Tonyfreitas 11/03/2013Dewey e sua história-arteEu sou uma grande apreciadora de livros. Sommelier é o termo adequado para um apreciador de vinhos, em tese, o nome do apreciador de livros é o Bibliófilo, mas até para isso, os dicionários discordam entre si. Uns alegam que é a pessoa que coleciona livros, outros que é quem gosta de livros. Enquanto não chegam num consenso, eu resolvi que eu sou uma "Livromilier", porque eu não aprecio somente a beleza do livro em si, mas principalmente a beleza e a maneira como ele é escrito.
Para mim, o livro é muito mais do que a capa bonitinha, o papel elegante, a encadernação caprichada. Para mim, o que realmente importa, é seu conteúdo. E embora eu tenha lido muitos livros nos últimos tempos, tenho observado que a qualidade do que é escrito já não é a mesma. Foi perdida no tempo e nos estilos.
Fazendo uma comparação tosca com o futebol... Antigamente, havia o futebol-arte. Aquele praticado pelos grandes... Pelé, Rivelino, Jairzinho, Garrincha, Zico... Você assistia e via beleza nos dribles! Sem essa de neguinho ficar acertando os coleguinhas para fazer gol. Blerght... Enfim... com livros é a mesma coisa. Sinto falta do texto-arte. Aquele que tem trechos em que você se deleita com o que está sendo escrito...
O prólogo me conquistou. Vick começou apenas falando da beleza dos campos de trigo de sua cidade. Mas aquele trecho era tão lindo, estava tão bem escrito, que eu fechava os olhos e ENXERGAVA os campos de trigo balançando ao vento. Suas descrições foram muito mais que elegantes e graciosas, você mal percebia que tinha lido um capítulo enorme e que seria uma introdução entediante. Você esquece tudo isso e fica se imaginando no campo.
Só essa introdução, com essa leveza e suas descrições sobre como é a cidade, estavam com as palavras tão bem colocadas, com vocabulário decente que chegava a ser poética! Em seguida, vinha o primeiro capítulo escrito com maestria descrevendo como Dewey foi encontrado. Cada capítulo é TÃO bem escrito, que apesar de serem várias nuances e histórias sobre o gato, entrelaçadas com a história da cidade que eu realmente fiquei admirada pela maneira como a autora escreve.
E aí você para e se pergunta... ué... a história não era de um gatinho? Pois é... Dewey é um gatinho que tinha tudo para ser mais um gato com uma história comum. Foi encontrado na caixa de devolução de livros da biblioteca no dia mais frio do ano na pequena cidade de Spencer, no estado de Iowa, nos EUA. Isso seria, talvez, o único diferencial dele. O modo como ele foi encontrado. Mas não foi o que aconteceu de verdade.
É sabido que todo bichinho de estimação tem a capacidade de mudar a vida de alguém. Agora imagine o que um gatinho doce, sapeca e gentil pode fazer por alguém além de se esfregar e dar sua cota de fofura e fazer pessoas vomitarem arco-íris sem parar. Imaginou? Multiplique isso por todos os habitantes de uma cidade...
Sim... Dewey não foi adotado por alguém quando foi encontrado. Ele foi adotado pela "biblioteca". E com isso, ele passou a ser um funcionário extra. Ele era alguém que recebia os sócios e frequentadores da biblioteca, dava seu amor e carinho para todos e tinha um feeling além do normal. Ele realmente sentia quando alguém precisava dele. Porque gatos tem esse sexto sentido felino. São muito independentes, não vem quando você chama, mas estão sempre por perto quando você precisa.
Sou suspeitíssima para falar, porque amo gatos. Dewey teve uma vida intensa. E Vick, soube contar sua história. Sua vida estava tão entrelaçada com a história da cidade, que era muito fácil fazer comparações de como ele lutou para se manter vivo durante à noite com tudo o que a cidade estava passando. Todo o alento que ele dava às crianças, pais, desempregados, homens de negócio...
