Maria - Blog Pétalas de Liberdade
19/07/2017Resenha para o blog Pétalas de Liberdade Nossa narradora é Piedad Sanchez, uma garota de quinze, quase dezesseis anos, que morava nos Estados Unidos e era filha de uma mãe cubana. Ela não conhecia o pai, assunto proibido em casa. Tinha a exuberante Lila (amiga de sua mãe, ainda que a personalidade das duas fosse extremamente diferente) como uma grande amiga, além da tímida Mitzi, uma antiga vizinha que havia se mudado recentemente. Eis que Piddy (apelido de Piedad) e a mãe também se mudariam por causa das condições precárias do antigo prédio. Com uma casa nova, Piddy também teria que mudar para outra escola: a Daniel Jones, e seria lá que o tormento começaria.
Na escola nova, Piddy receberia um recado dizendo que Yaqui Delgado queria quebrar a cara dela. Mas quem seria Yaqui e por qual motivo ela estaria brava com Piddy, se a garota nem sabia como era o rosto dessa tal de Yaqui?
Piddy era sonhadora, ia bem nos estudos, gostava de dançar com Lila, até que se tornou alvo da maldade inexplicável de Yaqui, e foi tomada por um medo do qual não conseguia se livrar. Piddy não queria mais ir na escola, tinha vergonha do seu corpo e não conseguia confiar em ninguém para contar o que estava se passando na Daniel Jones: as ameaças constantes que estava recebendo e que abalavam seu psicológico. Piddy se revoltava com a mãe, que não sabia lidar direito com a filha deixando de ser criança, além da curiosidade que sentia por saber mais sobre o pai. Se revoltava com Mitzi que estava seguindo sua vida, fazendo novas amizades e mudando. E se revoltava também com os próprios colegas que tentavam ajudá-la, mas que também eram vítimas de bullying na escola.
"Abro a água quente, tiro a roupa e fico me olhando no espelho por bastante tempo, um olhar atento e duro. Odeio minhas formas e curvas, que só me causaram problema até hoje. Se ter um corpo bonito é tão legal, por que fez da minha vida um inferno." (página 164)
Onde essa história iria parar? Piddy conseguiria denunciar Yaqui? Isso adiantaria alguma coisa? Ou seria tarde demais e a vida da nossa narradora estaria destruída para sempre? Haveria um futuro para a garota fascinada por elefantes e que sonhava em trabalhar com animais?
"Minhas mãos estão pesadas e úmidas. O relógio informa que faltam só sete minutos para bater o sinal: quase hora de ir para os corredores de novo, onde Yaqui pode estar à espreita." (página 41)
"Yaqui Delgado quer quebrar a sua cara" é um livro curto em número de páginas, mas com personagens muito cativantes. É essencialmente uma história sobre bullying, sobre como o bullying pode destruir a vida de uma pessoa. É impossível ver Piddy sendo destruída e não ter vontade de fazer alguma coisa por ela, para ajudá-la. Mas fazer o quê?
"Ano passado? Nem lembro direito. Era quando eu conseguia dormir à noite e sonhava com meus elefantes e com o Saara. Sentia em meus ossos o ritmo dos velhos discos de salsa. Ria com Mitzi e confabulava com ela sobre o que vestir. Agustín Sanchez era meu pai misterioso, uma figura sobre a qual eu queria saber mais. Agora não consigo andar sem baixar os olhos nem caminhar normalmente. Não tenho amigos. Nem meu próprio pai quis me conhecer. Se existe alguma forma de conseguir recuperar aquela garota sorridente, não estou conseguindo enxergar." (página 247)
Acho que foram diversos fatores que contribuíram para que a protagonista conseguisse encontrar uma saída. Vou mencionar um que me tocou em especial: a antiga família vizinha de Piddy, pai, mãe e Joey, um garoto quase da idade dela. O pai de Joey agredia fisicamente a esposa, mas sempre que a polícia era chamada, a mulher dizia que estava tudo bem e dispensava os policiais. Até que um dia ela não pode falar, apanhou tanto que ficou desacordada. Não pode mentir para os policiais. E o marido finalmente foi preso. Piddy esperaria que Yaqui fosse tão longe que não tivesse mais volta? Eu acredito que quanto antes um problema for resolvido, melhor, menos estrago ele pode causar. Temos que interromper o ciclo da violência! Se Piddy tivesse parado as investidas de Yaqui logo no início como quis fazer, se tivesse buscado ajuda logo na primeira vez, enquanto não estava tão paralisada pelo medo, talvez a situação não tivesse se tornado tão extrema.
"-Ela nem acha que você é uma pessoa. Na verdade, essa menina não acha que nem ela mesma é uma pessoa. Você é só a garota que cruzou o caminho dela. Não é pessoal. É como as coisas são onde ela mora. Ou você bate, ou você apanha.
- E como é que você sabe tudo isso sobre Yaqui Delgado?
Lila olha para mim e balança a cabeça.
- Porque sempre tem uma Yaqui Delgado em toda escola, em todo lugar do mundo. Eu também esbarrei com algumas malditas no meu caminho." (página 231)
A Intrínseca fez um ótimo trabalho de edição: capa bonita e nesse tom de azul metalizado, páginas amareladas, bom tamanho de letras, margens e espaçamento, e boa revisão.
Enfim, fica a sugestão de leitura para quem procura um livro sobre o estrago que o bullying pode causar, ainda mais em adolescentes que estão tentando aceitar as mudanças no corpo e a chegada da vida adulta.
"Sinto como se por toda parte houvesse alguém fazendo bullying comigo ou com todos os outros." (página 67)
site:
http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2017/07/resenha-premiada-livro-yaqui-delgado.html