Dona Flor e seus dois maridos

Dona Flor e seus dois maridos Jorge Amado




Resenhas - Dona Flor E Seus Dois Maridos


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Rodolfo Vilar 29/10/2023

?Ler ?Dona Flor e seus dois maridos? é se apegar a personagens, é sentir cheiros e provar gostos, é uma mescla de coisas, de rabichos, de querer e ficar? ?
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Continuando o diário de leitura do projeto #BodegadoAmado, a leitura da vez é do livro ?Dona Flor e seus dois maridos? escrito em 1966. Aqui inaugura-se a segunda fase amadiana, onde Jorge Amado, após desfiliar-se do partido comunista, trata menos sobre política em seus livros, mas não abandona alguns dos vieses socioeconômicos de seu olhar para a Bahia e para o Brasil.
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Nesse livro, que realmente achei diferente dos anteriores, por tratar de uma linguagem mais fluida, com diversas viravoltas e idas e vindas no tempo, Jorge Amado conta a história de Florípedes, ou para os íntimos Dona Flor. Após perder seu primeiro marido de um infarto fulminante ela fica num impasse entre viver a vida de viúva ou mudar as páginas de sua vida tediosa e casar-se novamente. Casando com seu segundo marido, Dona Flor irá analisar sua vida a partir de alguns detalhes que faz o leitor refletir sobre preconceitos, o papel da mulher na sociedade e o machismo instaurado. Quebrando tabus, Jorge Amado retrata sobre a vida feminina numa época de ditadura, tratando tudo com humor e consciência.
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Numa volta no tempo conhecemos seu primeiro marido, Vadinho, um homem machista, viciado em jogos, mulherengo e boêmio. É nesse casamento que Dona Flor é testada em todos os seus extremos, onde somente com seu segundo marido, Dr Teodoro, ela consegue entender uma vida de romance e respeito. Porém o que falta em Teodoro há em Vadinho e Flor fica nesse impasse de viver uma vida incompleta, até que num momento o fantasma de Vadinho surge para lhe suprir os desejos sexuais. Nesse impasse Flor fica a se questionar se estaria vivendo uma vida dupla com dois homens. Será?
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O livro não se tornou o meu favorito, achei o Jorge Amado aqui extremamente prolixo, onde havia momentos de narrativas desnecessárias, mas que não tiram a graça do autor a narrar sobre o cotidiano. Um personagem extremamente machista também causa rancor no leitor, além das longas cenas sobre jogos ilícitos.
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O livro conversa com nossa atualidade sobre o papel da mulher na sociedade, a sua liberdade de expressão e de escolha. No livro Dona Flor escolhe não escolher, podendo ter o livre arbítrio sobre sua própria felicidade. É um livro sobre costumes, repleto de personagens multidimensionais e que circulam pelas páginas de um romance bem comum construído.
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Zileide.Brito 29/10/2023

Jorge Amado sendo Jorge Amado
Não sei muito bem o que dizer. Eu sempre fico impressionada com os Clássicos. Como pode dois amores? Coração é um mistério. Coração de mulher é mistério ao quadrado.
Essa Dona Flor é mesmo uma porreta.
Vadinho mais sem jeito. Só uma sagitariana para amá-lo tanto e tão descaradamente, apesar de toda a moral e regras de conduta que a rodeiam e estão impregnadas dentro dela.
Como pode o autor nos fazer acreditar que ela está tendo um desvio de conduta, se Flor deita com um fantasma??? Apenas Jorge Amado mesmo.
Indico muito!
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Carla.Parreira 25/10/2023

