otxjunior 12/11/2014A Confissão de Lúcio, Mário de Sá-CarneiroO livro começa com o personagem do título justificando seu relato. Lúcio sente a necessidade de narrar seu caso, não tanto como uma confissão dos motivos de seus atos, mas quase que para se convencer da realidade dos acontecimentos que resultaram em sua prisão por dez anos. Pois a história é envolta em estranheza digna dos contos mais sombrios de Edgar Alan Poe, por exemplo.
Inicialmente, no entanto, esse clima é dispersado pelas luzes de Paris da Belle Époque. Período e lugar pelos quais o autor é fascinado e empresta sua experiência ao protagonista. Portanto, Lúcio, escritor promissor, muda-se de Portugal para França. É quando o romance concentra-se nas relações dele na sociedade francesa do início do século passado. Vale notar a descrição de uma festa para a qual Lúcio foi convidado, que estabelece o que foi o fervor de ideias originais desse período, os novos valores morais e estéticos das rodas de filósofos e artistas da época. Na mesma medida, observamos a melancolia, principalmente entre os poetas, para quem sentimentos em geral já não bastavam e procuravam incessantemente outra fonte para seu prazer ou algo que os aproximasse mais da Verdade. Essa angústia dos personagens é compartilhada por Mário de Sá-Carneiro, que poucos anos depois do lançamento desse livro, ainda muito jovem, cometeu suicídio. Mais conhecido por suas poesias, Sá-Carneiro claramente foi autobiográfico nessa obra de vanguarda do modernismo português. O relacionamento central nesse livro, por exemplo, pode ser lido como uma alegoria da homossexualidade reprimida do autor.
Ainda em harmonia com sua prosa poética, A Confissão de Lúcio termina com uma cena que impacta e que dificilmente, apesar da linguagem, reconheceria como algo escrito há mais de cem anos.