéis) com relação à homossexualidade. Todavia, o autor não condena a forma de agir dos cristãos, o que creio que seja um ponto positivo. Percebemos que a origem do preconceito vem da desinformação, do medo do desconhecido. David Levithan consegue frisar que há uma boa intenção por parte dos fiéis, mas que muitas vezes a forma de agir é o que deixa a desejar, fazendo o homossexual se sentir rejeitado, totalmente não aceito e até mesmo excluído.
Como já dito anteriormente, Tony (melhor amigo de Paul) também é gay, mas por medo de represálias da família cristã, resolve ficar "no armário". Os problemas familiares acarretados pela exposição da sexualidade são totalmente visíveis em seu caso. Esse foi um dos pontos que me fez ficar mais tenso durante todo o enredo, já que milhares de pessoas, de fato, se encontram na mesma situação. Contudo, no decorrer da narrativa, enxergamos que o amor incondicional é capaz de superar até mesmo os maiores paradigmas da sociedade, basta querermos.
Como todos (ou a maioria) dos livros da Galera Record, a edição de Garoto encontra Garoto está impecável. A capa, além de possuir uma arte gráfica excelente, contém em alguns pontos verniz localizado e alto relevo, dando ao exemplar uma aparência luxuosa e de destaque. Não consegui encontrar nenhum erro gramatical ou de ortografia.
Embora apresente algumas brechas no enredo e situações não resolvidas, o mais recente livro de David Levithan publicado no Brasil é fantástico. Com um enredo inspirador e personagens muito bem construídos, Garoto Encontra Garoto consegue ser sutil ao abordar temas tabu da sociedade.
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