Dona Flor e seus dois maridos
O livro conta a história de Florípedes, a dona Flor. Primeiro vem o seu casamento com Vadinho e, após ficar viúva aos trinta anos, surge o casamento com Teodoro. O primeiro marido é farrista, mulherengo e viciado em jogo. Já o segundo é um pacato e respeitável farmacêutico. Eis um dos exemplos que achei mais marcante entre ambos: enquanto o primeiro lhe batia a fim de pegar as economias para gastar no jogo, o segundo lhe abre uma poupança para o dinheiro render juros. O livro foi escrito entre os anos de 1965 e 1966, tendo as características de tal época.
Eis alguns trechos que retirei como principais ao longo da história:
Sobre Vadinho e sua paixão por Flor: ?...Ele não tinha sequer endereço estável, mudando de pensão barata a cada mês por falta de pagamento. Como esbanjar dinheiro em aluguel quando sobrava tão pouco para o jogo? Flor trazia um novo sabor à sua vida, uma quietude, uma placidez, um gosto de ternuras familiares... Amava a singeleza da moça, sua mansidão, sua alegria sossegada, e sua compostura. Lutando diariamente para derrubar-lhe a resistência e romper-lhe a castidade, sentia-se, no entanto, contente e orgulhoso com ela ser assim recatada e séria. Porque só a ele competia domar esse recato, reduzir a prazer aquela pudicícia. Os amigos de Vadinho descobriam um brilho em seus olhos, acontecendo-lhe ficar parado ante a roleta, esquecido de depositar a ficha, sonhador... Apaixonado por Flor, projetando casar-se com ela, mas nem assim disposto a fugir a seus solenes compromissos, a seu quotidiano de jogo e malandragem, de bebedeiras e arruaças, de cassinos e castelos...?
Postura independente de Flor através dos seus dons culinários: ?...Afinal Vadinho não era nenhum celerado, nenhum facínora, foragido da justiça ou cangaceiro do grupo de Lampião; nem ela, Flor, tinha quinze anos, inocente de tudo, sem nada saber da vida. E as despesas da casa não era Flor quem as assegurava, pagando aluguel e comida?...? Sobre os costumes da época com relação à viuvez: ?...Nos primeiros tempos de viuvez, tempos de nojo, de luto fechado, permaneceu dona Flor em preto e em silêncio, numa espécie de devaneio, nem sonho nem pesadelo, entre o crescente murmúrio das comadres e as memórias dos sete anos de casamento... Ao cumprir seis meses de viúva, dona Flor aliviou o luto até então fechado em nojo, obrigando-a, na rua ou em casa, a negros vestidos sem decote. Única nuance nessa negritude: as meias cor de fumo...?
O casamento com Teodoro: ?...Quando tivera início o interesse do farmacêutico, ninguém sabe; não é fácil determinar hora e minuto exatos para o começo do amor, sobretudo daquele que é o definitivo amor de um homem, o amor de sua vida, dilacerante e fatal, independente do relógio e do almanaque. Em dia de confidências, tempos depois, doutor Teodoro confessou a dona Flor, com certo acanhamento risonho, admirá-la de há muito, de antes da viuvez... Teve assim o segundo casamento de dona Flor quanto faltou no primeiro; regido, a rogo dos noivos, por dona Norma, com proficiência e escrúpulo, viu-se cada coisa em seu lugar, na devida hora, tudo de boa qualidade e por preço acessível, tendo ela contado para tal sucesso com a ajuda entusiasta da vizinhança em peso... Era meu querido para cá e minha querida para lá, com afeto e urbanidade, sendo doutor Teodoro de opinião que o trato gentil e a cortesia são complementos do amor, imprescindíveis. Jamais se dirigiu à esposa sem atenção afetuosa, esperando dela a mesma afável polidez de tratamento... A rua seguia de perto os passos de dona Flor: seus vestidos, suas relações de alta, a nova ordenação de sua vida, com visitas, passeios e cinemas, e o próximo pleito eleitoral na Sociedade de Farmácia. Mas, sobretudo, empolgou-se a vizinhança com a música, tema palpitante trazido à baila quase ao mesmo tempo pelo lauto ensaio da orquestra de amadores...?
O aparecimento do espírito de Vadinho: ?...No leito de ferro, nu como dona Flor o vira na tarde daquele domingo de carnaval quando os homens do necrotério trouxeram o corpo e o entregaram, estava Vadinho deitado, a la godaça e sorrindo lhe acenou com a mão. Sorriu-lhe em resposta dona Flor, quem pode resistir à graça do perdido, àquela face de inocência e de cinismo, aos olhos de frete? Nem uma santa de igreja, quanto mais ela, dona Flor, simples criatura... Todas as tardes, dona Flor, terminada as tarefas quotidianas, e após o banho, envolta em perfume e talco, deitava-se no leito para uns minutos de repouso. Então, invariavelmente, Vadinho junto a ela se estendia e sobre as mais diversas coisas conversavam (e enquanto conversavam, lá ia ele derrubando bastiões, tomando-a contra seu peito, dobrando-lhe a vontade). Quando se dispunha a reclamar, ele a distraía falando dos lugares de onde viera, e dona Flor toda curiosa, cheia de perguntas, não tinha forças para proibições...?
Arrependimento pela macumba que ela encomenda para se livrar de Vadinho: ?...Pela primeira vez, dona Flor sentia Vadinho sem forças para agir, confuso e perdido. Onde sua flama, sua arrogância, sua picardia?... Lembrou-se dona Flor do ebó. Bem sua comadre Dionísia lhe avisara. Cabia-lhe toda a culpa, pois recorrera aos orixás e suplicara que levassem Vadinho de retorno à sua morte...?
Flor percebe que não consegue ficar sem Vadinho, chama de volta seu espírito para continuar seu lado, e a historia do livro termina numa cena dela com seus dois maridos: ?...Do braço do marido felizardo, sorri mansa dona Flor: ah!, essa mania de Vadinho ir pela rua a lhe tocar os peitos e os quadris, esvoaçando em torno dela como se fosse a brisa da manhã. Da manhã lavada de domingo, onde passeia dona Flor, feliz de sua vida, satisfeita de seus dois amores...?
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Nathalia 18/10/2023

