Jeff.Rodrigues 03/07/2018Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.brNa extensa obra de Ian McEwan, A Balada de Adam Henry ocupa, em minha opinião, um espaço intermediário. Apesar de manter o vigor de seus antecessores e jogar luz sob a atuação de juízes olhando-os sob o ponto de vista humano e não apenas como os perseguidores de criminosos dos thrillers jurídicos, o livro se contenta em ficar no básico que já se espera do autor. Mesmo podendo ir mais a fundo nas questões abordadas, Mc Ewan preferiu entregar aquilo que seus leitores estão acostumados, sem muitas ousadias.
A Balada de Adam Henry se destaca pela forma como sua protagonista, a juíza Fiona, foi construída. Disciplinada desde criança, ela é uma mulher forte, capaz de tomar decisões bem embasadas e que definem os destinos de vida dos litigantes que passam por suas mãos. Por outro lado, essa mesma força se transforma em fraqueza quando, dentro de casa, seu casamento desmorona e ela não consegue tomar decisões. O ato simples que ela se acostumou a exercer diariamente no tribunal não se repete em sua vida pessoal. Focada no trabalho, Fiona não consegue dispensar as mínimas atenções para lidar com o que está ao seu redor. Algumas passagens curiosas trazem interlocutores conversando com a personagem e ela sempre no meio termo entre um insignificante prestar atenção e as divagações sobre quaisquer outras questões.
Esse drama familiar vivido por Fiona acaba se misturando com o drama de vida que chega às suas mãos. A difícil tarefa de decidir a sobrevivência de um garoto leucêmico cuja religião não permite a transfusão de sangue. Os contratempos e descaminhos na busca pela sentença a levam a envolvimentos emocionais e Ian McEwan conduz os leitores pelos labirintos do comportamento humano. Ateu convicto, o autor explora, ainda que de forma menos combativa e mais contida, as contradições de uma crença que prefere ver o filho morto a ter seu sangue misturado com o de outra pessoa.
A balada que Henry escreve e envia à Fiona, e que conduz a trama para seu desfecho previsível, apressado e um tanto brusco, arremata uma história que não tem fim. Como em muitas de suas outras obras, McEwan faz apenas um recorte da vida, em sua faceta mais banal. Vislumbramos uma passagem de tempo na biografia daqueles personagens e seguimos em frente, como eles certamente também seguem, buscando aquilo “que só pessoas de mente aberta, e não o sobrenatural, podiam dar: um sentido para a vida”.
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