mpin 20/08/2017
Muito superior às adaptações pra tela
Livro de Robert Ludlum que ganhou as telas do cinema. Narrativa vibrante, envolvente e que combina com harmonia uma história eletrizante com uma pormenorização cuidadosa dos lugares e da amnésia pela qual Jason Bourne passa. O filme, infelizmente, falha em captar com mais detalhes a dimensão psicológica de um homem com amnésia. Os personagens que cercam a busca de Bourne pela verdade ficaram unidimensionais demais na película.
Não quero bancar o chato que fica dizendo que o livro é melhor, mas preciso dizer algumas coisas. A personagem do médico, que não deve aparecer nem cinco minutos no filme, é muito mais interessante. E proporciona ao leitor uma descrição e imersão no estado de amnésia do personagem principal de forma brilhante. Se isso, por um lado, deixa o livro com um começo um pouco lento, deixa a história ainda mais recompensadora de se ler. E dá tempo de o leitor conhecer melhor o personagem cuja história está prestes a acompanhar. Ludlum parece ser obcecado por certos detalhes, e isso é um prato cheio para se entregar uma história envolvente contendo alguns elementos introdutórios que permitirão à personagem de Bourne crescer. Esta progressão deixa a história fascinante. E isso falta ao filme, infelizmente: neste, Bourne vai descobrindo a verdade como se não precisasse de ninguém, e o livro vai na direção oposta. Outro comentário a ser feito é sobre a Marie. No cinema, ela é dócil e passiva, uma personagem unidimensional feita apenas para agradar ao público masculino que consome filmes assim. Mas no livro, torna-se uma personagem interessante, com motivações próprias e contradições, e me evidencia como Hollywood corta várias cenas valiosas para forçar dentro de um filme de ação.
Não estou dizendo que um filme de ação seja cinema de segundo escalão. Mas ação é apenas um expediente (como cenas de sexo) para despertar emoções fortes no leitor e motivá-lo a acompanhar uma história até o final. E tudo o que Hollywood parece fazer aqui é deixar em primeiro plano um recurso que devia ser auxiliar, e não principal. Outra coisa que não gostei -- e isso saliento que é uma questão de gosto minha -- é que Hollywood decidiu atualizar a história. No livro, os eventos se passam nos anos 1970, contexto muito mais favorável ao clima de paranoia e espionagem da história. Por fim, digo que é leitura recomendadíssima. Por mais que as cenas de ação do livro me deixem um tanto desorientado, sem saber ao certo como visualmente aquilo seria, é história contada com cuidado, sem pressa, pra te prender na cadeira.