Dona Flor e seus dois maridos é a primeira obra que leio de Jorge Amado. Resolvi começar a leitura depois de visitar a Bahia e me encantar com o pouco que eu vi. O estilo de escrita de Jorge Amado se mostra nesse livro como leve, divertido e temperado - nada insosso - ao mesmo tempo que pontua questões culturais, sociais e econômicas da Bahia (e do Brasil) retratada por ele.
As personagens parecem ter vida própria e seguir seu próprio curso ao longo do livro. São personagens de personalidade forte, mas ainda assim complexas e carregadas de conflitos e dilemas - não são personagens planas ou simples. São personagens vivas. Dona Flor me cativou de maneira especial por ser uma mulher que, apesar dos conflitos entre o que deseja e o que a sociedade lhe diz, não pode deixar os outros decidirem o que ela faz da sua vida.
Acho que a escrita de Jorge Amado, e em especial Dona Flor, fizeram um espaço em mim, algo que me mudou pra sempre. Uma grande obra e uma leitura cheia de brasilidade que vale muito a pena.
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Bruna3594 15/10/2023

OBRA-PRIMA!
ICÔNICO, MEMORÁVEL E ATEMPORAL! Definitivamente uma das melhores histórias que tive a oportunidade de ler esse ano. TA NO TOP5 COM CERTEZA.

A leitura é muito delicinha!!!! O Jorginho tem uma escrita tão linda, tão envolvente que fui levada para um plano totalmente diferente, viajei mesmo na história, senti o sabor da comida da Dona Flor, senti o cheiro, senti os desejos. Eu amei! É uma obra cheia de humor, com intrigas e muito prazer. PERFEITA!

