Mari 21/02/2015
"Não há nada mais corajoso para mim do que uma pessoa anunciar que sua história merece ser contada, sobretudo se essa pessoa é uma mulher."
Lena Dunham é conhecida, principalmente, pela série Girls, da HBO, do qual é criadora, roteirista e protagonista. Mesmo sem acompanhar a série, todo mundo que segue Lena nas redes sociais ou, pelo menos, já ouviu falar dela, sabe que ela não tem medo de se expor, que é uma mulher cheia de personalidade e é considerada uma das vozes feministas de nossa geração. Acontece que expor sua opinião no Twitter e em outras redes sociais não foi o bastante. Lena quis mostrar, não para o mundo, mas para si mesma, que ela sabe do que está falando e que se posicionar como a mulher que ela queria ser nos dias de hoje é difícil, porém não impossível.
"Sou uma narradora nada confiável."
Começo a resenha dizendo que, caso eu não conhecesse Lena, o livro não faria tanto sentido e as mensagens que ela gostaria de passar tampouco seriam passadas. Acontece que, antes que eu lesse o livro, vi várias amigas comprando pensando que era um livro de autoajuda, daqueles que você leva vários ensinamentos e quanto mais lê, mais se identifica. Acontece que em Não Sou Uma Dessas Lena nos passa sim ensinamentos, mas eles estão nas entrelinhas. Ela não dá vários conselhos pois ela sabe que várias pessoas diferentes lerão seu livro e que cada um tem a sua vida, então, cada um deve ler e interpretar da maneira que achar melhor (mesmo que isso possa ser confuso para algumas pessoas).
"Fico com raiva simplesmente por não ter palavras melhores para descrever o ocorrido."
Lena mostra, definitivamente, que não tem medo de se expor. Ela conta sobre suas experiências desde a infância, divididas em cinco seções: Amor e Sexo, Corpo, Amizade, Trabalho, Panorama. A cada capítulos temos flashbacks de determinada fase da vida de Lena, uma vez que o livro é dividido por temas, e não por datas. Eu achei bem legal a escolha da divisão por temas, mesmo que uma hora estejamos lendo sobre a Lena da faculdade e em outro momento sobre a Lena da infância. Acontece que isso ajuda a nos darmos conta de como nossas atitudes são espelhadas em nosso passado mais do que nós achamos. Existem coisas que nós nem percebermos, mas são sim frutos da nossa infância, adolescência e por aí vai.
"Luxo é bom, mas criatividade é melhor ainda."
Uma coisa que me incomodou um pouco foi a naturalidade com a qual Lena fala de assuntos como estupro e morte. Ela mesma fala que não se lembra de muita coisa que aconteceu em certa noite, mas o que ela lembra, ou pelo menos acha que aconteceu, é caracterizado como estupro por uma amiga dela. E a reação dela é, no mínimo, ridícula: Lena ri. Em outra situação, ela tinha um "namorado" que conheceu na internet, nunca haviam se visto, mas ele era amigo de um amigo dela, e ela recebe a notícia de que ele morreu. Eles estavam se falando cada vez menos e a pergunta de Lena é: você sabe se ele gostava realmente de mim? Como se, ficar triste ou não pela morte dele, só dependia da resposta. Daí você pensa: ela riu de nervoso na primeira situação e, na segunda, ela era uma adolescente. Só que não, gente! Não darei detalhes das situações, para que vocês tirem suas conclusões, mas não estou julgando Lena, até porque lendo o livro consigo entender muito bem cada um de seus atos.
Após a publicação do livro, Lena, inclusive, foi acusada de abuso sexual contra a irmã. Ela tinha 7 anos quando tinha atitudes estranhas. Para chamar atenção? Não, por falta de confiança. Ela mesma disse que queria escrever sobre como o quão inocente é uma criança, ao mesmo tempo que aos 7 anos uma criança já pode se sentir fraca e insegura. Ela queria se sentir confiante, ao mesmo tempo em que queria que a irmã confiasse nela. Ela que queria dar as notícias ruins (como uma morte na família, um incêndio na vizinhança...) para a irmã, para que ela confiasse nela. Ela pagava alguns centavos para a irmã para poder dar um selinho de cinco segundos nela para sentir que era experiente. Ela fingia não gostar que a irmã queria dormir na mesma cama dela (por medo de ficar sozinha) só para que parecesse útil, ao mesmo tempo em que ficava feliz de saber que a irmã se sentia segura com ela. Lena toma calmantes e antidepressivos até hoje (mesmo que raramente) e achei muito corajoso da parte dela colocar situações como essas no livro.
"A Barbie é distorcida. Não tem problema brincar com ela, desde que você se lembre disso."
Por outro lado, Lena dá um show de confiança atualmente. Sério, muitas mulheres deveriam ler esse livro para ver a importância que os outros devem ter em sua vida: nenhuma. Todos sabemos que existe um padrão de beleza, agora, se importar com ele vai de cada um. Vejo tantos comentários negativos que mulheres fazem sobre elas mesmas nas redes sociais que penso: "como elas podem reclamar que não encontram alguém se nem elas gostam de si mesmas?" As pessoas não devem ter vergonha do que são e, se não estão satisfeitas, que tentem arranjar uma maquiagem que disfarce o nariz torto ou redondo, uma roupa que disfarce aquela gordura localizada, um penteado que disfarce a testa grande. Você não pode mais mudar o que é (só nascendo de novo!), mas pode disfarçar certas coisas para ficar bem consigo mesma. "Mas Mariana, você está falando para as mulheres saírem todas montadas, com quilos de maquiagem?" Não, gente, só acho que para tudo há um jeito, e nem sempre são as cirurgias!
[...] LEIA A RESENHA COMPLETA: http://www.magialiteraria.net/2015/01/resenha-nao-sou-uma-dessas-lena-dunham.html
Amor, sexo, dietas, carreira, autoestima, cenas de nudez, infância, adolescência e maturidade são alguns dos vários temas que Lena Dunham aborda de maneira sincera e intensa. Ela realmente mostra tudo o que aprendeu em Não Sou Uma Dessas e até o que não deveria - na opinião de alguns - mas o importante é saber que não importa se está atrás das câmeras, em 140 caracteres no Twitter ou em um livro de 300 páginas, Lena não é uma dessas que se importa com a opinião dos outros, mas é uma dessas que incentiva a confiança em si próprio e que não passa despercebida