As pessoas tornaram a biblioteca num local de encontros. Em um Centro de Convivência. E Dewey estava lá para fazer isso acontecer. Com isso, ele começou a ficar famoso! Saiu no jornal da cidade... Depois em reportagens de cidades próximas... Algumas pessoas se mudaram para outras cidades e falavam de Dewey. Jornais, revistas, pessoas começaram a peregrinar para conhecer o manso gato da Biblioteca de Spencer. Todas achavam que aquele gatinho carinhoso, tinha um relacionamento especial com elas. E ele tinha. Cada pessoa era única e merecia seu carinho e atenção.
Dewey conquistou fama, e embora fosse um gato (as pessoas sabem como gatos costumam ser ariscos e independentes), ele era mesmo um gato diferente. Ele PRESTAVA atenção nas pessoas, não saía quando desconhecidos vinham visitá-lo. Pelo contrário, ele era um ótimo "ouvinte". Ele estava sempre presente e disposto a se exibir, demonstrar seu carinho e afeição e não houve uma pessoa sequer, viesse de perto ou de longe, que tivesse se decepcionado ou ido embora sem conhecê-lo. Ele escolhia os colos e conquistava pessoas com seu jeitinho meigo e doce.
Eu sei que esta resenha está horrível, porque eu perdi totalmente o foco... mas acredite, histórias de gatinhos são sempre fofas, imagine então a história de um gatinho que mudou a vida das pessoas.
Uma menina autista que não levantava os olhos de sua cadeira, mudou de atitude com o tempo, depois de um tratamento intensivo de Dewey. Um menino alérgico, porém amante de animais, pôde finalmente ter o carinho de um gato, mesmo que nas poucas horas que passava na biblioteca. Um homem desempregado, que buscava incessantemente emprego no computador, um dia, baixou a cabeça e chorou e encontrou o olhar meigo do gato, que lhe deu forças para continuar tentando. Uma bibliotecária com uma doença complicada recebeu seu carinho em forma de lambidas ásperas e até mesmo era recebida com um aceno todos os dias quando chegava...
Ele não poderia melhorar a vida das pessoas lhes dando empregos ou dinheiro ou mesmo conselhos, mas ele mudou cada pessoa que passou por ele, quando ela entrava desesperançada e em crise e ele deitava-se próximo e deixava sua fofura aquecer seu coração.
Além de ser uma história fofa (admito que chorei à beça, mas chorei o livro todo!!! às vezes detesto ser tão emotiva, rsss), a história do Dewey, é uma história de superação. Dele. Da Vicky. Da cidade de Spencer. De cada morador e visitante que foram conhecê-lo. Todos eles tem algo em comum. Estiveram numa situação muito difícil e se reergueram. Isso vale para você, querido leitor. Leia. Deleite-se com o texto e se estiver passando alguma dificuldade, ERGA-SE como Dewey.
Trecho lindo e especial do comecinho do livro, quando Dewey foi encontrado:
Depositei-o sobre a mesa. O pobre gatinho mal se mantinha em pé. As saliências das quatro patas tinham sofrido geladuras e, ao longo da semana seguinte, ficariam brancas e descascariam. Mas, mesmo assim, o bichano conseguiu fazer algo realmente surpreendente. Ele se firmou na mesa e, lentamente, examinou cada rosto. Depois começou a capengar. À medida que cada pessoa estendia a mão para acariciá-lo, ele esfregava a cabecinha minúscula contra a mão e ronronava. Esqueça os eventos horríveis de sua jovem vida. Esqueça a pessoa cruel que o jogou dentro da caixa de coleta da biblioteca. Era como se, daquele momento em diante, ele quisesse agradecer pessoalmente a todos que conhecia por salvar-lhe a vida.
Tempo: Algo entre três e quatro sentadas... Li durante o horário de almoço e levei 4 almoços para terminar.
Finalidade: Diversão/Auto-Ajuda
Restrição: Pessoas que não gostam de gatos e nem livros com bichinhos.
Princípios ativos: Gatos, Gracinhas, Gotas de Felicidade.
Título: Dewey - Um gato entre livros
Autor(a): Vicki Myron
Editora: Globo Livros
Número de Págs.: 272