¡LEIAM! ?
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Rayray 15/10/2023

?meu deus esse é o meu livro preferido do Jorge Amado? -eu dizendo isso pra literalmente todos os livros do Jorge Amado.
Mas sério, gosto tanto quando ele mistura fantasia e realidade.
Uma mulher com preconceitos pequenos burgueses que enfrenta seus atrasos ficando com o fantasma do marido morto e o atual vivo.
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EvaíOliveira 08/10/2023

Um dos romances mais populares de Jorge Amado, levado com êxito ao cinema, ao teatro e à televisão, Dona Flor e seus dois maridos conta a história de Florípedes Paiva, que conhece em seus dois casamentos a dupla face do amor: com o boêmio Vadinho, Flor vive a paixão avassaladora, o erotismo febril, o ciúme que corrói. Com o farmacêutico Teodoro, com quem se casa depois da morte do primeiro marido, encontra a paz doméstica, a segurança material, o amor metódico. Um dia, porém, Vadinho retorna sob a forma de um fantasma capaz de proporcionar de novo à protagonista o êxtase dos embates eróticos. Por obra da fantasia literária de Jorge Amado e da intervenção das entidades do candomblé, Flor consegue conciliar no amor o fogo e a calmaria, a aventura e a segurança, a paixão e a gentileza. Lançada em 1966, esta narrativa ousada e exuberante, plena de humor e ironia, é uma saborosa crônica de costumes da Bahia da primeira metade do século XX e um retrato inventivo das ambigüidades que marcam o Brasil.
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Mari M. 01/10/2023

Juro que achei que seria melhor
A escrita de Jorge me encanta, sempre me encantou. Porém nesse volume me senti dando voltas e voltas sem chegar a lugar algum. Um excesso de descrições que parecia que não acabava e que o autor ganhava por página publicada. Se não tivesse a metade dessas narrativas enfadonhas, creio que seria muito melhor. Mas Jorge sendo Jorge, mesmo desta forma, o cheiro do dendê e do camarão seco invadem os sentidos e somos transportados a uma Bahia mística, que tanto querem esconder sem sucesso.
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blun_nanda 27/08/2023

Vale a pena?
Antes eu já conhecia a história e por isso quando li não obtive o baque do prazer da leitura.
Jorge Amado é simplesmente um ótimo autor que trás ao meio do livro a imersão de um sentimento da Dona Flor em toda a história. Se ela está triste, você fica aquela parte do livro revoltado com os pensamentos dela, quando ela está desconfiada, você já olha atenta a toda as próximas páginas. Mas o autor é SUPER descritivo, então é uma leitura cansativa o que me fez cansar muitas vezes e mesmo assim, apreciar o livro e o modo de escrita.
Eu nunca poderia deixar de falar da representação dos orixás no livro, é lindo demais. A descrição da briga dos orixás, as imagens postas nessa versão do livro são simplesmente as coisas mais lindas.
Respondendo a pergunta inicial, vale a pena ler sim.
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Reccanello 17/08/2023

