Kennia Santos | @LendoDePijamas 25/06/2017"Rio com a boca também, mas meu coração chora." | @LendoDePijamasAlexi Littrell era uma adolescente "normal", tinha um bom convívio no ensino médio, uma boa reputação. Até que, em uma noite de verão, numa festa em sua casa, sua vida é destruída e ela perde o rumo. Como fuga da realidade, ela tenta fazer a dor física sobrepor a psicológica, se arranhando compulsivamente e fazendo contagens consecutivas para se focar em algo.
A única coisa que faz seu dia melhor, são as letras de músicas escritas em sua carteira que passaram a ser uma troca de comunicação com um misterioso "Capitão Letra de Música", um ser que apesar de não ter nome ou rosto, leva Alexi para uma dimensão onde sua vida não foi arruinada.
"Sozinho.
Diante dessa multidão.
Sozinho, neste sonho de matar.
Quem sou eu neste silêncio visível?
Será que alguém me ouve gritar?" (p.10)
Bodee Lennox sempre foi "esquisito". Nunca muito popular na escola, tímido e antissocial. Por trocar o seu cabelo de cor todos os dias usando "Ki-Suco", ficou apelidado como "Garoto Ki-Suco" na escola. Tudo muda quando em uma manhã drástica todos ficam sabendo que o pai do garoto assassinou a mãe, então Bodee se torna o "garoto cujo pai matou a mãe".
Diante de algumas reviravoltas, Alexi e Bodee criam uma proximidade, e a garota vê que o desajeitado menino de cabelos coloridos pode ser um ótimo ombro amigo.
"Tenho tanta coisa para dizer em resposta. Tipo contar a ele que minha dor não é nada, comparada com a dele. Tipo perguntar como ele vê coisas sobre mim que ninguém mais vê. Mas as palavras só vão me deixar mais vulnerável." (p.50)
Os dois, fingem ser normais para o mundo, mas num universo habitado só por eles, as coisas são diferentes. Máscaras caem, traumas são descobertos e uma sensação de conexão surge.
"Nesse momento, nós somos um bazar confuso de emoções. Um centavo por dor. Dez centavos por amargura. Vinte e cinco centavos por sofrimento. Um dólar por silêncio." (p.59)
Dor, muita dor. Tanta dor que palavras não expressam, lágrimas não aliviam nem sorrisos falsos resolvem. DOR SUPRIMIDA.
"Eu amo minha família, mas parece que, nos momentos em que estou mais triste, estou sempre cercada de pessoas com quem não sei conversar." (p.8)
Acredito que cada pessoa, possui fantasmas que as perseguem desde sempre. Uns mais graves do que outros se vistos de fora, mas DOR é DOR. Não uma competição.
"Se ao menos eu conseguisse fazer o lado de fora doer mais do que o lado de dentro." (p.20)
Esse livro foi um tapa na minha cara, e ao mesmo tempo um abraço que eu precisava receber há muito tempo. Porque a Lex, de acordo com o que eu conheço, é o reflexo não de 1, 2, ou 3 garotas. Mas de milhares. Milhares de garotas que se silenciam para não dar ao mundo um fardo que elas acreditam ser somente delas.
"Depois de tudo o que passei, sou meio que um bolo queimado e solado que um confeiteiro disfarça com uma cobertura linda. Então, mesmo que ele goste de mim por fora, meu interior é uma porcaria sem gosto." (p.109)
Sei que existem MUITAS Lexis por aí. Sei por que sou uma delas. Como eu disse ali em cima, a dor não é igual, mas porra, dói mesmo assim.
"Contar essa história -cada palavra- é como arrancar um pedaço de esparadrapo da minha pele." (p.168)
Courtney C. Stevens simplesmente colocou em páginas diversas vidas. Pessoas com as quais convivemos e dizemos conhecer, mas que passam por coisas semelhantes e não enxergamos. Pessoas que tem sua alma sugada e seu brilho perdido cedo demais. Pessoas que não sabem como mostrar ao mundo sua dor e se culpam. Pessoas que às vezes só precisam de um ouvido ou uma palavra amiga, e nós simplesmente deixamos passar, sem nos atentarmos aos detalhes: um sorriso forçado, uma falta de expressão, uma reação diferente.
"A dor tem um jeito de escapar mesmo quando a gente tente abafá-la." (p.226)
Tudo está na nossa vista, só que às vezes precisamos olhar além das entrelinhas. Não vamos deixar as várias Alexis existentes sozinhas.
Vamos abraçar, vamos ouvir. Vamos ser morada pra quem precisa de um abrigo. Vamos ser um refúgio pra quem precisa de um descanso.
Existem também Bodees Lennox por aí, pessoas de bom coração que entendem, existem sim. Mas eles não invadem. Eles esperam um convite. Ainda que seja um olhar mais prolongado, ou um sorriso maior, ou até mesmo um simples roçar de ombros. Só um convite.
"Sempre que estou com ele, parece que sou feita de vidro. Rímel, blush e sorrisos falsos nunca o enganam." (p.100)
O seu mundo é o que você faz dele, o que você permite nele.
"Mas hoje é melhor que ontem. E essa dor ainda é um buraco em mim, mas é um buraco que está diminuindo." (p.224)