oursapphism 20/04/2020
Eu nem sei como começar uma resenha sobre esse livro. Minha primeira experiência lendo um romance da Chimamanda (foi Hibisco Roxo) não foi muito boa, talvez porque eu ainda não era muito familiarizada com a literatura nigeriana, de qualquer forma, eu criei essa noção de que ela era uma melhor escritora nos contos do que nos romances (No Seu Pescoço é um dos meus livros favoritos). Eu não poderia estar mais enganada. Americanah é um dos melhores livros que já li esse ano, digo com tranquilidade, e me deu vontade de ler todos os outros romances dessa escritora que, eu já sabia, é incrível.
O livro nos apresenta o romance entre Ifemelu e Obinze, mas, como a própria Ifem questiona durante a narrativa: por que um livro precisa ser sobre só alguma coisa? Americanah, com muita maestria, é sobre muitas outras coisas além do romance. Como The Telegraph comentou sobre a obra "Um trabalho caleidoscópico que olha para a questão racial de todos os ângulos.", acho que essa é a frase que melhor resume o livro, porque a cada capítulo Chimamanda consegue abordar diversas questões raciais do mundo ocidental (e, principalmente, da América) com muita naturalidade e leveza ? e, obviamente, uma acidez sarcástica que ela é muito acostumada, e que consegue escrever muito bem.
Começamos Americanah sabendo que Ifemelu morou por mais de dez anos nos Estados Unidos e decidiu voltar para a Nigéria. Ifemelu e Obinze começam a namorar durante o ensino médio, e continuam juntos durante os primeiros anos da faculdade na Nigéria, mas devido as constantes paralisações nas universidades, Chimamanda acaba indo para os Estados Unidos para se graduar lá, enquanto Obinze continua na Nigéria. O choque de estar num país completamente diferente, que é hostil com aqueles que vêm de fora ? lê-se países de terceiro mundo ? e de se ver enquanto negra, já que as questões raciais não são uma problemática na Nigéria como é nos EUA, pega Ifem de surpresa. Conforme os perrengues aumentam, ela acaba cortando laços com Obinze, que depois de alguns anos tem seu visto para os EUA negado e consegue um visto de alguns meses para a Inglaterra.
O livro é dividido em 7 partes e ao longo da narrativa nós acompanhamos toda a trajetória de Ifem durante os anos que viveu fora, assim como acompanhamos a experiência de Obinze também, lemos sobre seus outros relacionamentos e sobre como, mesmo separados por anos, eles sempre se amaram. Nesse ponto, o livro me lembrou muito O Planalto e a Estepe, de Pepetela, porque quando os personagens principais se reencontram, o sentimento não mudou ? de certa forma, ele fica até mais avassalador.
Enfim. Esse livro com certeza me fez abrir os olhos para muitas questões que eu não tinha pensado antes, ou então não tinha dado tanto valor quanto deveria. Sou uma pessoa branca, e acho que para pessoas negras a leitura deve ser ainda mais prazerosa e conteudista.
Acho que todos deveriam ler esse livro, porque ele pode mudar nossa visão sobre muitas coisas, principalmente sobre como as questões raciais são nos Estados Unidos, e como é fácil relacionar com outros países da América, como o Brasil.