Tem gosto de mel e pimenta, e de gengibre…
Primeiro, uma curiosidade e um orgulho: conquanto não seja um dos poucos que foram assinados pelo autor, eu tenho um exemplar da primeira edição deste livro. Nele, que é uma das mais icônicas e fascinantes obras da literatura brasileira, o autor Jorge Amado mergulha o leitor na vida da protagonista Florípedes, uma mulher vivaz e sensual, enquanto enfrenta os desafios do amor, da paixão, das forças dos orixás e das complexidades culturais na Bahia dos anos 1940.
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Ambientando sua história no rico contexto histórico e social da Salvador da década de 1940, e sempre um atento observador de sua sociedade, Jorge Amado captura com maestria todas as transformações pelas quais o país passava na época com a constante urbanização e a crescente influência da cultura global, inserindo-as habilidosamente na narrativa, ao mesmo tempo em que mantém a atmosfera vibrante e colorida da Bahia, retratando seus detalhes mais picantes e transportando o leitor para ruas movimentadas, mercados exóticos e terreiros cujos rituais místicos permeiam a vida cotidiana. Misticismo este refletido na própria trama da obra, que gira em torno do triângulo amoroso incomum entre Dona Flor, seu falecido marido Vadinho e o atual marido Teodoro. Além do fato de um estar vivo enquanto o outro não passar de um defunto, o contraste entre os dois homens é marcante: Vadinho é um hedonista impulsivo e imerso nas alegrias terrenas (eufemismos para não dizer que ele era um malandro, boêmio, alcoólatra, viciado em jogo e mulherengo), enquanto Teodoro é estável, metódico, respeitável e dedicado à carreira de farmacêutico. Mais que adicionar pitadas de humor à complexa relação de Dona Flor com seus dois maridos, e aliadas ao genuíno amor que sentem uns pelos outros, essas discrepâncias criam uma atmosfera de sensualidade e reflexão sobre as escolhas que as pessoas fazem em suas vidas amorosas.
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De forma muito vívida, o autor descreve a vida noturna boêmia dos cassinos, dos prostíbulos e dos bares da cidade, e toda a diversidade de experiências que a Bahia tinha a oferecer na época ganha vida nas páginas do livro. Tanto ricas quanto pobres, as famílias dos muitos personagens são retratadas com uma autenticidade marcante, bem como seus segredos, conflitos e alegrias, proporcionando um vislumbre das relações sociais e emocionais da época. Os hábitos alimentares e musicais da população são igualmente evidenciados na narrativa, porquanto sejam parte integrante da cultura, das interações sociais e da própria identidade baiana. Esta também é destacada pelo papel central que as religiões de matriz africana desempenham na obra, com seu sincretismo marcante abordado com sensibilidade e respeito. Por último, mas não menos importante, o livro também destaca os valores morais da época, expondo tanto as crenças quanto os preconceitos da sociedade, em que a rígida e hipócrita moralidade padrão convive tranquilamente com uma vivacidade e sensualidade latentes, revelando as complexidades das normas sociais da época.
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Enfim, e por combinar elementos históricos, sociais e culturais com uma narrativa envolvente e personagens cativantes, "Dona Flor e seus Dois Maridos" é uma obra-prima literária que nos convida a explorar as nuances da sociedade baiana e a riqueza espiritual de suas crenças. Através deste livro, Jorge Amado permanece como um mestre em capturar a essência da Bahia e da alma brasileira.

site: https://www.instagram.com/p/CwEBvp0AIyo/?img_index=1
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Keilizie.Santaroza 08/08/2023

Pra mim, superstimado
Mais um livro de Jorge Amado que não me agrada, to achando que realmente a escrita do autor não tem a ver comigo. A história não é ruim, a escrita é facil de compreender, mas sei lá, não vai !!
Alê | @alexandrejjr 25/09/2023minha estante
O que te incomodou na leitura? O enredo? As personagens?




Marcelo217 31/07/2023

Peculiar(!)
Mais um Jorge Amado pra conta e cada vez me impressiono com a qualidade das obras que ele produziu.

O título e a história já fazem parte do imaginário coletivo do Brasill, logo é muito dificil não saber do que se trata. Tive a sorte de nunca ter me aprofundado na história e acabei lendo quase sem spoilers. A história retrata uma sociedade muito menos emblemática do que é feito em Gabriela, cravo e canela. Os personagens são mais comuns e, por causa disso, o enredo se desenvolve de uma forma mais natural. Uma relato popular de influência da cultura soteropolitana sem ressalvas ou preconceitos.

O ritmo é bem dinâmico. Há muitos personagens e a história vai sendo construida muitas vezes fora do núcleo central da história. Os personagens são cheios de personalidade (característica do autor).Dona Flor vive os dois extremos da sociedade com Vadinho e Teodoro e o autor sabe muito bem transitar por ambos os lados. Através de personalidades opostas, dona Flor se divide e se adapta para conviver com dois lados antagônicos masculinos.

