Taty 04/05/2023
Você sempre estará em casa quando mergulhar no seu coração
Nota estritamente pessoal - contém spoilers:
A mocinha é uma mulher à frente do seu tempo, que possui inteligência, espírito livre, vivacidade, energia e muita força. Só peca na ingenuidade, para as questões da vida. O que é compreensível, já que no início da trama, a jovem possui dezessete anos. No fim, acho que faltou um pouco de amor próprio para nossa mocinha. Ela se reinventou, superou todas as dores possíveis, sofreu nas mãos de homens em quem confiou, deu a volta por cima, para poder voltar àquilo que lhe feriu em nome do "amor".
O duque de Belmont é o famoso libertino, poderoso e atraente. Seu comportamento ao longo da trama vai se modificando e vemos um homem extremamente obsessivo e que não consegue de forma alguma respeitar as vontades da mocinha, principalmente quando esta dizia "não". Ele era inconveniente, bruto, possessivo, deveras ciumento e agressivo.
"A mataria? A espancaria? Meu Deus o que ele iria fazer? Sentiu as costas baterem na parede, olhou para porta a alguns passos de distância.
? Você não vai sair agora ? o duque disse. Mas aquilo não era voz. Não a voz humana dele. Era mais um rosnado.
? Eu vim até aqui para lhe dizer a verdade, toda a verdade. ? Queria tentar trazê-lo de volta a razão. ? Eu posso ter matado um homem hoje e realmente ? as mãos de Belmont fecharam-se em sua garganta ? não quero escutar nada de você. ? o Ele passou a apertar o seu pescoço. ? Eu podia matá-la também, sabia? Ela já não conseguia respirar direito."
Houve uma falha gigantesca na comunicação entre o casal. Muitos problemas seriam minimizados caso os dois sentassem para dialogar - ele principalmente.
Steve foi um personagem secundário que gostei bastante. Pena que não teve mais notoriedade. Ele ajudou muito a mocinha desde à infância. Ampliando seu conhecimento e visão de mundo. Sendo um ombro amigo nos momentos difíceis.
Apesar de se conter por conta dos padrões da época, a Sra. Taylor foi uma personagem também apreciada por mim. Sempre cuidando da mocinha, a alertando dos perigos da vida, a amparando nos momentos delicados e lhe servindo como uma mãe.
"Você sempre estará em casa quando mergulhar no seu coração".
Eu apreciaria a história de amor, caso o par romântico da mocinha não tivesse aquelas características tão odiosas. A história realmente tinha um potencial muito bom. Mas pecou quando nos deu um protagonista masculino tão desprezível. Talvez eu apenas não saiba separar a ficção da realidade, então, essas leituras certamente não são para mim. Já li obras de romances de época, mas nada dessa maneira. Claro, a falsa sensação de liberdade da mulher muitas vezes está atrelada à um casamento, mas há sempre um romance bondoso, paciente e respeitador. O duque não era nada disso, principalmente no quesito respeito em relação à mocinha. O que mexeu com os meus nervos.
Torci demais para que Arthur a visse sim, no sucesso, depois de ter dado a volta por cima. Realmente gostei de Kathe ter lhe explicado tudo o que aconteceu. Desde a vida na miséria, ao horror que ela passou com Rafael e tudo que se sucedeu. Mas apenas para mostrar-lhe que ele foi quem a julgou mal desde o início e o principal causador desses problemas. Queria vê-la o negando e saindo de cabeça erguida, seguindo a sua vida com aqueles que a amam de verdade e que estiveram com ela nos momentos mais delicados de sua vida - sem o duque.
Não vou mentir, me emocionei com algumas partes, mas nada relacionado ao romance de Kathe com Arthur, e sim com o quanto essa jovem é forte e destemida, tudo que teve que suportar e se manter de pé e como conseguiu perdoar àqueles que a feriu. Principalmente na cena com seu pai - mesmo eu reprovando o conde.
Foram horas de tortura lendo as partes finais do livro. Eu entendo que a autora quis ser o mais fiel possível ao perfil social da época, mas não consegui de forma alguma estimar as ações do personagem masculino. O sentimento de revolta se fez presente em mim. Temo não ler algo parecido por um bom tempo. Mas provavelmente, Babi já sabia dos riscos de colocar um personagem desse jeito, sendo assim, o livro divide muitas opiniões.
Devo acrescentar que a escrita da autora é primorosa, de uma sensibilidade e beleza, bem fluída. Gostei da riqueza de detalhes dos cenários. Acredito que a história como um todo, nos faz refletir. Não por suspirar pelo romance, mas traz essa reflexão para os tempos antigos. Como a mulher não tinha voz. Todas as consequências que sofria por não seguir os padrões. Tudo o que lhe era proibido fazer. Muito cru e visceral.
Acho que de todo modo, Kathelyn sofreu, mas com certeza deu a volta por cima. O infortúnio na vida da protagonista, acabou sendo um pontapé para sua evolução e liberdade. Ela sofreu deveras, claro, mas conseguiu se reerguer sem a ajuda de um casamento com um nobre. Foi livre, se sustentou sozinha e correu atrás dos seus sonhos. Foi exatamente o que admirei na personagem e o que me fez continuar.
O ponto alto da história, foi a vida da protagonista e tudo que ela passou, o que sofreu, em uma sociedade tão machista e preconceituosa. Que reduziam as mulheres à meros enfeites. Isso sim, é dolorido demais. Então, falando pela minha experiência pessoal, meu foco foi na trajetória da protagonista em meio à tantas adversidades. Foi ver um pássaro engaiolado tentando a liberdade.
Entrei em um conflito enorme com esse livro, porque mesmo odiando o desprezível protagonista masculino e reprovando a romantização de suas atitudes, gostei da força e história de Kathe.
Quatro estrelas, somente pela nossa estrela Kathe e sua trajetória.
"Deixamos de ver a beleza e singularidade das coisas só pelo fato de já termos alcançado-as. Que tolice."