MiCandeloro 18/04/2015
Um relato triste, mas emocionante, sobre o que o medo pode fazer com as nossas vidas!
Fazia apenas algumas semanas desde que Piddy havia sido transferida para um novo colégio. Na primeira vez em que foi ao refeitório, já se deu conta da divisão interna de grupos de estudantes e percebeu que não se encaixava em nenhum deles, muito menos no das latinas, do qual deveria fazer parte, devido a sua descendência, todavia, elas não foram nem um pouco amigáveis na sua tentativa de aproximação.
Por ainda não conhecer quase ninguém, ficou completamente surpresa quando, numa certa manhã, foi abordada por uma menina que disse: "Yaqui Delgado quer quebrar a sua cara." Mas afinal, quem diabos era Yaqui?
Piddy descobriu rapidamente, por meio da fofoqueira de plantão, Darlene Jackson, tudo sobre Yaqui. A valentona já tinha sido suspensa por se meter em várias brigas e odiava Piddy! Yaqui dizia pelos cantos que Piddy se achava demais para quem recém tinha chegado à escola e que rebolava muito. Chamou-a até de cadela. Mas Piddy, a princípio, não estava preocupada, afinal, nem conhecia a tal Yaqui. Entretanto, de acordo com Darlene, ela devia sim ficar com medo e, segundo a amiga, era melhor que nem desse as caras no colégio por um tempo.
"Não consigo tirar Yaqui Delgado da cabeça. Tantas garotas rebolam... Como alguém pode odiar você por isso? É loucura."
Piddy não queria fugir, mas precisava descobrir quem era Yaqui fisicamente. Armada de um excelente plano, ela começou a investigar e ir atrás de peças soltas na tentativa de desvendar a sua algoz e se proteger. Porém, para a sua infelicidade, se viu em meio a outra confusão sem nem saber por quê. Boatos começaram a rolar de que Piddy estava interessada em Alfredo, e pasmem, Alfredo era o namorado de Yaqui. Boa coisa não podia rolar a partir daí, né?!
"O que constitui “estar a fim” de alguém? O que constitui “ficar de conversa”? Quem é o culpado pelo meu fracasso social?"
Estudar no Daniel Jones se tornou uma enorme tortura para Piddy. A cada vez que ela adentrava os portões do colégio, sentia a boca seca e um vazio tomava conta do seu ser. O cérebro congelava e ela não conseguia se concentrar em nenhuma aula, nenhum assunto, seu único esforço era direcionado para Yaqui e para como poderia se livrar dela.
Piddy terá que decidir, de uma vez por todas, se enfrenta a situação ou se deixa se abater pelo medo.
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
***
Conheci Yaqui Delgado quer quebrar a sua cara na 4ª Turnê da Editora Intrínseca. Carol falou tão bem do livro, que fiquei louca de vontade de lê-lo. Assim que comecei, fui fisgada pela escrita em primeira pessoa da autora, sincera, humana e muito verossímil. Quando dei por mim, já tinha percorrido todas as páginas da obra com o coração na mão e lágrimas nos olhos.
Yaqui Delgado quer quebrar a sua cara não é nada parecido com o que imaginei. Pensei que fosse encontrar uma história divertida e leve, mas não. A história de Piddy é muito triste e tocou meu coração, pois me lembrou de todos os anos em que fui vítima de bullying no colégio ou em que presenciei atos animalescos entre os estudantes. É chocante pensar no que o ambiente escolar se transformou e no quanto somos vulneráveis e incapazes de resolver tais infortúnios, na maioria dos casos.
Piddy é uma garota de quase dezesseis anos, que está enfrentando uma mudança bem radical com a qual não sabe lidar. Sua mãe, Claudia, decidiu se mudar de bairro e, com isso, Piddy foi forçada a trocar de colégio. Foi quando seus problemas começaram, já que Yaqui passou a implicar gratuitamente com a garota, ameaçando-a e fazendo da sua vida um inferno. Se isso já não era confusão o suficiente, Piddy ainda tinha que lidar com o mau humor da mãe, a saudade que sentia da melhor amiga e o vazio no peito que tinha em razão do pai que nunca conheceu. Naturalmente, situações muito difíceis para uma adolescente suportar, ainda mais sozinha.
A garota se recusava a pedir ajuda e, calada, deixou o medo crescer dentro de si, comprometendo a sua sanidade mental. Confesso, fiquei muito frustrada durante boa parte da leitura, me questionando: Por que a Piddy não conta tudo para alguém? Por que não enfrenta Yaqui de uma vez? Por que não toma uma atitude ao invés de se fazer de vítima e se esconder do mundo?
Mas, ao mesmo tempo, eu também tinha as respostas: o medo é um sentimento traiçoeiro. Por vezes, pode nos preservar de situações de perigo, porém, em outras, nos paralisa, nos incapacita e nos faz temer, muitas vezes, algo imaginário, na medida em que senti-lo se torna pior do que enfrentar as consequências, e Piddy descobriu isso da pior maneira possível.
"Às vezes os erros podem estragar tudo de forma irreversível, como o sr. Nocera sempre alerta: faça uma besteira no começo da solução de um problema e sua resposta inteira vai sair errada. O mundo também dá um “meio certo”, ou é só na matemática?, eu me pergunto."
Enquanto lia o livro também me perguntei: Que mensagem podemos passar para os jovens a respeito do bullying, principalmente para aqueles que sofrem nas mãos dos valentões? Como podemos modificar tal quadro? Para essas perguntas, infelizmente, não tenho a solução. Meg Medina deixa claro que nosso futuro só depende das nossas escolhas e da maneira que nos posicionamos frente às dificuldades. Entretanto, sabemos que nem todos têm coragem de reagir e que, algumas vezes, ou implodem ou estouram de vez antes de verem a luz no fim do túnel. É muito triste pensar que tantos jovens têm as suas vidas marcadas e traumatizadas pela ruindade humana que começa desde cedo e que é difícil de ser controlada ou corrigida.
Todos temos uma Yaqui nas nossas vidas, mas também temos a liberdade de escolher o que devemos fazer com ela. Não deixem de lutar e de acreditar que as coisas podem melhorar. Quando se derem conta, perceberão que seus problemas ficaram para trás e que se tornaram apenas lembranças ruins. Vocês podem sempre dar a volta por cima, só depende de vocês!
"Ando pensando ultimamente que crescer é como passar por portas de vidro que só se abrem em uma direção; você consegue ver de onde veio, mas não pode voltar."
Yaqui Delgado quer quebrar a sua cara é leitura obrigatória para todos os jovens que estão perdidos, sem rumo na vida, angustiados, insatisfeitos ou com problemas no colégio. Tenho certeza de que vão se identificar com Piddy e talvez encontrem forças na história dela para mudarem as suas. Leiam!
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