Assim como aconteceu em Gabriela(boas cozinheiras), Jorge Amado traz um protagonismo morno, contido e subordinado da personagem principal. Aqui Dona Flor é quase apagada pela figura de Vadinho que, por apresentar tantas camadas, domina a narrativa ao meu ver. Ao retratar um cotidiano social de meados do século XX, a sociedade e os personagens se comportam de acordo com o padrão patriarcal e conservador.

Há um grande espaço para a cultura popular e o autor não faz tantas críticas sociais direcionadas (como em Gabriela e Capitães da Areia). Ao invés disso percebi que o autor traz mais alusão à pessoas reais em características e em própria menção na história. É explorado o universo da cultura negra, religiões de matriz africana e a seus costumes. A trama traz o sobrenatural através desse viés de uma forma muito bem contextualizada que não faz o enredo do final destoar do restante da história.

Pelo próprio título já remeter um acontecimento, a história se desenvolve de forma muito intuitiva, o que torna muitas vezes os fatos previsíveis e alguns pontos da história muito alongados pela dedução óbvia. O discurso narrativo está sempre em contato com o leitor quase como uma história contada informalmente.

O autor mostra o quão articulado é e como ele consegue passear pela linguagem erudita e popular, sem parecer pedante ou forçado. É uma narrativa polida, com um erotismo polido (também característico dele) na medida certa.

O livro é rico em informações e contextos de uma sociedade que se desenvolvia pelos tabus, porém o autor adiciona tudo com muita naturalidade, como uma vida cotidiana. Os personagens são os coadjuvantes de uma história que se sobressai aos seus próprios componentes. Jorge Amado nos leva por uma realidade fiel, com muitos conflitos sociais, conjugais e pessoais que convencem e fazem o leitor testemunhar os bastidores da vida de pessoas comuns.
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Clio0 25/07/2023

Quer começar uma discussão? Basta soltar no meio de um bando de acadêmicos a famosa frase: A melhor obra de Jorge Amado foi... e a briga vai começar. É claro, com Capitães de Areia e sua crítica social sendo presença obrigatória no vestibular e Tieta do Agreste com toda a sua politicagem e já tendo mil adaptações, poucos considerariam Dona Flor e Seus Dois maridos. Grande injustiça.

As mulheres na obra do autor refletem, como não podia deixar de ser, uma visão masculina, assim são eróticas, misteriosas e, sobretudo, fortes. Hoje em dia tende-se a argumentar que o retrato da figura feminina em qualquer mídia mostra-se como uma caricatura da fêmea submissa ou da mulher-fera, mas o baiano prefere caracterizar sua heroína como uma mulher típica dos anos sessenta...

Flor é doce, sensual e pragmática. Ao invés de sofrer enfrentado a sociedade, ela burla-a. Perde a virgindade com o primeiro namorado, casa-se com Vadinho - um vadio por quem é perdidamente apaixonada - , recasa-se com alguém capaz de lhe dar segurança financeira, considera o adultério ao se ver insatisfeita sexualmente e, finalmente, abraça a bigamia como seu direito. Uso o termo aqui na sua forma mais informal, é preciso ler o livro para entender por quê.

Jorge Amado, ao seu bel prazer, salpica os capítulos com receitas culinárias, piadas sociais e vez por outra, com os melindres e dúvidas morais de Flor que vão caindo por terra com os ataques incessantes de Vadinho. O fato de que o personagem é um fantasma é apenas a cereja do bolo.

É um texto leve, engraçado, cheirando a maresia e com gosto de azeite de dendê.

Recomendo.
preta velha 25/07/2023minha estante
já li este livro quatro vezes e o meu favorito dele é tieta, que li cinco.


Juliana-- 26/07/2023minha estante
Preciso ler este depois desta resenha, valeu!


Caroline1402 31/07/2023minha estante
Que resenha maravilhosa!




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